domingo, março 10, 2019

Fé adorável que o destino blasfema

Entre o cativeiro e o abismo, o abismo. Mergulhar na escuridão e embriagar-se em sua possibilidade. As possibilidades de resistir em meio a covardia geral. Atrito e intempestividade são os conceitos, as palavras motrizes do coro dos párias, dos vencidos, de nós diabos, divididos os herdeiros e órfãos de prometeu, de Pandora, da Medusa. Tecer o que e pra quem em meio a corpos violados, cadáveres sem sepultura, o capitalismo como religião mais selvagem que nunca. Uma criança de onze anos violada é obrigada a dar a luz em uma sociedade desigual que ao mesmo tempo vota pena de morte para menores, vende armas como se vende refrigerantes. Uma sociedade na qual pedofilia é assunto de família. Homens de bem? Democracia? A ultradireita e seus bossais não pode ser considerada falha do sistema mas um sintoma. Os energúmenos liberais devem ser considerados o objetivo final da democracia representativa burguesa e fedorenta.
Filhos de Dandara, de Marilles, filhos dos dias, filhos da mandioca e do milho, filhos da Pacha mama. Talvez órfãos por vocação, poetas que seguem escrevendo no ar, escrevendo nos faróis, nos semáforos dessa grande feira moderna. Cair é talvez o único sentido. Cair na escuridão. Cair valentemente
 Sem ais, sem alento. Sem carinho, sem coberta. Cair no caos, cair na escuridão. Viajar em direção ao esquecimento. Entre o cativeiro e o abismo, o abismo apenas. Mal estar, um destino. Sentido talvez terá a literatura do por vir sem comercio, sem premio e sem canapé ou champanhe. A literatura da boca do povo, da biqueira, da periferia. A literatura do rap. Do pancadão e da pancadaria. Do abismo, profana, sem academicismo. Talvez lida na fronteira, no estrangeiro, em Quito, não em Bruxelas. Em Ciudad Juárez, em Recife, em Diadema, na Baixada Fluminense em Tecatepec.

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