segunda-feira, dezembro 15, 2008

Os pingos nos is - Goela de dragão


O diabo está nos detalhes. Fui sempre muito ruim para contar histórias. Nunca conseguia prender a atenção dos ouvintes ou me esquecia dos detalhes. Talvez seja por causa da minha eterna falta de organização ou minha indisposição para se programar. Ela fica saliente na escrita.

Essa história não me redime. Odeio colocar os pingos nos is, tenho dificuldades em concatenar as idéias. Devo começar pelos lapsos, pois eles também contam uma história. Assim, começo pelo omitido, na manhã da descoberta Dona Mariana não estava lá. D. Mariana é geralmente a mulher que toma conta dos recicláveis, ela os organiza, já que os politicamente corretos como eu, são muito preguiçosos pra separar os diferentes tipos de materiais.

Todas as manhãs, especialmente as de Sábado, temos algum tempo pra conversar, digo, eu e D. Mariana. Nesse dia ela não estava e os tambores da coleta já encontravam-se abarroados, fora o monte de sacolas espalhadas pelo chão. Tinha uma casca de laranja embolorada na minha sacola, misturada com recicláveis e eu não tive coragem de pegá-la e jogá-la em outro lugar, ficou lá junto com os recicláveis.

Caminhei até uma lanchonete que fica em frente a um ponto de onibus, tomei um café e li “In Society”. Ginsberg reflete sobre a dependência da voz do autor, ou seja, a não-autonomia do autor, quero dizer, o autor como produtor, que necessita do outro e faz parte de uma classe. Estava meio sonolento, meio timido ou atordoado com o achado artesanal, as folhas do caderno pareciam costuradas com muita atenção. Pedi um café e em vez de receber um café puro ele veio com leite. Reclamei mas aceitei e tomei num copo americano devagar enquanto lia o poema de Ginsberg. Li e o reli, paguei, e saí. Fui a uma loja de 1,99 e comprei uma caneta pra começar a escrever no caderno. Paguei 1,70 pela caneta preta que custava 1,75. escrevi um bocado numa galeria. Dava uma postagem longa o suficiente, então me dirigi para uma lan-house. Não tenho internet em casa, nem computador pra arquivar o texto sobre o achado. No caminho tomei outro café, agora, um expresso, numa outra galeria. Tinha muito tempo pois era cedo e acreditava que a lan-house não estaria aberta. Tomei o café e li “The brick layer's lunch hour”, Ginsberg vê poesia no pedreiro sem camisa, eu admiro o graffit em frente ao café, do outro lado da rua, na mesma avenida da outra galeria em que há pouco eu sentara. Há muita poesia nos graffits, ou essa maneira de se expressar supera a poesia? E eu sem referente a altura tento domesticá-los, reduzí-los ao já conhecido que está morto nas estantes das livrarias, no comécio, nos museus.

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