quarta-feira, setembro 10, 2008

Romance? IV


Merina havia lido as seguintes notas num livro no qual seu autor favorito escrevera antes de presenteá-lo. ( literatura era subversão da linguagem, feita de elipses, outra gramática?)

"Os velhos são perigosos: completamente indiferentes ao futuro. Entardeceres da vida, esses entardeceres da vida! A maior parte na pobreza, com tosse, encurvados, toxicômanos, bêbados, alguns até criminosos, quase todos não casados, quase todos sem filhos, quase todos no hospício, quase todos cegos, quase todos imitadores ou farsantes."

Taí, literatura servia pra alertar, recomendar, sugerir, ou melhor ainda, nota de rodapé ou crítica feita por autores escritores servia para isso, mas que fique bem claro, somente aquilo que fosse produzido por autores metido a críticos. A literatura, essa convenção histórica ou historicizada, talvez não servisse para nada, tampouco pudesse fazer alguma coisa.

Para o narrador, a literaturatal, tal qual a filosofia, seria apenas um instrumento discursivo, uma formulação discursiva que opera de maneira espectral pois está subssumida numa era neo-liberal. Com algumas dúvidas, algumas questões e meus problemas, tento resistir ao hedonismo e a essa filosofia do egoísmo utilitarista, pelos quais todos, inclusive eu e minhas personagens, estamos contaminados.

Talvez meu papel fosse defender a literatura, como sugeri uma vez em sala de aula; talvez não houvesse papel nenhum pra mim nessa história, porque afinal alguns dizem que a literatura verdaeira é sinônimo de resistência.

(em memória de Gabriel que deixa um grande vazio em nós e em sua mãe que sente sua falta)

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