Para Olgária Matos:
As nuvens e a garoa comovem
esta manhã. De longe escuto aos
adestradores de desejos, não importa, vivemos num ruído continuo e
intermitente, não importa, caminho, para onde? Não sei, não importa, o corpo
foi feito pra movimentar-se, caminhar e sonhar novos e antigos espaços, o corpo foi feito
para ser consumido pelos sonhos de liberdade.
Tateando numa noite qualquer
retinta, percebo a vida breve e vislumbro suas metáforas, suas figuras de
linguagem, num eterno pasmo pueril, sempre atento, porém é difícil estar sempre
atento, tão fácil baixar a guarda nesses tempos de medos, violência, ignorância
e preconceitos, tempos de cientificismo, de ciência em si, de técnicas
despoetizadoras, tempos de espetáculo e ruído,
de ética do consumo, tempos do Capital como religião, tempos de trabalho
alienado e urbanização alienante, tempos de urbanismo da alienação em nome da (i)lógica
do mercado.
“Si el bien no existe, hay que inventarlo.” Caminho como muitos
de minhas irmãs e irmãos, como meus pais, como meus mortos. Para onde? Não sei,
não importa. O importante é tentar perceber melhor o presente, tentar enxergar
melhor as coisas e seus fantasmas. Aproveitar a paisagem. Elaborar e amar até o
fim. Projetar-se.
O entardecer parece sempre a
parte mais bela e melancólica desta viagem.
(Alchelas )
(Alchelas )
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