terça-feira, setembro 14, 2010

Sangue num sábado qualquer


Tudo sempre igual. As unhas cresciam, cortava-se. Os pelos cresciam, aparava-se. O cabelo crescia e ele ia ao barbeiro. Mas chega o dia em que os óculos afrouxam-se. Pois ele segue em direção a Quintino Bocaiúva na esperança de resolver tudo. Chega na ótica mas o atendente não é o mesmo que sempre esteve lá. Aquele do cabelo preto encaracolado que tem uma tatuagem no braço esquerdo, o mesmo que lhe vendeu os óculos há um ano, o dos olhos azuis. Ele entrega seus óculos. O rapaz estranho e todo educado, depois de uns minutos, pede desculpas e os devolve. Tudo muda. O mundo, torto. Ele tenta fugir mas o cinema mais próximo na Quitanda está mudado. As imagens não saõ as mesmas. Ele havia assistido aquele filme com Nino, Vicente e Clara mas o filme já não era o mesmo. O filme é uma porcaria mas ele gosta de porcos então não faria juz ao animal chamar aquilo de porcaria. Afinal se Clara é tão bem-feita pra que discutir a falta de qualidade de um filme. O mundo continuará torto como as pernas de Clara, como a porta do inferno.

And now I know how Joan of Arc felt
Now I know how Joan of Arc felt
As the flames rose to her Roman nose
And her Walkman started to melt

(Johnny Marr / Morrissey)

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