segunda-feira, junho 17, 2013

Sobre as manifestações em São Paulo (#3,20)



Faz muito tempo que nós não vemos tanta mobilização, tanto interesse por novas idéias, tanta crença na força da descrença, na força do desencanto como hoje.
VLADIMIR SAFATLE (Há dois meses antes do início das manifestações)
Às ruas
As manifestações em São Paulo, cidade brasileira mais populosa da América do Sul e um dos principais pólos financeiros do país, tem excitado a curiosidade de  muita gente. Tanto a opinião pública, quanto os formadores de opinião e a mídia subserviente e conservadora ainda não tem conseguido analisar o que acontece na cidade. Além do âmbito nacional, os protestos têm inclusive intrigado a imprensa internacional assim como movimentos populares na Europa em apoio aos manifestantes brasileiros.
Os brasileiros conhecidos mundialmente por sua cordialidade, suas festas e o futebol voltam às ruas depois de longos anos de desmobilização. A última grande manifestação dos “cara-pintadas” 1992, tinha sido capitalizada pelos estudantes e o Partido dos Trabalhadores foi um movimento contra a corrupção e a favor do impeachment do ex-presidente Fernando Collor. Esse movimento levou milhares de pessoas às ruas em todo o país, inclusive em São Paulo.
As mobilizações pacíficas atuais que surgiram inicialmente contra o aumento das tarifas do transporte urbano foram abordadas por uma polícia despreparada e talvez herdeira dos métodos de repressão de uma ditadura ferrenha (1964 – 1985) de mais de 20 anos. Os governantes, tanto o prefeito quanto o governador do Estado de São Paulo estavam ausentes, ambos em uma viagem de negócios a Paris. Alinhados no discurso, se pronunciaram dizendo que se tratava apenas de um “grupinho de vândalos”. O detalhe é que o que eles chamaram de “grupinho de vândalos” estava representado nas ruas por mais de 10 mil participantes nas manifestações.
Vamos para o quinto protesto organizado e a violência policial só faz crescer o número de pessoas indignadas com as mazelas do Estado e o barbarismo militar. A mídia nacional condescendente com o autoritarismo do Estado tem exigido mais “energia” para conter as manifestações alegando que os insurgentes não passam de baderneiros da classe média branca mimados e sem aparente causa justa . Já a cobertura internacional têm visto os confrontos, se é que podemos chamar assim pois a violência parte geralmente da polícia, com mais cautela e crítica. Vêem, por exemplo, o desencanto e a descrença principalmente dos jovens com os  políticos brasileiros.
O prefeito Haddad do Partido dos Trabalhadores (PT) mais uma vez não quis escutar parte de suas bases, pois desde o começo de seu mandato foi requisitado por uma greve de professores que são historicamente parte dos eleitores de seu partido. Não houve diálogo e a dificuldade de organização da categoria assim como a debilidade de seu sindicato levaram a greve ao fracasso. Agora seria a vez de ele ouvir jovens estudantes, trabalhadores e parte da classe média. Em vez disso se alia ao Governador conservador do Estado de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) e sua já reconhecida truculência. Assim até agora não houve diálogo de fato e o prefeito perplexo e pressionado  pelo novo cenário não sabe o que fazer, tratando um caso político como caso de polícia.

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