quarta-feira, julho 28, 2010

"O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas"


Guimarães Rosa falou essa frase num discurso para ABL e depois de quatro dias morreu. Como ele mesmo disse: "a gente morre pra provar que viveu".

A s Margaridas quando morrem viram borboletas azuis. Sonhei que minha Margarida virou uma borboleta azul.

sobre o simbolismo no altar "Del Dia de Muertos"
Hallé una idea sucinta
http://mx.answers.yahoo.com/question/index?qid=20091028212432AAMkcd2

segunda-feira, julho 26, 2010

William Kentridge (About drawing)



drawing from Felix in Exile, William Kentridge
charcoal, pastel, and gouache, 120 x 160 cm


William Kentridge - What does it mean to say that something is a drawing - as opposed to a fundamentally different form, such as a photograph? First of all, arriving at the image is a process, not a frozen instant. Drawing for me is about fluidity. There may be a vague sense of what you're going to draw but things occur during the process that may modify, consolidate or shed doubts on what you know. So drawing is a testing of ideas; a slow-motion version of thought. It does not arrive instantly like a photograph. The uncertain and imprecise way of constructing a drawing is sometimes a model of how to construct meaning. What ends in clarity does not begin that way.

la Pesadilla


"Llego a la conclusión, ignoro si es científica, de que los sueños son la actividad estética más antigua".
BORGES

domingo, julho 25, 2010

O Invertido


"It was. It will never be again."
Auster "The Book of memory"

"No podemos examinar los sueños directamente. Podemos hablar de la memoria de los sueños". Borges "La pesadilla"

Sonhei. Suas pernas eram bem morenas, bronzeadas e eram belas e fortes. Depois sonhei com uma porção de gatos preto brancos.

sábado, julho 24, 2010

sonhando com palavras

para Wendy Guerra, Paul Auster e David Toscana
Harangue, entail, cringe, dabble, exacting, as palavras às vezes tem pernas. Pernas negras, brancas, tatuadas. Elas são inglesas, espanholas, portuguesas, ou talvez fossem loiras, morenas, francesas, japonesas. Me incomodam, me fascinam. São pertubadoras e insinuantes. Insistentes, ora não dizem nada ora declaram tudo. Entonces me doy cuenta: menudo, cabronas, adversa, chingonazo, santoral...Ezra Pound conhecendo W. B. Yeats, Huidobro de secretário de Rubén Darío, Fernado Pessoa tomando um vinho com Drummond e Machado discutindo com Saramago ou Bolaño e Cortázar passeando pelo cemitério da Consolação e Wendy Guerra e Clarah Averbuck tomando um café na Augusta. Elixir and antidote, Ana Cristina e Simone de Beauvoir fumando na Ana Rosa.

domingo, julho 18, 2010

Natimorto


Um filme intenso em que o principal personagem é como se contam as histórias.

sábado, julho 17, 2010

Uma vez fui ao DF... (Amuleto)


"A veces me da por pensar que tanto mis libros como mis figuritas me acompañan. ? Pero cómo me pueden acompañar? me pregunto. ?Flotan a mí alrededor? ?Flotan sobre mi cabeza? ?Los libros y las figuritas que fui perdiendo se han convertido en el aire del DF? ? se han convertido en la ceniza que recorre esta ciudad de norte a sur y de este a oeste? Puede ser. La noche oscura del alma avanza por las calles del DF barriendo todo. Ya apenas se escuchan canciones, aquí, en donde antes todo era una canción. La nulve de polvo lo pulveriza todo".
Auxilio Lacouture

Amuleto


"el amor nunca trae nada bueno. el amor siempre trae algo mejor. pero lo mejor a veces es lo peor se eres mujer, si vives en este continente que en mala hora encontraron los españoles, que en mala hora poblaron esos asiáticos despistados". Auxilio Lacouture

sexta-feira, julho 16, 2010

I've been missing the Strip club Moms (to Fabiana, Doug, Seth, Mike and Joe)



Seen enough to eye you
But I've seen to much to try you
It's always weirdness while you
Dig it much too much to fry you
The weirdness flows between us
Anyone can tell to see us
Freak scene just can't believe us
Why can't it just be cool and free us?

Seen enough to eye you
But I've seen to much to try you
It's always weirdness while you
Dig it much too much to fry you
The weirdness flows between us
Anyone can tell to see us
Freak scene just can't believe us
Why can't it just be cool and leave us?

It's so fucked I can't believe it
If there's a way I wish we'd see it
How could it work just can't conceive it
Oh what a mess it's just to leave it

Sometimes I don't thrill you
Sometimes I think I'll kill you
Just don't let me fuck up will you
'cause when I need a friend it's still you

What a mess

More lyrics: http://www.lyricsfreak.com/d/dinosaur+jr/#share

our singer (by Pavement)


I've been waiting, anticipating
Sun comes up
The skies wont sink my soul
I've dreamt of this but it never comes
But it never comes on the horizon (rising?)
The nature's dry, faux (Folks?)

I've been dreamin', traced out but dreamin'
The sun comes up
The blisters burn my soul
I'm dreamin' of something now
Of something now on the horizon (of the rising?)
The nature's dry and all the gritty (groovey?) ones

I miss the SCM a bunch!
I'm still puzzled by the way singers sing their songs I cannot figure some lyrics out

quinta-feira, julho 15, 2010

Happy birthday Doug

"In this hole"

In this hole we have fixed
We get further and further and further
From what we must do, we must do

I saw you asleep beside a hole (or wall?)
This girl inside a hole (wall?)
Your mind blackened by all the thoughts of God

One absence of truth
The One horrible thing you saw
What you truly wanted to become
And who you thought I was, who you thought I was

In this hole that we have fixed
We get further and further and further
From what
We must do
I saw you outside that hole (Wall)
This girl outside that hole (wall)
your mind finally free
from all the thoughts you thought
and all the thought of God

Troubled waters (by Cat Power)


( Michael Hurley, "Armchair Boogie" LP )

I must be
One of the devil's daughters
They look at me with scorn
I'll never hear their horn
Sometimes
It's like being in chains
Sometimes I hang my head
In shame
When people see me
They scandalize my name
I'm going down
To the devil's water
I'm gonna drown
In that troubled water
It's coming 'round my soul
It's way beyond control
I must be one
I must be one
I must be
One of the devil's daughters
They look at me with scorn
I'll never hear their horn
Sometimes it's like
Being in chains
Sometimes I hang my head
In shame
When people see me
They scandalize my name
I'm going down
To the devil's water
I'm gonna drown
In that troubled water
It's coming 'round my soul
It's way beyond control
I must be one
I must be one
I must be

quarta-feira, julho 14, 2010

Estrangeiro (Pastiche?)


Dizem que quando chove durante um enterro é um bom sinal, acho que é uma crença xintoísta. Não me lembro se no enterro de minha mãe chovia ou fazia sol, afinal faz tanto tempo. Acho que estva nublado. Não me lembro. Esta madrugada chovia e ventava muito e eu pensava que essas lembranças deviam fazer parte de minha história. É agosto e faz vinte anos que ela morreu, fez um ano que eu morri. Por esses dias quando faz frio ou chove ela é uma ausência quase sempre presente. Helena me diz que a morte tem de ser celebrada mas eu não sei o que isso quer dizer, também não pergunto, acho que ela anda lendo Deleuze. Me sinto um estrangeiro e toda vez que penso na morte de minha mãe me lembro do início daquele livro:
"Hoje, minha mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo:'Sua mãe falecida. Enterro amanhã. Sentidos pêsames.' Isto não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem". É estranho mas é disso que me lembro. Não me lembro de como ela estava vestida, a última vez que sorriu pra mim, suas últimas palavras, a única coisa que me vem na cabeça são as palavras de Meursault e sua insólita narrativa. Acho que se as coisas tivessem terminado assim eu seria mais feliz. Disse isso hoje pra Helena e depois de uma discussão eu disse que não queria saber de Deleuze e de porra nehuma e disse que as únicas coisas que me interessavam nela eram suas pernas seus seios e sua boca. Ela me deu um tapa na cara e saiu sem me dar um beijo. Malditos franceses, também quero que ela se foda.

terça-feira, julho 13, 2010

Sobre os jornais


"O que censuro aos jornais é fazer-nos prestar atenção todos os dias a coisas insignificantes, ao passo que nós lemos três ou quatro vezes na vida os livros em que há coisas essenciais" PROUST

domingo, julho 11, 2010

Los más tiernos del mundial!


Eva González e Íker Casillas! Viva la Furia!
Desculpe me o Furlán mas Casillas foi o melhor do mundial pra mim!

sexta-feira, julho 09, 2010

citação


"A maçã que Eva ofereceu a Adão era só um objecto episódico; se lhe tivesse oferecido a serpente, também a teria comido". ONETTI

quinta-feira, julho 08, 2010

Foules


"Multidão, solidão: termos iguais e convertíveis para o poeta ativo e fecundo" BAUDELAIRE

Só se for a dois (By Cazuza)

Aos gurus da Índia
Aos judeus da Palestina
Aos índios da América Latina
E aos brancos da África do Sul
O mundo é azul
Qual é a cor do amor?
O meu sangue é negro, branco
Amarelo e vermelho

Aos pernambucanos
E aos cubanos de Miami
Aos americanos russos
Armando seus planos

Ao povo da China
E ao que a história ensina
Aos jogos, aos dados
Que inventaram a humanidade

As possibilidades de felicidade
São egoístas, meu amor
Viver a liberdade, amar de verdade
Só se for a dois
(Só a dois)

Aos filhos de Ghandi
Morrendo de fome
Aos filhos de Cristo
Cada vez mais ricos

O beijo do soldado em sua namorada
Seja pra onde for
Depois da grande noite
Vai esconder a cor das flores
E mostrar a dor
(A dor)

quarta-feira, julho 07, 2010

Sonhei mais uma vez com o diabo


"este abismo é o inferno, por nossos amigos povoado" BAUDELAIRE

El diablo en el ojo (BY Tindersticks)

I wouldn't shut your eyes just yet
I wouldn't turn the lights down yet
'Cos there's things you've gotta see here
There's things you've gotta believe of me

I wouldn't turn the sound down yet
Don't even touch the dials, not yet
'Cos there's things you've gotta hear here
There's things you've gotta believe of me

I wouldn't say a word just yet
Don't even open your mouth, not yet
'Cos there's things I've gotta say here
There's things you wanna hear from me

Foto de Manuel Álvarez Bravo

segunda-feira, julho 05, 2010

sobre la muerte

"Cuando se acerca el fin, ya no quedan imágenes del recuerdo; sólo quedan palabras".
El inmortal. BORGES

O conto pode ser lido em: http://www.apocatastasis.com/el-inmortal-jorge-luis-borges-carthapilus.php#axzz0sm20ildb

domingo, julho 04, 2010

Exílio


"Sê sempre morto em Eurídice"...
"Ó Senhor, dai a cada um sua própria morte"...
RILKE
"Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro". JUNG

Todos os Dedos da Mão

(...)
Estremece-se às vezes desde o chão,
Por se ter uma navalha no bolso:
por o sexo ser sumptuoso:
por causa dos buracos luminosos na camisa,
Tem-se medo do poder
da nudez,
A finura da carne: uma unhada
no coração:
o modo de fazer rodar o quarto:
o barulho que se ouve nos canos onde
a água vive - tudo
sob a ameaça de uma riqueza
brusca
em nós, Quando um raio se desencadeia
pela coluna vertebral
abaixo, O golpe entre as madeixas
frias, Toca-se na cama:
e nunca mais se dorme, Toca-se
onde os pulmões se cosem à boca para gritar,
Às vezes tem-se o dom de fincar os pés na paisagem
em massa, Um feixe
desenfeixa-se no avesso - estala
fora, Com que vozes se encontra a gente
quando
o pavor se faz música
ordem
exercício nominal?,
Arrancamo-nos a tudo como
se arranca a unha
a um dedo: ou o dedo à mão: ou à mão
ao gesto
amassando a terra como se penteia,
Pente que reabre a chaga e a alastra,
Que a aprofunda
como o sangue aprofunda a claridade
pequena
de um lenço, se o lenço
se molha na costura que sangra
perpetuamente, A coroa irrompe da cabeça
pelo ímpeto
da realeza animal, O choque de um astro
calcinaria tudo
- o ceptro que nos crava no mundo
o manto
o escudo
os anéis como nós de dedos,
Morre-se de alta tensão,
É o relâmpago de um troço avistado,
As voragens à força de janelas,
Ou é Deus que nos olha em cheio: dentro


Herberto Helder, A Cabeça Entre as Mãos


FOTO Edward Weston (1886–1958) – Tina on the Azotea 1924




lenguas

"En el aprendizaje de una lengua extranjera existe siempre un elemento irracional que hace que el aprendiz cultive la ilusión de que a través de esa lengua penetrará en una nueva región del ser."
También Berlín se olvida, Fabio Morábito

quinta-feira, julho 01, 2010

Estudos para uma bailadora andaluza




Dir-se-ia, quando aparece

dançando por siguiriyas,

que com a imagem do fogo

inteira se identifica.

Todos os gestos do fogo

que então possui dir-se-ia:

gestos das folhas do fogo,

de seu cabelo, sua língua;

gestos do corpo do fogo,

de sua carne em agonia,

carne de fogo, só nervos,

carne toda em carne viva.


Então, o caráter do fogo

nela também se adivinha:

mesmo gosto dos extremos,

de natureza faminta,

gosto de chegar ao fim

do que dele se aproxima,

gosto de chegar-se ao fim,

de atingir a própria cinza.


Porém a imagem do fogo

é num ponto desmentida:

que o fogo não é capaz

como ela é, nas siguiriyas,

de arrancar-se de si mesmo

numa primeira faísca,

nessa que, quando ela quer,

vem e acende-a fibra a fibra,

que somente ela é capaz

de acender-se estando fria,

de incendiar-se com nada,

de incendiar-se sozinha.


Subida ao dorso da dança

(vai carregada ou a carrega?)

é impossível se dizer

se é a cavaleira ou a égua.


Ela tem na sua dança

toda a energia retesa

e todo o nervo de quando

algum cavalo se encrespa.


Isto é: tanto a tensão

de quem vai montado em sela,

de quem monta um animal

e só a custo o debela,

como a tensão do animal

dominado sob a rédea,

que ressente ser mandado

e obedecendo protesta.


Então, como declarar

se ela é égua ou cavaleira:

há uma tal conformidade

entre o que é animal e é ela,

entre a parte que domina

e a parte que se rebela,

entre o que nela cavalga

e o que é cavalgado nela,

que o melhor será dizer

de ambas, cavaleira e égua,

que são de uma mesma coisa

e que um só nervo as inerva,

e que é impossível traçar

nenhuma linha fronteira

entre ela e a montaria:

ela é a égua e a cavaleira.


Quando está taconeando

a cabeça, atenta, inclina,

como se buscasse ouvir

alguma voz indistinta.


Há nessa atenção curvada

muito de telegrafista,

atento para não perder

a mensagem transmitida.


Mas o que faz duvidar

possa ser telegrafia

aquelas respostas que

suas pernas pronunciam

é que a mensagem de quem

lá do outro lado da linha

ela responde tão séria

nos passa despercebida.


Mas depois já não há dúvida:

é mesmo telegrafia:

mesmo que não se perceba

a mensagem recebida,

se vem de um ponto no fundo

do tablado ou de sua vida,

se a linguagem do diálogo

é em código ou ostensiva,

já não cabe duvidar:

deve ser telegrafia:

basta escutar a dicção

tão morse e tão desflorida,

linear, numa só corda,

em ponto e traço, concisa,

a dicção em preto e branco


Ela não pisa na terra

como quem a propicia

para que lhe seja leve

quando se enterre, num dia.


Ela a trata com a dura

e muscular energia

do camponês que cavando

sabe que a terra amacia.


Do camponês de quem tem

sotaque andaluz caipira

e o tornozelo robusto

que mais se planta que pisa.


Assim, em vez dessa ave

assexuada e mofina,

coisa a que parece sempre

aspirar a bailarina,

esta se quer uma árvore

firme na terra, nativa,

que não quer negar a terra

nem, como ave, fugi-la.


Árvore que estima a terra

de que se sabe família

e por isso trata a terra

com tanta dureza íntima.


Mais: que ao se saber da terra

não só na terra se afinca

pelos troncos dessas pernas

fortes, terrenas, maciças,

mas se orgulha de ser terra

e dela se reafirma,

batendo-a enquanto dança,

para vencer quem duvida.


Sua dança sempre acaba

igual como começa,

tal esses livros de iguais

coberta e contra-coberta:

com a mesma posição

como que talhada em pedra:

um momento está estátua,

desafiante, à espera.


Mas se essas duas estátuas

mesma atitude observam,

aquilo que desafiam

parece coisas diversas.


A primeira das estátuas

que ela é, quando começa,

parece desafiar

alguma presença interna

que no fundo dela própria,

fluindo, informe e sem regra,

por sua vez a desafia

a ver quem é que a modela.


Enquanto a estátua final,

por igual que ela pareça,

que ela é, quando um estilo

já impôs à íntima presa,

parece mais desafio

a quem está na assistência,

como para indagar quem

a mesma façanha tenta.


O livro de sua dança

capas iguais o encerram:

com a figura desafiante

de suas estátuas acesas.


Na sua dança se assiste

como ao processo da espiga:

verde, envolvida de palha;

madura, quase despida.


Parece que sua dança

ao ser dançada, à medida

que avança, a vai despojando

da folhagem que a vestia.


Não só da vegetação

de que ela dança vestida

(saias folhudas e crespas

do que no Brasil é chita)

mas também dessa outra flora

a que seus braços dão vida,

densa floresta de gestos

a que dão vida a agonia.


Na verdade, embora tudo

aquilo que ela leva em cima,

embora, de fato, sempre,

continui nela a vesti-la,

parece que vai perdendo

a opacidade que tinha

e, como a palha que seca,

vai aos poucos entreabrindo-a.


Ou então é que essa folhagem

vai ficando impercebida:

porque terminada a dança

embora a roupa persista,

a imagem que a memória

conservará em sua vista

é a espiga, nua e espigada,

rompente e esbelta, em espiga.


(MELO NETO, João Cabral de 1986, p. 127) Foto: "En el Covadonga" Pedro Meyer