terça-feira, dezembro 30, 2008
sexta-feira, dezembro 26, 2008
Goela de dragão
Piquenique à beira de estrada
Morte sépia cinza negra ruínas fracasso atraso. Escreve palavras sem nenhuma ligação. É tudo mentira. Vinte anos nenhum problema resolvido sequer posto. Deus é uma mentira como os ovinis, outra vida além dessa, triângulo das bermudas, conspiração dos astros, um gracioso engodo. Stella adora ler os russos e os alemães, melhor que Sarney ou Lacerda. Obsessão lixo entulho ferro velho solar e lunar Ashley Alice Diana Samanta Sara Suzette Mariana e Babi, mais nomes e nenhuma relação. Vida. Não existe sequer a Zona de Tarkovsky, nada que virá nos redimir. Na tevê, vende-se mantra pra ficar mais rico o ano que vem. Cheio de minha mesmice mas pensando em que escreveria Stella neste caderno.
“Ia caindo a tarde, parei diante de um cartaz que anuciava a apresentação que daria Berma no primeiro dia do ano. Corria um vento suave e úmido. Aquele tempo me era bastante conhecido; tive a sensação e o pressentimento de que aquele dia do ano novo não era diferente dos demais, não era o primeiro dia de um mundo novo em que eu poderia, tentado a minha sorte ainda não explorada refazer minha amizaade com Gilberte, como no tempo da Criação, como se ainda não existisse o passado”... Stella sentia-se mais nova lendo esse tipo de literatura, não que ela fosse velha. Sentia que sua geração havia perdido alguns interessses, então sentia-se meio deslocada, por exemplo, tinha simpatia por Jango e Allende e não sabia como mas começou a estudar por conta própria, começou pela greve dos metalúrgicos, vidreiros e gráficos
Tinha perversões como o narrador que gostava de ajudar e guiar deficietes visuais, não só por altruísmo pois como Stella não acreditava em tal coisa, mas pelo prazer de se sentir útil, guiar alguém ao seu deestino, além do mais, gostava de ser tocado, como Stella, pois achava que as mãos deles eram mais macias além disso eram mais sensíveis, disso não tinham dúvida. Preferiam as mulheres mas o contato com os homens era mais frequente, parecia haver mais deficientes do sexo masculino na cidade.
O único medo de Stella era que as pequenas convulsões voltassem. Perto do aniversário de morte de sua mãe sua imaginação era mais útil, enxergava as coisas como elas realmente eram, sua mente era muito mais esperta e quase não dormia nesses dias, bebia para domesticar a imaginação. Não tinha medo de morrer nesses dias mas tinha medo das convulsões. Pensou em ligar pra Babi, conversar, tomar um café.
domingo, dezembro 21, 2008
terça-feira, dezembro 16, 2008
Sobre goela de dragão - queria beber as cinzas dos pinguins
Queria beber as cinzas dos pinguins
Tenho duas palavras que não saem da minha cabeça, marajoara e di Capri, são nomes que ouvi e li recentemente e ficaram no meu subconsciente, ou melhor, meu consciente.Quero contar uma história mas os nomes e as coisas já me narram outra história. As palavras me encantam e me confundem. Os nomes das coisas às vezes me fascinam, digo, nem sempre, mas às vezes, e parecem conter neles mesmos outros tempos, histórias fantásticas.
Tento narrar mas os detalhes me atrapalham, ao mesmo tempo sem eles não consigo contar nem apreender a experiência. Decidi contar a história desse caderno, mas me esqueci de descrever a foto contida em sua página de rosto, pois meu achado se parece mais com um livro a ser escrito do que um caderno.
A foto é estranha, em vez de descrevê-la penso em qual seria sua história. Será que a mulher na foto é a dona do caderno? Ou ela seria o motivo pelo qual o caderninho existia? Tinha um nome ao lado da foto, Stella, era o nome da fulana, ou da fotógrafa? Nome do fã que escreveria sobre inspiração da atriz? Era uma atriz sem dúvida naquela foto, pois posava sobre um palco de fundo negro.
Meu atual escritor favorito sempre começa suas histórias com um cadáver, eu começo com um caderno.
segunda-feira, dezembro 15, 2008
Os pingos nos is - Goela de dragão
O diabo está nos detalhes. Fui sempre muito ruim para contar histórias. Nunca conseguia prender a atenção dos ouvintes ou me esquecia dos detalhes. Talvez seja por causa da minha eterna falta de organização ou minha indisposição para se programar. Ela fica saliente na escrita.
Essa história não me redime. Odeio colocar os pingos nos is, tenho dificuldades em concatenar as idéias. Devo começar pelos lapsos, pois eles também contam uma história. Assim, começo pelo omitido, na manhã da descoberta Dona Mariana não estava lá. D. Mariana é geralmente a mulher que toma conta dos recicláveis, ela os organiza, já que os politicamente corretos como eu, são muito preguiçosos pra separar os diferentes tipos de materiais.
Todas as manhãs, especialmente as de Sábado, temos algum tempo pra conversar, digo, eu e D. Mariana. Nesse dia ela não estava e os tambores da coleta já encontravam-se abarroados, fora o monte de sacolas espalhadas pelo chão. Tinha uma casca de laranja embolorada na minha sacola, misturada com recicláveis e eu não tive coragem de pegá-la e jogá-la em outro lugar, ficou lá junto com os recicláveis.
Caminhei até uma lanchonete que fica em frente a um ponto de onibus, tomei um café e li “In Society”. Ginsberg reflete sobre a dependência da voz do autor, ou seja, a não-autonomia do autor, quero dizer, o autor como produtor, que necessita do outro e faz parte de uma classe. Estava meio sonolento, meio timido ou atordoado com o achado artesanal, as folhas do caderno pareciam costuradas com muita atenção. Pedi um café e em vez de receber um café puro ele veio com leite. Reclamei mas aceitei e tomei num copo americano devagar enquanto lia o poema de Ginsberg. Li e o reli, paguei, e saí. Fui a uma loja de 1,99 e comprei uma caneta pra começar a escrever no caderno. Paguei 1,70 pela caneta preta que custava 1,75. escrevi um bocado numa galeria. Dava uma postagem longa o suficiente, então me dirigi para uma lan-house. Não tenho internet em casa, nem computador pra arquivar o texto sobre o achado. No caminho tomei outro café, agora, um expresso, numa outra galeria. Tinha muito tempo pois era cedo e acreditava que a lan-house não estaria aberta. Tomei o café e li “The brick layer's lunch hour”, Ginsberg vê poesia no pedreiro sem camisa, eu admiro o graffit em frente ao café, do outro lado da rua, na mesma avenida da outra galeria em que há pouco eu sentara. Há muita poesia nos graffits, ou essa maneira de se expressar supera a poesia? E eu sem referente a altura tento domesticá-los, reduzí-los ao já conhecido que está morto nas estantes das livrarias, no comécio, nos museus.