sexta-feira, janeiro 05, 2024

Las cosas que perdimos en el fuego - diário de leitura


 


Encontrei esse livro de contos de Mariana Enriquez na rua DR. Tristán Navaja em Montevideo. Na livraria Bildung Libros atendido por um livreiro tímido e triste naquele inverno de 2023. Nessa mesma calle há uma série de livrarias de livros novos e usados e aos domingos tem uma feiira de livros numa de suas perpendiculares.

Pensei que estivesse fora de catálogo pois já havia procurado em umas quatro boas e grandes livrarias da cidade e não o encontrava. Tampouco encontrava Los perigos de fumar en la cama de 2009. A compilação de contos Las cosas que perdimos en el fuego é de 2016. A edição é de Anagrama. A gravura da capa é uma ilustração muito peculiar de Aleksandra Waliszewska (1976). É nítida a influência que vai de Giotto a De Chirico nos traços da polonesa. 

Ainda sobre a ilustração, no fundo há uma mesa, umas plantas em torno da mesa e um espelho mais ao fundo no centro da mesa. Os tons são bem sombrios, marrom, cinza e negro. No primeiro plano, há uma jovem mulher pálida e loira, usando um longo vestido vermelho, está sentada ao centro da mesa num banco. Ela está penteando o cabelo e olhando diretamente para nós, os observadores.

Os detalhes da gravura, o que mais chama atenção além do vestido vermelho em meio as outras cores mortas, são as pernas cruzadas que saem do vestido e são de cabra, peludas e com cascos. E como   ela esta´de costas para o espelho, do reflexo de sua cabeça no espelho vemos sair dois chifres.

O livro se abre com duas citações em inglês, uma de Emily Bronte extraída do Morro dos ventos uivantes, e acredito que a outra seja dois versos de Anne Sexton extraídos do poema For the Year of the Insane. E o que elas têm em comum? Não sei mas parece haver um diálogo netre elas: uma é um desejo, e a outra uma constatação, ou talvez uma pequena oração beirando o pagão.

I wish I were a girl again, half savage and hardy, and free. 

Emily Brontë, Wuthering Heights


I am in my own mind.

I am locked in the wrong house.

Anne Sexton, For the year of the insane

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