Faz muito
tempo que nós não vemos tanta mobilização, tanto interesse por novas idéias,
tanta crença na força da descrença, na força do desencanto como hoje.
VLADIMIR SAFATLE (Há dois meses antes do início das manifestações)
VLADIMIR SAFATLE (Há dois meses antes do início das manifestações)
Às ruas
As manifestações em São Paulo,
cidade brasileira mais populosa da América do Sul e um dos principais pólos
financeiros do país, tem excitado a curiosidade de muita gente. Tanto a opinião pública, quanto
os formadores de opinião e a mídia subserviente e conservadora ainda não tem
conseguido analisar o que acontece na cidade. Além do âmbito nacional, os
protestos têm inclusive intrigado a imprensa internacional assim como
movimentos populares na Europa em apoio aos manifestantes brasileiros.
Os brasileiros conhecidos
mundialmente por sua cordialidade, suas festas e o futebol voltam às ruas
depois de longos anos de desmobilização. A última grande manifestação dos “cara-pintadas”
1992, tinha sido capitalizada pelos estudantes e o Partido dos Trabalhadores
foi um movimento contra a corrupção e a favor do impeachment do ex-presidente
Fernando Collor. Esse movimento levou milhares de pessoas às ruas em todo o
país, inclusive em São Paulo.
As mobilizações pacíficas atuais
que surgiram inicialmente contra o aumento das tarifas do transporte urbano
foram abordadas por uma polícia despreparada e talvez herdeira dos métodos de
repressão de uma ditadura ferrenha (1964 – 1985) de mais de 20 anos. Os
governantes, tanto o prefeito quanto o governador do Estado de São Paulo estavam
ausentes, ambos em uma viagem de negócios a Paris. Alinhados no discurso, se
pronunciaram dizendo que se tratava apenas de um “grupinho de vândalos”. O
detalhe é que o que eles chamaram de “grupinho de vândalos” estava representado
nas ruas por mais de 10 mil participantes nas manifestações.
Vamos para o quinto protesto
organizado e a violência policial só faz crescer o número de pessoas indignadas
com as mazelas do Estado e o barbarismo militar. A mídia nacional
condescendente com o autoritarismo do Estado tem exigido mais “energia” para
conter as manifestações alegando que os insurgentes não passam de baderneiros
da classe média branca mimados e sem aparente causa justa . Já a cobertura
internacional têm visto os confrontos, se é que podemos chamar assim pois a
violência parte geralmente da polícia, com mais cautela e crítica. Vêem, por
exemplo, o desencanto e a descrença principalmente dos jovens com os políticos brasileiros.
O prefeito Haddad do Partido dos
Trabalhadores (PT) mais uma vez não quis escutar parte de suas bases, pois
desde o começo de seu mandato foi requisitado por uma greve de professores que
são historicamente parte dos eleitores de seu partido. Não houve diálogo e a
dificuldade de organização da categoria assim como a debilidade de seu
sindicato levaram a greve ao fracasso. Agora seria a vez de ele ouvir jovens
estudantes, trabalhadores e parte da classe média. Em vez disso se alia ao
Governador conservador do Estado de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) e sua já
reconhecida truculência. Assim até agora não houve diálogo de fato e o prefeito
perplexo e pressionado pelo novo cenário
não sabe o que fazer, tratando um caso político como caso de polícia.
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