sexta-feira, dezembro 18, 2020

"Se eu fosse eu"... e minhas impressões de leitura de um romance de Clarice Lispector

 


(...)"Ser-se o que se é, era grande demais e incontrolável."

Sobre Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres:


 É um romance de revelações, romance da graça, romence da iluminação, romance de epifanias, romance de encantamento, romance de alegria líquida, um romance mansamente feliz.

quarta-feira, dezembro 09, 2020

Faz de conta

 Faz de conta que éramos amantes.

segunda-feira, novembro 09, 2020

Sueños

 Sueño con una mesa y una silla

Sueño con Nicanor, Roberto y Juan

Sueño con un beso mojado de Alejandra

Sueño que estoy en una película de detectives perdidos

Sueño con el DF y sus avenidas, sus calles y cafés

Sueño que estoy en el metro

Sueño con mis amigos

Sueño con el abrazo y los senos de Paula

Sueño que soy un libro

Sueño con el olor y el cuello de Cristina

Sueño con la piel y las caderas de Renata

Sueño que soy Lucero en una esquina de Giotto

También sueño con los calzones amarillos y rojos de Judith.


quarta-feira, setembro 16, 2020

Alô alô...

Me proponho exercícios diários de escrita. Uma frase em cada linha. Mas a janela me atrapalha. Ana Cristina e Roberto Bolaño me impedem. A última rodada do Brasileirão tampouco ajuda. Por fim, as redes sociais e a sua falta. Tanto mar. Eu que me aguente comigo. 

sábado, julho 11, 2020

Chamadas anônimas

Em transe, mantenho os olhos abertos. ("A sabedoria consiste em manter os olhos abertos durante a caída")  Rasuras. Cacos. E experimentos. Porque viver apenas não basta, disse o poeta. Lapsos. Elipses. E silêncios. Ouvi vozes de mortos que não conhecia. Ignorei meu irmão. Não reconheci meu pai. A cidade, doída. Chovia. A vida, doída. Anoitecia. Poesia. Sugestões. E ilusões.
- O que você achou?
- Não está mal.

sábado, junho 06, 2020

João Pedro e Miguel
Nomes que caminham em direção ao esquecimento e a humanidade não deu certo como disse um suicida

quarta-feira, maio 20, 2020

Falarei nessa linguagem

“Falarei nessa linguagem sonâmbula que se eu estivesse acordada não seria linguagem.”

(A paixão segundo G.H. - Clarice Lispector)


Diástole & sístole da minha desordem. Meus pensamentos formam acidentes primordiais. Mulheres inenarráveis pululam, lampinhas. A noite tatuada em meus ossos - e minhas poetas preferidas dormem ao meu lado. Mulheres de cabeceira. Alejandra P. e Ana C.




terça-feira, maio 05, 2020

Pandemia, necropolítica e luto

Estamos afogados, ou melhor, estamos nos afogando no ano da graça de 2020. Sem água e sem graça, já são mais de 7 mil mortos só na banda de cá, da nossa pátria mãe gentil que espuma de ódio.  Sem gentileza somos transformados em números, os inumeráveis. Aqui e ali alguns poetas tentam salvar umas poucas vidas. Tentam domesticar a dor com o verbo, com o verso. Tentam fazer o luto. Outros poetas mais práticos e prosaicos fazem caridades. A mídia e muitos governantes dizem pra gente ficar em casa que estaremos ajudando. Fica, quem tem a geladeira cheia. Fica, quem tem água pra lavar as mãos. Fica, quem tem sorte. Muitos mascarados saem às ruas  para ganhar o pão.
  Sem alento nem suspiro, já são mais de 7 mil mortos. Faltam UTIs, faltam remédios, faltam respiradores artificiais. Faltam médicos e enfermeiros. Só não falta a polititíca da União e da Federação. Necropolítica vira conto de f adas por aqui.

Aceleram-se os enterros. Faltam caixões e faltam valas. Faltam despedidas e velórios. Mais de 7 mil histórias perdidas para sempre. E a hecatombe continua enquanto esperamos que a tal curva nomeada pelos tecnocratas se achate como num milagre e a quantidade de mortes diminua.

segunda-feira, maio 04, 2020

Ser humano não tem remédio

A humanidade não deu certo. As crianças mais inteligentes e travessas que conheci eram anjos. Os adultos mais generosos e sábios eram bruxos.

quinta-feira, abril 30, 2020

Leminski

(...) Literatura é um efeito mental.
Literatura é uma das coisas mais frágeis deste planeta.
Por isso, nas bibliotecas, existe, sempre, uma placa, exigindo: SILÊNCIO, como nos hospitais.

(Sem eu, sem tu, nem ele - Paulo Leminski)

quarta-feira, abril 29, 2020

minha única liberdade

..."No querer traer sin caos
     portátiles vocablos."
(Alejandra Pizarnik)



absurdo coração mascarado
na luz e de equilíbrio distante
tempestuoso apreço por melancolias
e mercadorias que interrompem 
a fluência de (um) existir

sexta-feira, abril 24, 2020

Sem esperança nem medo:



Maldita charada, maldito equilíbrio, distante e vil. Enigma ignominioso que se transforma no meu ser. Surto. Serei eu? Uma porção de mim? Ou se confunde com o outro, ou melhor, será meu mergulho no outro que me habita? Talvez. Talvez ser faltante. Talvez máquina desejante. Lacan e eu brigamos muito.

quarta-feira, abril 22, 2020

Um pequeno sonho

A vida breve. Um coração absurdo desafia seus demônios em domingos lentos. Reconhece e se ilumina no absoluto. Lá fora as pessoas estão se matando. Epidemias pouco democráticas.

terça-feira, abril 21, 2020

Alma pra pensar

Invadido por deuses de um panteão que eu desconheço. Cósmica visão das manhãs, das noites e dos entardeceres. Tudo maquinalmente elaborado. Caixas chinesas.

quarta-feira, abril 15, 2020

"Se morrer é memória cerrada."

Volto a Alejandra, com uma fé cega, como quem ora a uma divindade que caminha rumo ao esquecimento. Com uma fé cega leio e releio seus versos, sua sede,suas imagens e escuto sua língua na noite e na aurora. Seus desejos se tornam meus.

terça-feira, abril 14, 2020

drummondiando em espanhol

para Alejandra Pizarnik

Sueño sin lilas
la vida sin fluencia
mercadorías y melancolías
de existir
casi nunca
casi nadie

sábado, abril 11, 2020

retorno

sonhei com nosso tempo
não tinha fim
uma aurora permanente
uma proposta aliciante
e minha indecisão
escolha morosa
sem resposta
sem convicção
nem ser triste
tampouco feliz

ameaçador despertar

sexta-feira, abril 10, 2020

De existir

Para Ana C.


Desistir das covardias
desistir das dúvidas (temporárias)
desistir da fluência (diuturna)
de existir
nos versos dos outros


desistir da aventura bruta
de existir
desistir das saudades

e do ponto final

sábado, março 21, 2020

A vida breve

sonhos impermeáveis
velha ficção científica
velhas leituras
velhos signos
pequenos fracassos
uma sucessão de mal entendidos
todo mal entendido é suportável disse J. M. B.

terça-feira, março 10, 2020

avenida madrugada

entre o amor e os chinelos
lapsos
o silêncio sumindo por aí
nas calçadas passos oblíquos 
discussões bêbadas
autorreferenciais
cachorros rompem sincopando o silêncio

motos, carros e ônibus rompem rolando borrachas no asfalto

quinta-feira, março 05, 2020

detetive adormecido

passadas autorreferenciais
fragmentos superpostos
 cumprimentos olímpicos
rostos singulares 
sorrisos maneirísticos e ordinários 
conversas elementares e secretas
percebo fragmentos 
tal qual ascensorista meio curioso
às vezes, emérito mergulhador
às vezes, turista em férias

sábado, fevereiro 29, 2020

Bolaño Pizarnik Leminski Symborska



Despreparado para o acidente glorioso
Despreparado para a honra de viver
Às vezes sou mergulhador profissional
Às vezes, turista desajeitado

sábado, fevereiro 15, 2020

Bolaño

Entre verdades narrativas, pálpebras elétricas, poetas ridículos e heroicos vou colhendo as tramas e as líricas de um leitor onívoro e voraz. Amizade e violência, sexo e morte, estética e humor, pessimismo e lirismo se misturam em um tsunami de textos.

...
"entendo que as palavras essenciais,
as que me exprimem, estarão nessas folhas
que não sabem quem sou, não nas que 
escrevo."
Borges

terça-feira, fevereiro 11, 2020

Pizarnik e sua poética

Poema

Tú eliges el lugar de la herida
En donde hablamos nuestro silencio.
Tú haces de mi vida
esta cerimonia demasiado pura.

Alejandra Pizarnik - Los trabajos y las noches - 1965

Poética feita de corpo e de sede. Escrita feita de paciência e resistência. Artifício também feito de sangue, medo, sexo e memória da infância. Memória que incuba recordações e signos que às vezes se precipitam sobre o papel e novamente são trabalhados, (re)significados. Não é uma poética feita apenas de intelecto ou imaginação. Sua poética é do desalento, de sofrer e suportar, poesia ferida no corpo, poética de língua castrada. Sua poética é feita de ausências e palavras que não fazem o amor.  Uma poética de sombras e extraordinários silêncios. Poética de miradas que pulverizam nossos olhos de leitor.

segunda-feira, fevereiro 10, 2020

Silogismo barato;

Silogismo vulgar:

O romance é como o capital
Ambos vivem em crise
desde que eu nasci

Ou o capital é como o romance
Ambos vivem da crise
desde que eu nasci
(Ou desde 1916 segundo as más línguas)

E o capital segue construindo hidro-elétricas
E os pequeno-burgueses seguem escrevendo romances