sábado, dezembro 30, 2023

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 Mais do que a trama do romance, a maneira de narrar das personagens parece ser a grande força motriz do texto. Os narradores de Bolaño conseguem prender seus leitores aos assuntos mais banais. Talvez não seja a banalidade em si mas o olhar sobre o cotidiano e seus eventos, ou melhor, talvez a potencialização do cotidiano seja o grande trunfo de seus narradores, tal como faz Tchekhov em seus contos. 

Se bem que um assassinato num pequeno balneário da Costa Brava não seja o melhor exemplo de banalidade. Adicione-se ao evento as peculiaridades das personagens-narradoras, dois aspirantes a escritores e um burocrata de esquerda envolvido com o serviço social do local. Some-se também a singularidades de Nuria, Carmen e Caridad, as três personagens femininas principais da trama e o leitor pode saborear um pouco daquilo com o qual Bolaño é mestre em jogar: sonhos, mesquinhez, arte, violência, poesia e amizade; e fazer desses assuntos matéria de seus textos.


Ainda não é o Bolaño dos Detetives selvagens mas se pode enxergar seus traços incipientes por aqui.

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