quarta-feira, janeiro 24, 2024

Hey brothers, hey sisters!


 

Dizem que boas crônicas saem de assuntos que nos incomodam. Quando a gente está feliz a gente abraça alguém, por exemplo. Quando a gente está irritado a melhor coisa é sentar e escrever talvez. Talvez um bom texto apazigue um pouco nosso animo. Muitas coisas me irritam e eu poderia fazer uma lista delas: redes sociais, barulho e ruidos em geral, os programas sensacionalistas, o pseudo-jornalismo nas tvs abertas, as tvs em todas partes, show do Roberto Carlos no fim de ano, a discussão sobre uva passa, o ‘mundial’ do Palmeiras a lista é infinita. Mas o que mais me incomoda nessa época, no começo do ano é o BBB.


Acredito que muita gente boa já escreveu sobre esse fenômeno e sua audiência. Afinal de contas já são vinte e quatro variações sobre o mesmo tema no ar por quase um quarto de século e já deu tempo pra pensar a respeito do assunto. Aliás, há até gente séria que produziu belos ensaios e estudos sobre o Big Brother Brasil. Não li nehum mas tenho vontade de dar uma aprofundada no tema. Na verdade não sei ao certo o que me irrita mas essas linhas são uma tentativa de desvendar o mistério que me habita.


Gosto do carnaval, apesar de não ser folião, gosto de futebol, apesar de não  levar nehum jeito pro esporte, assisto algumas tele-novelas com meu pai, apesar de achá las em sua maioria meio óbvias. Gosto de filmes do Adam Sandler e do Jim Carey. Gosto de uva passa no arroz no fim de ano, já provei macarrão com feijão e gostei. Por tanto, não me considero na fila dos elitistas ou dos puristas quando o assunto é gosto ou entretenimento em geral. Mas o BBB é difícil de engolir. 


Já assisti um BBB inteiro. O da pandemia, o do Lucas Penteado e da Karol com K, o BBB 21. Mas não consigo entender como esse tipo de programa continua no ar por tanto tempo. Confesso que não gostei do que vi. Agora a razão pela qual o show me irrita é dificil de elaborar. Talvez sejam os discursos de auto ajuda de baixa qualidade dos anfitriões do programa. Talvez seja o sado masoquismo dos participantes. Talvez sejam seus efeitos na audiência. Talvez seja o que está por trás da competição e da própria ideia de reality show.


terça-feira, janeiro 23, 2024

A musa de Fellini e Caetano


 

Ontem fui ao CINESESC e assisti pela primeira vez um filme com Giulietta Masina. Quanto talento, ternura e beleza numa só atriz!

sábado, janeiro 20, 2024

Todo atrapalhado com as leituras



Estava terminando Las cosas que perdimos en el fuego mas por causa de um curso de crônicas voltei a ler Antonio Prata. Comecei a ler Por quem as panelas batem e emendei com Meio intelectual meio de esquerda, ou seja, estou intercalando as leituras dos livros do Prata e interrompi por dois dias já a leitura de Mariana Enriquez. Pra complicar um pouco mais hoje era aniversário de uma amiga e resolvi fazer uma visita. Ela tem um sebo. Saí de lá com Pergunte ao pó de John Fante. Estou no capítulo cinco. A leitura é uma delícia. O narrador bota em cheque a si mesmo e a literatura. Estou gostando muito por enquanto.

segunda-feira, janeiro 08, 2024

Las cosas que perdimos en el fuego - diário de leitura 1

 Estou mais ou menos na metade desse livro de contos. O problema é que comecei ele no ano passado, então já havia lido três contos e se não me falha a memória  esses  três primeiros não têm muito que ver com o sobrenatural. Ou melhor dito, possuem tons de horror e violência mas não possuem elementos do sobrenatural. Lembro que havia gostado das histórias e da maneira que a narradora  conta esses enredos.

Deveria voltar e ler do começo? Não sei. Mas é uma boa questão. O fato é que acabo de ler dois contos que possuem elementos sobrenaturais e aparições. Um se chama La casa de Adela e o outro Pablito clavó un clavito: una evocación del Petiso Orejudo. Não estou acostumado com esse tipo de narrativa mas elas não deixam de ser envolventes. Me deu vontade de voltar a ler os contos policiais e de horror  de Poe. 

sexta-feira, janeiro 05, 2024

Las cosas que perdimos en el fuego - diário de leitura


 


Encontrei esse livro de contos de Mariana Enriquez na rua DR. Tristán Navaja em Montevideo. Na livraria Bildung Libros atendido por um livreiro tímido e triste naquele inverno de 2023. Nessa mesma calle há uma série de livrarias de livros novos e usados e aos domingos tem uma feiira de livros numa de suas perpendiculares.

Pensei que estivesse fora de catálogo pois já havia procurado em umas quatro boas e grandes livrarias da cidade e não o encontrava. Tampouco encontrava Los perigos de fumar en la cama de 2009. A compilação de contos Las cosas que perdimos en el fuego é de 2016. A edição é de Anagrama. A gravura da capa é uma ilustração muito peculiar de Aleksandra Waliszewska (1976). É nítida a influência que vai de Giotto a De Chirico nos traços da polonesa. 

Ainda sobre a ilustração, no fundo há uma mesa, umas plantas em torno da mesa e um espelho mais ao fundo no centro da mesa. Os tons são bem sombrios, marrom, cinza e negro. No primeiro plano, há uma jovem mulher pálida e loira, usando um longo vestido vermelho, está sentada ao centro da mesa num banco. Ela está penteando o cabelo e olhando diretamente para nós, os observadores.

Os detalhes da gravura, o que mais chama atenção além do vestido vermelho em meio as outras cores mortas, são as pernas cruzadas que saem do vestido e são de cabra, peludas e com cascos. E como   ela esta´de costas para o espelho, do reflexo de sua cabeça no espelho vemos sair dois chifres.

O livro se abre com duas citações em inglês, uma de Emily Bronte extraída do Morro dos ventos uivantes, e acredito que a outra seja dois versos de Anne Sexton extraídos do poema For the Year of the Insane. E o que elas têm em comum? Não sei mas parece haver um diálogo netre elas: uma é um desejo, e a outra uma constatação, ou talvez uma pequena oração beirando o pagão.

I wish I were a girl again, half savage and hardy, and free. 

Emily Brontë, Wuthering Heights


I am in my own mind.

I am locked in the wrong house.

Anne Sexton, For the year of the insane

7

Terminei La pista de hielo. Apesar do romance girar em torno de um crime não dá pra evitar o humor em Roberto Bolaño. Seja pela visão de seus narradores, seja pelo insólito e patético de certas situações, há sempre uma risadinha no fim do túnel.

Rimos do demasiado humano que somos? - e que enxergamos refletidos em seus protagonistas? Rimos dos seus personagens à deriva? Rimos da intempérie que assola a quase todas suas criaturas? Rimos da loucura de alguns de seus personagens? Não sei. Mas um dos trunfos do autor chileno são as perguntas que sua obra nos suscita.

quarta-feira, janeiro 03, 2024

6

 Por se tratar de três perspectivas distintas às vezes parece que muitos detalhes das narrativas não são importanttes para o aspecto geral da trama. Ou seja, aparentemente o texto poderia ser mais curto e não atrapalharia o enredo e seu desenlace.

Assim como personagens secundárias parecem ter pouco peso na trama. Ao mesmo tempo, como num bom romance policial, as respostas estão nos detalhes e personagens secundárias podem muito bem virarem os principais suspeitos, ou os maiores protagonistas da história e seu desfecho.

Como disse anteriormente o texto prende por si só, mesmo com seus aparentes excessos. Também parece um exercício de escrita para as grandes obras que viriam depois como Os detetives selavagens ou seu romance mais pretensioso, 2666.

Ando com a leitura meio lenta por causa das festas de fim de ano talvez. Ou é a preguiça das férias. Estou na página 146 e até agora o crime ainda não ocorreu.

domingo, dezembro 31, 2023

5

 Mais ou menos na metade do romance, em meio uma aparente calmaria narrativa Remo Morán reintroduz o tema do assassinato. 

Me esqueci de dizer que as parcelas narrativas do romance estão divididas de maneira que cada personagem dá o nome a narrativa que lhe cabe seguida das primeiras palavras de seu testemunho. Assim, na página 121 de minha edição, o cabeçalho é iniciado dessa maneira: Remo Morán: Los días que precedieron el hallazgo del cadáver.

Desde aí nos damos conta que não será Núria, a jovem patinadora, quem morre na história. Remo Morán não chamaria de cadáver o corpo de sua amante. É interessante que desde o início do enredo tudo parecia apontar, segundo minhas expectativas como leitor, e acredito que as expectativas de muitos outros leitores, que a vítima seria a patinadora. Mas como num bom romance policial o mais óbvio não é sempre a melhor resposta para a trama. 

A partir daqui o texto adquire mais tons de romance policial e portanto as narrativas se tornam ainda mais magnetizadoras, ou melhor, ainda mais envolventes.

sábado, dezembro 30, 2023

4

 Mais do que a trama do romance, a maneira de narrar das personagens parece ser a grande força motriz do texto. Os narradores de Bolaño conseguem prender seus leitores aos assuntos mais banais. Talvez não seja a banalidade em si mas o olhar sobre o cotidiano e seus eventos, ou melhor, talvez a potencialização do cotidiano seja o grande trunfo de seus narradores, tal como faz Tchekhov em seus contos. 

Se bem que um assassinato num pequeno balneário da Costa Brava não seja o melhor exemplo de banalidade. Adicione-se ao evento as peculiaridades das personagens-narradoras, dois aspirantes a escritores e um burocrata de esquerda envolvido com o serviço social do local. Some-se também a singularidades de Nuria, Carmen e Caridad, as três personagens femininas principais da trama e o leitor pode saborear um pouco daquilo com o qual Bolaño é mestre em jogar: sonhos, mesquinhez, arte, violência, poesia e amizade; e fazer desses assuntos matéria de seus textos.


Ainda não é o Bolaño dos Detetives selvagens mas se pode enxergar seus traços incipientes por aqui.

sexta-feira, dezembro 29, 2023

3

 Os relatos de Enric Rosquelles estão marcados por seu interlocutor, ou melhor, sua audiência. Esse narrador-personagem se refere a vosotros como seus interlocutores em vários momentos para justificar seus atos e sua obsessão por Núria, a patinadora. É como se Rosquelles se dirigisse a uma audiência ou um grupo de jurados quase todo tempo.

Esse aspecto distingue sua voz dos outros dois personagens. Mas acredito que Remo Morán e Gaspar Heredia também posssuam suas respectivas vozes, ou seja, há algo que marca a singularidade de cada personagem apesar de ambos terem em comum a propensão as letras e ambos serem latino americanos. O difícil é precisar os aspectos que distinguem suas vozes. Aliás, me havia esquecido de mencionar, Enric é catalão, Remo é chileno e Gaspar mexicano.

quinta-feira, dezembro 28, 2023

2

As três narrativas parecem que vão contar os mesmos fatos de diferentes ângulos de perspectivas pois as três coincidem em elementos e personagens em comum agora. No início só Remo e Gaspar contavam os mesmos eventos. Por volta da página 50 os três narradores dão indicios de que suas histórias se entrecruzam na cidadezinha de Z. Mas apenas Remo Morán, o chileno, cita com todas as palavras mais de uma vez o evento do assassinato por enquanto. 


Também é interessante notar que os testemunhos estão sendo provocados por uma quarta personagem que seria o interlecultor desses diálogos talvez. É como  se os três personagens narradores estivessem sendo interrogados por um detetive, quem sabe, ou melhor ainda, como se o detetive fossemos nós os leitores desse romance polifônico. Há marcas no texto de que narradores estão sendo acossados a contar suas histórias.

terça-feira, dezembro 26, 2023

1

 A narrativa de La pista de hielo está dividida entre três testemunhos, ou seja, três personagens narradores que vivem na pequena cidade de Z, um balneário, próximo de Barcelona. Remo Morán, Gaspar Heredia e Enric Rosquelles são os respectivos narradores. Os testemunhos são intercalados do início ao fim nessa mesma ordem. O mais interessante é que desde a primeira página dos relatos sabemos que o climax do conflito ou da história é um assassinato.


Também dá pra perceber que pelo menos por enquanto dois dos três narradores estão contando a mesma história sobre distintos pontos de vista. Remo Morán e Gaspar Heredia eram amigos na Cidade do México e se reencontram na Espanha depois de jornadas diferentes pelo mundo. Remo Morán ao saber da chegada de Gaspar a Barcelona e da precariedade na qual vive seu colega o convida, por meio de uma amiga chilena em comum, a trabalhar uma temporada de primavera e verão no camping Stella Maris na cidadezinha de Z.



segunda-feira, dezembro 25, 2023

Diário de leituras

Terminei de ler El Tercer Reich de Bolaño. A leitura provocou em mim uma necessidade de escrever um diário que pelo menos contasse sobre minhas aventuras literárias. Faz muito tempo que não escrevo e não reflexiono sobre minhas leituras. De alguma forma, isso me fez falta.


O problema agora é qual será o próximo texto. Estou muito indeciso. Também estou indeciso em relação aos projetos para o ano de 2024. Estudar para a academia ou seguir lendo por conta própria? Fazer um curso de escrita acadêmica ou de escrita criativa?


Mas voltando a dúvida sobre qual livro será minha próxima aventura estou entre continuar a ler e reler as obras de Bolaño, suas sugestões de leitura e sua cozinha literária, ou continuara a ler um livro de crônicas de Anotnio Prata. Todas as opções me dão muito prazer e isso é ótimo.


Acho que vou (re)ler La pista de hielo. Um dos primeiros livros que Bolaño conseguiu publicar. Esse livro eu comprei em Montevideo em julho deste ano quando viajei com a P. Há muito tempo eu o havia lido emprestado de uma biblioteca do Instituto Cervantes. 

quarta-feira, outubro 25, 2023

Visita ao hospital

 Hoje matei meu pai, minha irmã, minha namorada, um amigo e outra amiga, pensando na vida. Depois morri também, pensando na inexorabilidade do tempo.

sábado, agosto 26, 2023

Te alejarás



Ahora tu cuerpo es sacudido por
pesadillas. Ya no eres
el mismo: el que amó, que se arriesgó.
Ya no eres el mismo, aunque
tal vez mañana todo se desvanezca
como un mal sueño y empieces
de nuevo. Tal vez
mañana empieces de nuevo.
Y el sudor, el frío,
los detectives erráticos,
sean como un sueño.
No te desanimes
Ahora tiemblas, pero tal vez
mañana todo empiece de nuevo.

(ROBERTO BOLAÑO)

terça-feira, agosto 01, 2023


Assombrado por minhas leituras me aventuro em algumas linhas de solidão e reflexão. Mas é difícil me concentrar com tantos estímulos a um clic de distância. Na sala a tv está sempre alta. Meu pai está assistindo novela e mexendo no celular. Melhor deixar esta tarefa pra uma hora mais calma da madrugada ou da manhã seguinte. Acabei de ler A mais recôndita memória dos homens de Mohamed Mbougar Sarr. Um livro buraco negro - que engole tudo ao seu redor como nos filmes de ficção científica. Um grande livro que fala de nada e, no entanto, tudo está lá, como diz uma de suas personagens. Um livro cuja força motriz está na sua estrutura e em sua polifonia. Uma miríade de personagens conta a história de um cultuado e obscuro escritor que causou furor no sistema literário francês no final dos anos 30. T.C. Elimane, um autor senegalês, o Rimbaud negro, como alcunha um crítico na época, e seu mítico livro O laberinto do inumano tornam-se as obssessões de outro escritor senegalês, jovem promessa da literatura francófona segundo os críticos e principal narrador dessa história que de uma certa forma presta homenagens aos Detetives selvagens e a um escritor africano de fato Yambo Ouologuem ao qual o romance é dedicado. Dizem que poderíamos rotulá-lo como um romance de formação. Eu não sei se concordo com isso.
 

terça-feira, junho 27, 2023

Leminskiando




" nunca mais vai ter um dia como em petrogrado aquele dia

nada como um dia indo atrás de outro vindo

você e eu sonhando e dormindo"

comprei Toda Poesia de Leminski hoje. novinho em folha por 42 reais no saldão da Martins Fontes da paulista. tomei dois cafés numa lanchonete ao lado da livraria enquanto lia um pouco e desfrutava Leminski. 


"O olho da rua vê

o que não vê o seu.

Você, vendo os outros, pensa que sou eu?

Ou tudo que teu olho vê

você pensa que é você?" 

desfrutava de sua poética com café, leite, açúcar e afeto.

sexta-feira, abril 07, 2023

Lendo Walter Benjamin Experiência e pobreza (1933)

 Falhamos em transmitir nossa experiência. Ou talvez já não haja possibilidade de transmiti-la de nenhuma forma. O fato é que nesse interim surgiram artistas com poder de intervenção que constroem suas obras com poucos recursos e sem nostalgia. É gente com uma desilusão radical frente ao contemporâneo mas ao mesmo tempo uma fidelidade sem reservas a ele.

segunda-feira, fevereiro 13, 2023

Orfãos voluntários e involuntários

 poetas em transe

poesia em trânsito

e as horas

e os abismos

e os orfãos do desastre

sexta-feira, fevereiro 10, 2023

ontem tive um pesadêlo talvez por causa do terremoto e das mortes na Síria e na Turquia. E me lembrei desse poema sem título.

 Escribe sobre las viudas las abandonadas,

las viejas, las inválidas, las locas.

Detrás de las Grandes Guerras y los Grandes Negocios

que conmueven al mundo están ellas.

Viviendo al día, pidiendo dinero prestado,

estudiando las pequeñas manchas rojas

de nuestras ciudades

    de nuestros deportes

        de nuestras canciones.

ROBERTO BOLAÑO

terça-feira, dezembro 20, 2022

Y cada instante es mejor y menos importante

 En la sala de lectura del infierno...


sábado, dezembro 10, 2022

diabo querendo ser santo






 tenho andado tanto

diabo querendo ser santo


Tinha uma frase interessante ou um enredo na mente pra começar a escrever um conto. Mas me esqueci talvez por causa do trânsito, talvez por causa do celular e da plataforma de música, ou talvez seja porque a ideia não era tão boa assim.


agora sei que o coração

é um cão de rua


Acho que me perdi depois de ler esses dois versos de Ana Martins Marques. Ou talvez a culpa foi da cidade que eu via através da janela do ônibus. Ou talvez fosse o céu dessa cidade e suas nuvens baixas. Talvez a culpa fosse de todos os poetas que já li. Ou melhor, talvez a culpa fosse de Padilha, Amalfitano e de Roberto Bolaño.


sábado, novembro 19, 2022

Diálogo entre Pierre Pain e Monsieur Rivette


 


—Tal vez sea mi borrachera pero esta noche huele a algo raro.

—Cada noche tiene un olor diferente, querido amigo, de lo contrario sería insoportable.

Creo que debería meterse en la cama.

—Pero el olor de esta noche es especial, es como si algo se estuviera moviendo por las

calles, algo impreciso, que conozco, pero que no consigo recordar qué es.

—Váyase a la cama. Duerma. Apacigüe su espíritu.

—El olor me seguirá hasta allí.


(Monsieur Pain - Roberto Bolaño)

sexta-feira, outubro 21, 2022

Iluminações profanas


 


Adoro a noite

e também a antena da UNIP

adoro o latido singular no horizonte

e também a antena da Gazeta

adoro o ruidoso silêncio noturno da cidade

também adoro Marte reluzente

e adoro a Lua cheia e a minguante

mas sobretudo a cidade cintilante

(Alchelas)

domingo, outubro 16, 2022

1857

 





“O mundo aparente é um tropel de percepções transtornadas”

Borges - Examen de metáforas


Nó geológico

a pegadinha de Deus

o umbigo de Adão

a idade da Terra

Deus espreita nos intervalos


(diante da idade da Terra os homens foram “criados” ontem)


Alchelas Mirabismo


“En 1857, una discordia preocupaba a los hombres. El Génesis atribuía seis días —seis días hebreos inequívocos, de ocaso a ocaso— a la creación divina del mundo; los paleontólogos impiadosamente exigían enormes acumulaciones de tiempo.” Borges - La creación y P. H. Gosse



Reunião

Soul

máquina desejante 

produzo

máquina de sentir

meu modo de ser não me traduz

as paixões tristes têm seu lugar

lugar de sentir

libero minhas associações

meu descompasso contingente