quarta-feira, julho 14, 2010

Estrangeiro (Pastiche?)


Dizem que quando chove durante um enterro é um bom sinal, acho que é uma crença xintoísta. Não me lembro se no enterro de minha mãe chovia ou fazia sol, afinal faz tanto tempo. Acho que estva nublado. Não me lembro. Esta madrugada chovia e ventava muito e eu pensava que essas lembranças deviam fazer parte de minha história. É agosto e faz vinte anos que ela morreu, fez um ano que eu morri. Por esses dias quando faz frio ou chove ela é uma ausência quase sempre presente. Helena me diz que a morte tem de ser celebrada mas eu não sei o que isso quer dizer, também não pergunto, acho que ela anda lendo Deleuze. Me sinto um estrangeiro e toda vez que penso na morte de minha mãe me lembro do início daquele livro:
"Hoje, minha mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo:'Sua mãe falecida. Enterro amanhã. Sentidos pêsames.' Isto não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem". É estranho mas é disso que me lembro. Não me lembro de como ela estava vestida, a última vez que sorriu pra mim, suas últimas palavras, a única coisa que me vem na cabeça são as palavras de Meursault e sua insólita narrativa. Acho que se as coisas tivessem terminado assim eu seria mais feliz. Disse isso hoje pra Helena e depois de uma discussão eu disse que não queria saber de Deleuze e de porra nehuma e disse que as únicas coisas que me interessavam nela eram suas pernas seus seios e sua boca. Ela me deu um tapa na cara e saiu sem me dar um beijo. Malditos franceses, também quero que ela se foda.

2 comentários:

ana de toledo disse...

hehehehe!

Fabi disse...

acho q é xintoísmo sim, e já que tocamos no assunto, amanhã é dia de obon. Dia dos mortos em Okinawa.
Eu acabei de ler um livro que se chama O Medo e o Mar que fala de uma menina que perdeu a mãe para o mar. O livro é muito mais que isso, claro, mas ele me fez pensar em meu pai, que eu perdi para o fogo.
te amo