Me proponho exercícios diários de escrita. Uma frase em cada linha. Mas a janela me atrapalha. Ana Cristina e Roberto Bolaño me impedem. A última rodada do Brasileirão tampouco ajuda. Por fim, as redes sociais e a sua falta. Tanto mar. Eu que me aguente comigo.
quarta-feira, setembro 16, 2020
sábado, julho 11, 2020
Chamadas anônimas
Em transe, mantenho os olhos abertos. ("A sabedoria consiste em manter os olhos abertos durante a caída") Rasuras. Cacos. E experimentos. Porque viver apenas não basta, disse o poeta. Lapsos. Elipses. E silêncios. Ouvi vozes de mortos que não conhecia. Ignorei meu irmão. Não reconheci meu pai. A cidade, doída. Chovia. A vida, doída. Anoitecia. Poesia. Sugestões. E ilusões.
- O que você achou?
- Não está mal.
sábado, junho 06, 2020
quarta-feira, maio 20, 2020
Falarei nessa linguagem
“Falarei nessa linguagem sonâmbula que se eu estivesse acordada não seria linguagem.”
(A paixão segundo G.H. - Clarice Lispector)
Diástole & sístole da minha desordem. Meus pensamentos formam acidentes primordiais. Mulheres inenarráveis pululam, lampinhas. A noite tatuada em meus ossos - e minhas poetas preferidas dormem ao meu lado. Mulheres de cabeceira. Alejandra P. e Ana C.
terça-feira, maio 05, 2020
Pandemia, necropolítica e luto
Estamos afogados, ou melhor, estamos nos afogando no ano da graça de 2020. Sem água e sem graça, já são mais de 7 mil mortos só na banda de cá, da nossa pátria mãe gentil que espuma de ódio. Sem gentileza somos transformados em números, os inumeráveis. Aqui e ali alguns poetas tentam salvar umas poucas vidas. Tentam domesticar a dor com o verbo, com o verso. Tentam fazer o luto. Outros poetas mais práticos e prosaicos fazem caridades. A mídia e muitos governantes dizem pra gente ficar em casa que estaremos ajudando. Fica, quem tem a geladeira cheia. Fica, quem tem água pra lavar as mãos. Fica, quem tem sorte. Muitos mascarados saem às ruas para ganhar o pão.
Sem alento nem suspiro, já são mais de 7 mil mortos. Faltam UTIs, faltam remédios, faltam respiradores artificiais. Faltam médicos e enfermeiros. Só não falta a polititíca da União e da Federação. Necropolítica vira conto de f adas por aqui.
Aceleram-se os enterros. Faltam caixões e faltam valas. Faltam despedidas e velórios. Mais de 7 mil histórias perdidas para sempre. E a hecatombe continua enquanto esperamos que a tal curva nomeada pelos tecnocratas se achate como num milagre e a quantidade de mortes diminua.
segunda-feira, maio 04, 2020
Ser humano não tem remédio
A humanidade não deu certo. As crianças mais inteligentes e travessas que conheci eram anjos. Os adultos mais generosos e sábios eram bruxos.
quinta-feira, abril 30, 2020
Leminski
(...) Literatura é um efeito mental.
Literatura é uma das coisas mais frágeis deste planeta.
Por isso, nas bibliotecas, existe, sempre, uma placa, exigindo: SILÊNCIO, como nos hospitais.
(Sem eu, sem tu, nem ele - Paulo Leminski)
Literatura é uma das coisas mais frágeis deste planeta.
Por isso, nas bibliotecas, existe, sempre, uma placa, exigindo: SILÊNCIO, como nos hospitais.
(Sem eu, sem tu, nem ele - Paulo Leminski)
quarta-feira, abril 29, 2020
minha única liberdade
..."No querer traer sin caos
portátiles vocablos."
(Alejandra Pizarnik)
absurdo coração mascarado
na luz e de equilíbrio distante
tempestuoso apreço por melancolias
e mercadorias que interrompem
a fluência de (um) existir
portátiles vocablos."
(Alejandra Pizarnik)
absurdo coração mascarado
na luz e de equilíbrio distante
tempestuoso apreço por melancolias
e mercadorias que interrompem
a fluência de (um) existir
sexta-feira, abril 24, 2020
Sem esperança nem medo:
Maldita charada, maldito equilíbrio, distante e vil. Enigma ignominioso que se transforma no meu ser. Surto. Serei eu? Uma porção de mim? Ou se confunde com o outro, ou melhor, será meu mergulho no outro que me habita? Talvez. Talvez ser faltante. Talvez máquina desejante. Lacan e eu brigamos muito.
quarta-feira, abril 22, 2020
Um pequeno sonho
A vida breve. Um coração absurdo desafia seus demônios em domingos lentos. Reconhece e se ilumina no absoluto. Lá fora as pessoas estão se matando. Epidemias pouco democráticas.
terça-feira, abril 21, 2020
Alma pra pensar
Invadido por deuses de um panteão que eu desconheço. Cósmica visão das manhãs, das noites e dos entardeceres. Tudo maquinalmente elaborado. Caixas chinesas.
quarta-feira, abril 15, 2020
"Se morrer é memória cerrada."
Volto a Alejandra, com uma fé cega, como quem ora a uma divindade que caminha rumo ao esquecimento. Com uma fé cega leio e releio seus versos, sua sede,suas imagens e escuto sua língua na noite e na aurora. Seus desejos se tornam meus.
terça-feira, abril 14, 2020
drummondiando em espanhol
para Alejandra Pizarnik
Sueño sin lilas
la vida sin fluencia
mercadorías y melancolías
de existir
casi nunca
casi nadie
Sueño sin lilas
la vida sin fluencia
mercadorías y melancolías
de existir
casi nunca
casi nadie
sábado, abril 11, 2020
retorno
sonhei com nosso tempo
não tinha fim
uma aurora permanente
uma proposta aliciante
e minha indecisão
escolha morosa
sem resposta
sem convicção
nem ser triste
tampouco feliz
ameaçador despertar
sexta-feira, abril 10, 2020
De existir
Para Ana C.
Desistir das covardias
desistir das dúvidas (temporárias)
desistir da fluência (diuturna)
de existir
nos versos dos outros
desistir da aventura bruta
de existir
desistir das saudades
e do ponto final
sábado, março 21, 2020
A vida breve
sonhos impermeáveis
velha ficção científica
velhas leituras
velhos signos
pequenos fracassos
uma sucessão de mal entendidos
todo mal entendido é suportável disse J. M. B.
velha ficção científica
velhas leituras
velhos signos
pequenos fracassos
uma sucessão de mal entendidos
todo mal entendido é suportável disse J. M. B.
terça-feira, março 10, 2020
avenida madrugada
entre o amor e os chinelos
lapsos
o silêncio sumindo por aí
nas calçadas passos oblíquos
discussões bêbadas
autorreferenciais
cachorros rompem sincopando o silêncio
motos, carros e ônibus rompem rolando borrachas no asfalto
quinta-feira, março 05, 2020
detetive adormecido
passadas autorreferenciais
fragmentos superpostos
cumprimentos olímpicos
rostos singulares
sorrisos maneirísticos e ordinários
conversas elementares e secretas
percebo fragmentos
tal qual ascensorista meio curioso
às vezes, emérito mergulhador
às vezes, turista em férias
fragmentos superpostos
cumprimentos olímpicos
rostos singulares
sorrisos maneirísticos e ordinários
conversas elementares e secretas
percebo fragmentos
tal qual ascensorista meio curioso
às vezes, emérito mergulhador
às vezes, turista em férias
sábado, fevereiro 29, 2020
Bolaño Pizarnik Leminski Symborska
Despreparado para o acidente glorioso
Despreparado para a honra de viver
Às vezes sou mergulhador profissional
Às vezes, turista desajeitado
sábado, fevereiro 15, 2020
Bolaño
Entre verdades narrativas, pálpebras elétricas, poetas ridículos e heroicos vou colhendo as tramas e as líricas de um leitor onívoro e voraz. Amizade e violência, sexo e morte, estética e humor, pessimismo e lirismo se misturam em um tsunami de textos.
...
"entendo que as palavras essenciais,as que me exprimem, estarão nessas folhas
que não sabem quem sou, não nas que
escrevo."
Borges
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