Estamos afogados, ou melhor, estamos nos afogando no ano da graça de 2020. Sem água e sem graça, já são mais de 7 mil mortos só na banda de cá, da nossa pátria mãe gentil que espuma de ódio. Sem gentileza somos transformados em números, os inumeráveis. Aqui e ali alguns poetas tentam salvar umas poucas vidas. Tentam domesticar a dor com o verbo, com o verso. Tentam fazer o luto. Outros poetas mais práticos e prosaicos fazem caridades. A mídia e muitos governantes dizem pra gente ficar em casa que estaremos ajudando. Fica, quem tem a geladeira cheia. Fica, quem tem água pra lavar as mãos. Fica, quem tem sorte. Muitos mascarados saem às ruas para ganhar o pão.
Sem alento nem suspiro, já são mais de 7 mil mortos. Faltam UTIs, faltam remédios, faltam respiradores artificiais. Faltam médicos e enfermeiros. Só não falta a polititíca da União e da Federação. Necropolítica vira conto de f adas por aqui.
Aceleram-se os enterros. Faltam caixões e faltam valas. Faltam despedidas e velórios. Mais de 7 mil histórias perdidas para sempre. E a hecatombe continua enquanto esperamos que a tal curva nomeada pelos tecnocratas se achate como num milagre e a quantidade de mortes diminua.
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