domingo, outubro 28, 2007

Canções de amor


Fui assistir, com Eleonora, e me fez lembrar Beauvoir e Proust ao mesmo tempo ( Quando o Espiritual Domina e Em Busca do Tempo Perdido). Na primera parte do filme talvez haja duas forças, ou dois movimentos, de repulsa e atração que o tornam muito dramático. No entanto, as adoráveis canções transformam uma dessas forças ( repulsa) em algo palátavel (num bom sentido). Depois do grande ápice da primera parte, vem melancolia e... e as duas forças pungentes são transformadas em puro lirismo ( de novo por causa das canções que mudam de tom)
Bom, o lance é o seguinte, não dá pra contar nada se não estraga, o filme é encantador (enchanting).
Os atores são lindos ( o protagonista é tão lindo que parece uma mulher, a amante parece um anjo, a "ponte" entre os dois é trés belle, Mastroiane é muito bonita e canta muito bem, a menina que mais lê, um encanto, e o menino (stalker) um charme)
Também me fez lembrar, no começo, por causa de umas cenas, a opulência dos países do norte versus os problemas e mazelas dos "países em desenvolvimento", mas abstraí, e o filme ou as cenas não voltam a tocar no problema.
De uma maneira geral, a fotografia do filme é maravilhosa e os closes nas placas e letreiros não são de graça. Paris é uma Paris mais intimista, sem panorâmicas aéreas, as tomadas dos monumentos, feitas de baixo pra cima, num movimento veloz como um automóvel, são curtas e quase impressionistas.
Um adorável filme pra ver com alguém de quem se gosta.

O mundo não se acabou

"Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar
Por causa disso, minha gente lá de casa, começou a rezar
E até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada
Por causa disso nessa noite. lá no morro, não se fez batucada

Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando de aproveitar
Beijei a boca de quem não devia
Peguei na mão de quem não conhecia
Dancei um samba em traje de maiout
E o tal do mundo não se acabou

Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar
Por causa disso, minha gente lá de casa, começou a rezar
E até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada
Por causa disso nessa noite. lá no morro, não se fez batucada

Chamei um gajo com quem não me dava
E perdoei a sua ingratidão
E festejando o acontecimento
Gastei com ele mais de um quinhentão
Agora eu soube, que o gajo anda
Dizendo coisa que não se passou
E, vai ter barulho, e vai ter confusão
Porque o mundo não se acabou"

sábado, outubro 27, 2007

night out (night in)

Nina might be sleeping, Biathan might be sleeping with her mamutinho, Doug an' Meredith may be sleeping too (or rocking this world), Rob an' Clau an' Ginger may be with their eyes closed, dreaming about Liberdade, Marina might be having a lot of fun an' drinking a lot, Eleonora might be dreaming in French or about London, I'm missing them, dreaming, listening to B&S. Singing songs to myself, there's nobody else around. I love them.

sexta-feira, outubro 26, 2007

Life is tricky

Friends come and go. The worst part is sometimes you don't wanna let them go. Life is tricky, though, and often, messages can be misunderstood. Conspicuously, language can be even more delusive.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Je suis perdu

Without you je suis Perdu...

my tiny little sister

Where you at? Where you at? Ah, Ah, oh! Where you at?

quarta-feira, outubro 24, 2007

Rainy Days (lost in translation)

se chovesse assim no Ceará eu me mudava pra lá...
If there was that much of rain in Ceará I would move there...

Passagens e sonhos

"Para sempre é sempre por um triz"...
Ela não era a mesma. Ele sabia disso e lhe havia dito antes de tudo começar. Tecnicamente, não haviam brigado, pensava Severo. Michele não era ela mesma, então aquilo não contava nem como acidente entre os dois, porra.
Haviam se conhecido há bem pouco tempo, quando ele procurava o amor de sua vida. O jogo era simples, pedia para amizades recentes ( se é que isso existe) que lessem em voz alta Las ruinas circulares, isso o excitava em todos os aspectos, reparava na boca de suas amigas, na entonação, na pronúncia, o Espanhol, para Severo, era a língua mais lasciva do mundo. Quando esbarrou em Michele, sentiu uma coisa estranha, como se a conhecesse de outros carnavais (não que ele gostasse ou fosse a esse tipo de festa). Perguntou-lhe se falava Espanhol, imediatamente Michele começou a falar e disse, em espanhol, que era fluente em Quechúa. Severo sacou do bolso um exemplar de Narraciones, botou nas mãos de Michele, que abriu acidentalmente nas Ruinas. Foi amor ao acaso (ou a primeira vista). Imediatamente, Michele começou a ler. Nadie lo vio desembarcar em la unánime noche, nadie vio la canoa de bambú sumiendose an el fango sagrado...
Olhava as mãos cheia de sangue, tentava recompor toda história. Pequenas discórdias e aborrecimentos menores, tudo o que conseguia lembrar. Costumava ler seu signo no jornal, lembrou-se de que naquele dia lera: brigas sem causa ou razão. Lembrou-se também de ter discutido algo sobre dinheiro que deviam pra ela. O sangue secava em suas mãos, enrigecia a pele, tinha um cheiro repugnante.
Foi ao banheiro para lavar as mãos. Enquanto as enxugava, reparou no espelho que estava mais bonito. Sorriu. Voltou para o quarto. Agarrou o corpo de Michele e o colocou na cama. Ele disse que não confiava mais nela. Ela disse que estava tudo acabado. Era culpa dela. Ela se denfendeu dizendo que era fantasia.
No ônibus Michele lia o jornal. Naquele dia um rapaz, com cara de universitário sentara ao seu lado, lia Borges. Ela puxou papo, comentou a violência em São Paulo. Um dos cadernos do jornal escorregou de seu colo, o estudante o recupeoru antes de tocar no chão e tocou em uma de suas pernas, no processo de salvamento. Daí a imaginação de Michele viajou (para a proposta indecente e a questão do dinheiro foi um pulinho).
Quando os policiais chegaram por causa dos vizinhos (é sempre bom ter vizinhos nessas horas) a única coisa que eles entenderam foi o penúltimo parágrafo. Estavam todos otimistas porque tinham certeza que Severo era o assassino. A única dúvida era de Severo que não sabia como tudo começou, mas sabia que um dia tudo acaba.
(Marina o otimismo está na última linha)

domingo, outubro 21, 2007

Feliz aniversário

Passagens

Havia uma mágica, quando ela se transformava em outra pessoa. As coisas nunca eram as mesmas. Uma aula, o almoço, a conversa, um apsseio de ônibus, tudo era mais divertido ao lado dele. Ele vivia ajeitando seu caminho pra lhe encontrar. Assim como Michele, Severo sabia que os dias frios seriam mais prováveis e propícios. Afinal, quando os dois se viam era aquela agarração, parecia coisa de adolescente. Mas tudo acaba.

sábado, outubro 20, 2007

Passagens e sonhos

"Para sempre é sempre por um triz"...
Ela não era a mesma. Ele sabia disso e lhe havia dito antes de tudo começar. Tecnicamente, não haviam brigado, pensava Severo. Michele não era ela mesma, então aquilo não contava nem como acidente entre os dois, porra.
Haviam se conhecido há bem pouco tempo, quando ele procurava o amor de sua vida. O jogo era simples, pedia para amizades recentes ( se é que isso existe) que lessem em voz alta Las ruinas circulares, isso o excitava em todos os aspectos, reparava na boca de suas amigas, na entonação, na pronúncia, o Espanhol, para Severo, era a língua mais lasciva do mundo. Quando esbarrou em Michele, sentiu uma coisa estranha, como se a conhecesse de outros carnavais (não que ele gostasse ou fosse a esse tipo de festa). Perguntou-lhe se falava Espanhol, imediatamente Michele começou a falar e disse, em espanhol, que era fluente em Quechúa.
Severo sacou do bolso um exemplar de Narraciones, botou nas mãos de Michele, que abriu acidentalmente nas Ruinas. Foi amor ao acaso (ou a primeira vista). Imediatamente, Michele começou a ler. Nadie lo vio desembarcar em la unánime noche, nadie vio la canoa de bambú sumiendose an el fango sagrado...
Olhava as mãos cheia de sangue, tentava recompor toda história. Pequenas discórdias e aborrecimentos menores, tudo o que conseguia lembrar. Costumava ler seu signo no jornal, lembrou-se de que naquele dia lera: brigas sem causa ou razão. Lembrou-se também de ter discutido algo sobre dinheiro que deveriam pra ela. O sangue secava em suas mãos, enrigecia a pele, tinha um cheiro repugnanate.
Foi ao banheiro para lavar as mãos. Enquanto as enxugava, reparou no espelho que estava mais bonito. Sorriu. Voltou para o quarto. Agarrou o corpo de Michele e o colocou na cama. Ele disse que não confiava mais nela. Ela disse que estava tudo acabado. Era culpa dela. Ela se denfendeu dizendo que era fantasia.
No ônibus Michele lia o jornal. Naquele dia um rapaz, com cara de universitário sentara ao seu lado, lia Borges. Ela puxou papo, comentou a violência em São Paulo. Um dos cadernos do jornal escorregou de seu colo, o estudante o recupeoru antes de tocar no chão e tocou em uma de suas pernas, no processo de salvamento. Daí a imaginação de Michele viajou (para a proposta indecente e a questão do dinheiro foi um pulinho).
Quando os policiais chegaram por causa dos vizinhos (é sempre bom ter vizinhos nessas horas) a única coisa que eles entenderam foi o penúltimo parágrafo. Estavam todos otimistas porque tinham certeza que Severo era o assassino. A única dúvida era de Severo que não sabia como tudo começou, mas sabia que um dia tudo acaba.
(Marina o otimismo está na última linha)

sexta-feira, outubro 19, 2007

Substitute

http://br.youtube.com/watch?v=J0i7c8tjlIs

You think we look pretty good together
You think my shoes are made of leather
But I'm a substitute for another guy
I look pretty tall but my heels are high
The simple things you see are all complicated
I look pretty young, but I'm just back-dated, yeah
Substitute your lies for fact
I can see right through your plastic mac
I look all white, but my dad was black
My fine looking suit is really made out of sack
I was born with a plastic spoon in my mouth
The north side of my town faced east, and the east was facing south
And now you dare to look me in the eye
Those crocodile tears are what you cry
It's a genuine problem, you won't try
To work it out at all you just pass it by, pass it by
Substitute me for him
Substitute my coke for gin
Substitute you for my mum
At least I'll get my washing done

WHO

quinta-feira, outubro 18, 2007

Se eu morresse amanhã

Levaria muitas angústias das coisas que não fiz, deixaria um recado (uma frase) bem trabalhado pra cada amigo verdadeiro (lembre-se de que a língua é machista) e passaria as frases pra minha revisora predileta para ela xecar minha hortagrofia, roubaria o beijo que nunca lhe dei, ouviria clube da esquina II, ela leria ao pé de meu ouvido um excerto favorito do caminho de swamn, até o último sinal de luz se esvair do cérebro, aí viraria pelo de gato preto, lodo, terra.



"Sabía que su inmediata obligación era el sueño..." BORGES
(para o pai da Capuchinho, para Paulo Autran (um ator que nunca admirei mas...)
(thank you for the ride, MARINA)

quarta-feira, outubro 17, 2007

Food for thought

"O homem mais tenebroso tem seus momentos iluminados: tal assassino toca flauta; tal feitor é talvez um bom filho. Existem poucos a quem não se possa ensinar alguma coisa. O erro é tentar encontrar neles virtudes que não têm, neglicenciando as que possuem".
MARGUERITE YOURCENAR

terça-feira, outubro 16, 2007

Se eu fosse um peixinho

Nós somos um cardume de axolotes, em si mesmados? Em nos mesmados? Dúvidas cruéis? A crise é boa porque gera questões, mas a crise permanente? Um eterno questionar-se, um inferno sem fim, não sei, preciso dormir. Um péssimo contador de histórias mas cheio de boas intenções. Também penso em ajeitar o meu caminho para encostar no dela... roubo palavras, nada de novo. No entanto, literatura não se faz de sentimentos ( nem de afeição ou sensualidade)

quinta-feira, outubro 11, 2007

Galinha enfurecida


Ler é enganar o tempo, beber é enganá-lo também. Um vinho ou um livro, tanto faz. A música marcada pelo tempo, como uma luva, também faz enganar. Mas uma galinha não pode enganar o tempo. Ora pula, cisca, choca, e o tempo passa, mas não engana o tempo. Logo, não sou galinha.
(Se as galinhas são tão importantes para o homem, uma das fontes mais baratas de proteínas, por que tornaram-se símbolo do que moralmente não aceitamos?)
______________________________________________________________
"O preço da fidelidade é a eterna vigilância".
Millôr Fernandes

quarta-feira, outubro 10, 2007

Meu livro dos abraços




A escritora tem vontade de nascer. A normalista sonha em fazer filosofia. A professora de inglês, psicologia. A filósofa diz que sobre humano é ser companheiro. A economista diz que não é sensível, mas chora à toa. São todas fortes, são todas minhas, adoráveis mulheres.











"Vivia a te buscar

Porque pensando em ti

Corria contra o tempo

Eu descartava os dias

Em que não te vi

Como de um filme

A ação que não valeu

Rodava as horas pra trás

Roubava um pouquinho

E ajeitava o meu caminho

Pra encostar no teu

Subia na montanha

Não como anda um corpo

Mas um sentimento

Eu surpreendia o sol

Antes do sol raiar

Saltava as noites

Sem me refazer

E pela porta de trás

Da casa vazia

Eu ingressaria

E te veria

Confusa por me ver

Chegando assim

Mil dias antes de te conhecer"
(Chico Buarque)

terça-feira, outubro 09, 2007

Mais simples







"É sobre-humano amar
'cê sabe muito bem
É sobre-humano amar sentir doer
Gozar
Ser feliz
Vê que sou eu quem te diz
Não fique triste assim
É soberano e está em ti querer até
Muito mais

A vida leva e traz
A vida faz e refaz
Será que quer achar
Sua expressão mais simples

Mas deixa tudo e me chama
Eu gosto de te ter
Como se já não fosse a coisa mais
Humana
Esquecer
É sobre-humano viver
E como não seria?
Sinto que fiz esta canção em parceria
Com você

A vida leva e traz
A vida faz e refaz
Será que quer achar
Sua expressão mais simplesÉ sobre-humano amar
'cê sabe muito bem
É sobre-humano amar sentir doer
Gozar
Ser feliz
Vê que sou eu quem te diz
Não fique triste assim
É soberano e está em ti querer até
Muito mais

A vida leva e traz
A vida faz e refaz
Será que quer achar
Sua expressão mais simples

Mas deixa tudo e me chama
Eu gosto de te ter
Como se já não fosse a coisa mais
Humana
Esquecer
É sobre-humano viver
E como não seria?
Sinto que fiz esta canção em parceria
Com você

A vida leva e traz
A vida faz e refaz
Será que quer achar
Sua expressão mais simples"
(José Miguel Wisnik)

segunda-feira, outubro 08, 2007

I'm sorry that I love you


A single rose in your garden dwells

Like any rose it's not itself

It is my love in your garden grows

but let's pretend it's just a rose

Well I'm sorry that I love you

It's a phase that I'm going through

There is nothing that I can do

and I'm sorry that I love you

Do not listen to my song

Don't remember it, don't sing along

Let's pretned it's a work of art

Let's pretend it's not my heart...

The rose will fade when summer's gone

The song will fade and I'll be gone

because my heart is dying too

and it's all the same to you
(BY MAGNETIC FIEDS- STEPHEN MERRIT)

domingo, outubro 07, 2007

Sobre tésseras, deus e crianças


O acaso e os pernilongos me fazem levantar. No meio da noite às vezes um barulho interrompe a ditadura do acaso ou dos pernilongos. Claro que alguém vai dizer que a nescessidade de ir ao banheiro também nos faz levantar do sono. O fato é que muitas vezes meus sonhos são interrompidos. Até mesmo a sede nos levanta, não é? Sonho com uma infinidade de tésseras, numa insondável possibilidade de cores que me perturbam. Terríveis cores, desconcertantes, mas ao mesmo tempo me dão prazer em percebê-las. Cor de terra, azul marinho, verde muito verde, laranja, azul anil, verde claro, vermelho primavera. E tantas outras que não saberia como definí-las: violeta malva, amêndoa, marfim , enfim, inúmeras outras.
Como tornou-se natural volto a mentir. Porque contar tanto pode ser aumentar quanto inventar, em outras palavras pode-se usar um conto de maneira licita ou ilicita. Uma história pode ser também criar algo novo. Será? Tudo não pode passar de diferentes versões de uma só história que teria sido contada no pricípio. E no princípio era o verbo, talvez a maior mentira contada no Ocidente. Haveria um princípio, um único princípio ou incontáveis inícios? Por que ensinar deus, don't patronize children.

sábado, outubro 06, 2007

Biathan


genial mamute seu papel é nos ensinar a enxergar as coisas que sabemos mas não sabemmos que sabemos ela já deu 30 voltas em torno do sol nunca mais se sentiu sozinha porcausa do bebê mamute mas tem suas angústias ela quis estudar psicologia mas acabou na lingüística ela é rica e livre porque faz xixi quando quer come quando tem fome e dorme quando o mamutinho deixa

(Dino muito grato)

sexta-feira, outubro 05, 2007

(Carta para Ms. Daisy)


Minha Ciclone


Tão alheia. Numa tarde de sol, por onde você anda? Pensa em mim de vez em nunca? Estou treinando minhas leituras em voz alta pra te impressionar. Não te conheço mas sei que te gosto. Coisas da imaginação, obrigado pelo voo.


Seu Miramante
OBS> Só uma coisa me aborrece, há tempos não vejo teu sorriso.

quinta-feira, outubro 04, 2007

Sappy Sucker (ladrão de palavras)

Quando cansado, eu vejo meus mortos, percebo sombras e ouço vozes. Gozo um pouco ao imaginar-me outro. Uma pessoa que enxerga algo além da morte é mais feliz que eu.
Os bosques já estão sombrios, o céu ainda é azul...
Olha para o lado do céu. Estou no bosque e olho para meus pés, enxergo onde piso, terra preta, folhas e pequenos galhos. Não me apavoro, talvez reste ainda algum azul entre as copas das árvores.
(para uma bebê que nasceu morta chamada Michelle)

quarta-feira, outubro 03, 2007

Laura


Como uma formiga que de uma queda impossível sai incólume Michele tinha a leveza para cair. Em busca de terras reconquistadas ao esquecimento seu maior remorso é ter dedicado mais tempo as atividades banais em detrimento do que mais importava num cotidiano cheio de detalhes.


Michele lê poesias de dia e de noite
Anda a ler poesias pela calçada
Lê livro que esquenta o pé
Escreve
Escreve e canta
E um dia desses vai criar raiz


Porque um aperto de mãos, a copa das árvores, o silêncio da biblioteca, a restinga que chega até a areia nunca é a mesma. Tudo tão diferente e difícil de lembrar. O trepa-trepa era vermelho, mas quantos balanços amarelos haviam no fundo do ...ela continua a cair e não sente mais o chão nem sua dor, Michele sente a dor dos outros, depois não sente mais nada.
Tenta imaginar os motivos da melancolia de Dr. Gachet. Que força extraordinária... perversa deixou seus cotovelos rotos? Será que foi o sorriso de uma transeunte? Um desejo frustrado? Há beleza no seu olhar profundamente desanimado e penoso. Lembranças, luto, melancolia, talvez o próprio sentido do quadro, se há, seja recordar. Pelo sebos da cidade procura dicionários.


Poeta de pedra
Versifica na poluição
Sente o frio da calçada
Rimbaud oblíquo e iluminado
Cobertor cigarro e cachimbo
Craque da metrópole
Uma vaga lembrança
Tudo se desfaz no ar
Mas o cotidiano é de pedra
Fumegante caos


Situações desfavoráveis no sonho de Michele, para ela e para Laura.


Quando nasci,
não sei se pra sorte ou por maldade,
um anjo torto me disse:
Tu farás muitas coisas,
dentre elas cultuar belas moças.
Ouvi miúda, não sã do que se dera,
sem tino das ranhuras de meu penar.
Hoje, sou eu como as saúvas
arrebatada pelas quimeras das iças.


Tem saudades das noites com Mari fumando e tomando, ouvindo de tudo e de todos. Mas não sente dor. Ela gosta de recordar.
Luana,

Se me quisesse
seria assim: TIM!
Garfo a bater no prato.
Mas, como
nem toda fome é ato,
não se come
o desejo de fato.


Lembra-se de que mostrava as coisas que escrevia para Luana, mas ela não entendia que Michele tinha um humor meio torto.


Isabela ou Beatriz não importa
Todas são minhas. À tarde ou de manhã,
Num ponto de ônibus ou no cinema
Estão vivas a gargalhar
Dizem oi, mas muito mais tchau
Bela, belas ao acaso
Paixão eterna e fugaz


A coceira dos contos começava em casa depois de um dia cheio de aulas, de sebos, de cigarros e de detalhes. Nesta noite em vez de escrever Michele decidiu ler sua escritora favorita.
( para duas amigas minhas, uma por me emprestar seus poemas, outra para provar que não sou egoísta e consigo até dividir criação ou roubar as coisas dos outros)

terça-feira, outubro 02, 2007

Virginia (sobre o determinismo crítico Fabi)



Imagina o meu jardim


A lagarta largada


Helicóide verde, tem planta seca


Aranha no telhado


Tem lugar escuro onde fungos vermelhos nascem


Os botões de amora brancos,


Mas o pé quer secar folhas verdes


Entre os seus espaços a luz do sol as atravessa


E esquenta minhas mãos, mas não as palmas, apenas as costas delas

Sobre cigarros, desejos e polvilho


A China ruiria, os enunciados anônimos da imprensa eram claros. Mas aquilo não importava mais para ele. Depois do amanhecer seus pés eram os mesmos da noite anterior. Tinha uma satisfação precária em entender sua paixão egoísta. Não! Não começavam a se desejar um ao outro... Sentira muito frio, pensava nos pés molhados por causa do jogo da amarelinha.
Ele também queria ter fôlego literário para precisar como são bonitos e assustadores os olhos de Maga. Na verdade no primeiro dia que ele travara conhecimento com ela no metrô pensava na possibilidade de passarem horas num vagão discutindo literatura e culinária. Queria lhe ouvir falar sobre luto e melancolia, fósseis mágicos, totens e tabus, matemática e biscoitos de polvilho.
Agora que chegou em casa tentava desenhar Maga numa folha de papel. No rádio o colapso da China. No desenho existiam olhos incríveis e uma boca que sorria.
Ele queria contar todos seus segredos e fazer o rosto dela corar de rir. Ouvir as histórias dela, como uma pessoa que deixa outra entrar em seu quarto e observar a desorganização natural do cotidiano sem enfeites ou retoques. Assim quando ela se cansasse, encostaria a cabeça no colo dele e sentiria suas mãos indecisas acariciando aquele rosto quente e pálido. No fim de um dia inteiro de histórias ele veria Maga dormir com a boca aberta soprar um sonho em seu ouvido.
Murmúrios, o outono chega Maga. O céu azul sopra uma corrente fria que talvez venha da Argentina. Ela disse que não tinha ilusões com relação ao amor e que a moral e a ética serviam pra libertar. As folhas de seu vestido capturavam o olhar dele. Nos olhos tanta poesia como em seus gestos, mas para um autor tão prosaico.
Na primavera, na tevê explicavam que o colapso era por causa dos cigarros. O império havia ruído por não dar atenção devida aos seus fumantes. No dia 8 de outubro a China virou uma complexidade fragmentada como a intimidade entre ele e Maga que fez 48 anos naquele mesmo dia. Hoje ele a viu no ônibus. Ele esboça um sorriso que é cortado por ela como se atravessa uma sombra.
(para a Rose que perdeu a mamãe e em homenagem a Cortázar um autor de espírito encantador)

segunda-feira, outubro 01, 2007

Gaia (a terra)


No princípio era o Kháos, o vazio, opondo-se ao Kháos aparece Gaia, a estabilidade. O espaço encontra um início de orientação. Gaia também é a mãe universal, ela começa criando a paritr dela mesmo, sem auxilio de Eros, seu contrário masculino Urano, o céu macho.