sexta-feira, novembro 30, 2007

Literature

..."From dream to dream and rhyme to rhyme I have
ranged
In rambling talk with an image of air:
Vague memories, nothing but memories".

YEATS

quinta-feira, novembro 29, 2007

Na biblioteca à noite

Lá fora chovia. Dentro, choviam idéias. O menino se assustou, pensou que o sorriso não era pra ele. A menina sorriu e se assustou, não conhecia o menino. Começou uma conversa do tipo pensei que você fosse o meu amigo. Ele lia O Banquete e entendeu tudo. Ela gostava de viagens e concluiu que ele seria sua passagem. Ela pegou Yeats e a chuva nunca mais parou.

quarta-feira, novembro 28, 2007

Pastiches literários

I
Gostava de ler na biblioteca. Silêncio, não havia ali, era frequentador raro. Era o burburinho que o fazia concentrar-se. As conversas mais absurdas eram travadas na biblioteca. Ele buscava respostas mas não conseguia sequer ler o texto - porque era dever e não prazer.

II
Se Jesus não fosse aquele pregado na cruz... Se fosse o arremessador de discos, David, ou o Pensador, todos sofreriam menos. Os negros menos. Os judeus menos. Os índios menos. E eu menos.

III
A poesia de um abraço, carinho que não corresponde à realidade. Como é bom te encontrar, difícil te esquecer. O meu maior medo é que você se esqueça de mim.

ouça também http://www.youtube.com/watch?v=PuIVOrE3F_U&feature=related

sábado, novembro 24, 2007

Na casa de Bete


Para perceber mais leia Laura


I
Sonhei com Michele esta noite. Carícias, olhares, beijos, afeto, diálogos. Me sentia mulher apaixonada, cheia de dúvidas e certezas. Ela se sentia leve. Me dizia que a beleza está em tudo aquilo que não vemos, naquilo que não se pode tocar. Tocou pra mim Sonho de Egberto Gismonte. Estávamos na casa de Bete. Quando ela saiu do piano, sentou-se no sofá ao meu lado. Estávamos bem confortáveis, talvez por causa do sofá, maravilhoso, um mar de almofadas e espuma. Bebíamos uma espécie de chá gelado. Assistíamos a um filme em preto e branco sobre uma corte japonesa. Me disse umas coisas que não pude entender. Me beijou, eu entendi.
Ela me pediu que a amasse. Eu disse que a amava desde sempre.

II

Ocupo-me com a chuva e as gotas que batem contra os postigos. Como terminar algo que nem ao certo começou. Uma ausência que me povoa, está no meu apartamento, nos móveis, nos objetos sobre os móveis. Abro a janela do dia cinza. Trovões, gotas, não sinto frio. Os carros passam, a chuva continua como a ausência de Michele. O barulho do pneu sobre o asfalto molhado não me deixa rememorar tudo o que deveria ter sido e que não foi. Michele me dá prazer sem saber. A chuva continua, juro que ouvi dizer que se tratava de algo passageiro. Ouvi dizer, também, que Michele seria passageira em minha vida. Odeio previsões. E a chuva nunca mais parou.

sábado, novembro 17, 2007

(Blue Line Swinger )Yo La Tengo

You, you won't talk about what we see when the lights are out
And I'm willing to hold your hand while you're lost,while you're so full of doubt
Walk for miles, on your own loose ends,
I'll find you thereI'll find you there
You, you walk up thin blue lines possible with reality
And I, I see through small red eyes,glowing still at your uncertainty
Out of darkness you will come around,
I know you willI know you will
And I'll find youAnd I'll find you there

terça-feira, novembro 13, 2007

A piece of Ginsberg (HOWL)


for Carl Salomon

"I saw the best minds of my generation destroyed by madness, starving hysterical naked,
dragging themselves through the negro streets at dawn looking for an angry fix,
angelheaded hipsters burning for the ancient heavenly connection to the starry dynamo in the machinery of night,
who poverty and tatters and hollow-eyed and high sat up smoking in the supernatural darkness of cold-water flats 'doating across the tops of cities contemplating jazz,
...
...
who scribbled all night rocking and rolling over lofty incantations which in the yellow morning were stanzas of gibberish,
who cooked rotten animals lung heart feet tail borsht & tortillas dreaming of the pure vegetable kingdom,
who plunged themselves under meat trucks looking for an egg,
...
who threw their watches off the roof to cast their ballot for Eternity outside of Time, & alarm clocks fell on their heads every day for the next decade,
who cut their wrists three times successively unsuccessfully, gave up and were forced to open antique stores where they thought they were growing old and cried,
...
who drove crosscountry seventytwo hours to find out if I had a vision or you had a vision or he had a vision to find out Eternity.

...
who journeyed to Denver, who died in Denver, who came back to Denver & waited in vain, who watched over Denver & brooded & loned in Denver and finally went away to find out the Time, & now Denver is lonesome for her heroes,

...

GINSBERG, NYC, 1956

Desafio

A pergunta é o seguinte: como defender a literatura na sala de aula? Eu quero dizer, numa sala de aula do Capão e/ou do Jardins?

segunda-feira, novembro 12, 2007

"I'm sinking in the quicksand of my thought"

NO MATTER WHAT YOU DO, THERE’S ALWAYS SOMEONE WATCHING YOU

Quando não se tem nada a fazer, a gente faz filosofia. Ou pensa que faz. Quanto ao tempo, estamos sempre a tentar enganá-lo. Mas o ponto crucial é sempre o mesmo: aparência ou essência, como diz Platão. Assim na mesa de um bar, num banco de praça, na fila do cinema, no ônibus lotado, você pensa: será que enxergamos a essência ou tudo é aparência?

Perceber a realidade é fundamental. Agora o problema complica se a realidade é do tamanho do nosso intelecto (vai ter muito mais gente no mundo da lua). Talvez ela não exista em essência, talvez, seja algo inventado por nossas idéias, apenas uma captação, um recorte do todo e nada mais. Como uma foto que se tira de uma menina que passa correndo. Será que ela vai à padaria buscar pão ou vai ao encontro do amante? Ninguém sabe, pouco importa, mas é a foto que fica. O resto passa.

("it was nice to see you again and say your name to you" a mother says to her son, which she hasn't seen him for quite a long time)

sexta-feira, novembro 09, 2007

Belo Belo (II)



"Belo belo minha bela

Tenho tudo que não quero

Não tenho nada que quero

Não quero óculos nem tosse

Nem obrigação de voto

Quero quero

Quero a solidão dos píncaros

A água da fonte escondida

A rosa que floresceu

Sobre a escarpa inacessível

A luz da primeira estrela

Piscando no lusco-fusco

Quero quero

Quero dar a volta ao mundo

Só num navio de vela

Quero rever Pernambuco

Quero ver Bagdá e Cusco

Quero quero
Quero o moreno de Estela

Quero a brancura de Elisa

Quero a saliva de Bela

Quero as sardas de Adalgisa

Quero quero tanta coisa

Belo belo

Mas basta de lero-lero

Vida noves fora zero".


Petrópolis, fevereiro de 1947

MANUEL BANDEIRA

quinta-feira, novembro 08, 2007

para quem lê nota de rodapé

leia tudo que puder em http://clubedocamba.blogspot.com/ é essa minha autora preferida e tem algo em seus textos gostoso de ler e difícil de explicar

pessoas, livros, idéias e etc e tal

de 15 a 18 de novembro balada literária, para maiores informações:
http://eraodito.blogspot.com/
http://doidivana.wordpress.com/

Aquário (microconto)

Tudo acaba, é certo que... Mas ainda encontrava pelo apartamento muitas coisas que a traziam de volta. E aquele bilhete era o melhor ou pior dos achados. Lembre-se de trazer meu aparelho e a caixinha, TE AMO. Porra, isso o fez lembrar de providenciar uma faxina profunda pelo quarto, armários, e escritório. Doar a dupla de canecas, e nunca mais tomar café da manhã em casa, também faziam parte das prioridades. Isso sim seria voltar ao normal.

segunda-feira, novembro 05, 2007

Secos & molhados (Aventurar)

"Aventurar
Traduzir o fugir em prazer
Escapar sem lugar pra pousar
Nesta ilha
Iluminar
Traduzir o impossível em luz
Na clareza serena e bonita
Dos artistas do tempo
Felicitar
Traduzir na emoção
Motivar
Começar a viver e beber como antigas crianças
Alvorecer
Como um raio de sol sobre o céu
Traduzir a vontade e querer
Tudo como antes
Reinventar
Traduzir o fazer em prazer
Tudo ouvir, tudo ver e falar
Olhos novos no ar."