(Imagem by Ronim)
Em
minha solidão, triste de chuva, penso em Carlos Antonio López, Francisco Solano, el Coronel Aureliano
Buendía, el Comandante Fidel Castro, penso em Che Guevara. Penso em todas as
Úrsulas, mães de nosso continente. Penso na solidão e na cumplicidade
fraternal. Penso na cumplicidade e na solidão
da sororidade. Penso nos feminicídios. Penso na mãe África. Penso nos
analfabetos de nossa América Latina. Penso no abismo incolor do nada e na
espiral luminosa do possível. Penso na matéria da memória, em seu tempo e em sua consciência. Penso na legitimação da
violência e na legitimação da barbárie promovida pelo Estado. Penso no
conservadorismo da indústria cultural e penso na reificação do ser humano
provocada por essa mesma indústria. Penso nos filmes de ação norte-americanos e
em débeis heróis inverossímeis, penso na épica distorcida e anacrônica de um
mundo artificialmente maniqueísta. Penso nos vídeo games de hoje e no sadismo
latente e patente desses jogos além do gozo também sádico de seus jogadores
cultivado pelo comportamento de massas. Penso em Cem anos de solidão, penso nas
Veias abertas da América Latina e também penso e rumino a Literatura, violência
e melancolia. Penso em aprender a recontar essas histórias e outras
tantas. Penso na paixão dos suicidas e
na paixão dos que lutam pela terra, na paixão dos que lutam pela educação, dos que lutam por condições
mais dignas de trabalho, penso nos que lutam por condições dignas e liberdade
de se amarem. Penso no papel da mídia e de seus deformadores de opinião. Penso
em ilusões e desejos. Penso em quem cozinha o banquete da vitória. Penso em
Brecht. Penso: entre el deseo y la
palabra, un puente insalvable. Penso no consumo no lugar da felicidade.
Penso em Esperanza Araiza. Penso em Malinche. Penso em aproveitar melhor a
caminhada, penso em mirar, beber e absorver a paisagem, suas cores, seus
sabores e seus odores. Penso no Tempo. Penso na estética e na ética. Penso em
escrever e ler todos os dias. Penso na competição que gera a falta de solidariedade.
Penso nas ilhas de Cuba e do Haití. Penso em fantasias e ficções. Penso em
Paula C. Penso em Beatriz, Benjamin,
penso nas crianças desamparadas nas ruas e penso nos órfãos. Penso nas chacinas
de negros e pobres nas periferias. Penso em Buenos Aires e leio Alejandra
Pizarnik. Penso no México, em meus bons amigos, carnalitos, régios, tapatíos,
companheiros de aventuras e de leituras, penso no México todo tempo, em seus
heróis e suas canções. Penso em meu pai e penso em minha irmã. Penso em escrever
no ar e em recitar poemas. Penso em levantar defuntos e em salvar nossos
mortos. Penso em Walter Benjamin. Penso em meus irmãos, penso nos vencidos, e
nos que resistem às intempéries das ruas, sobretudo penso em nós, subalternos. Penso
no acriançamento das palavras. Penso
em Remedios
en la clepsidra secreta de las polillas. Penso em recordar
Margarida suas histórias, sua dor e morte, penso em Antonio, Dona Francisca,
Manoel e Dona Nazaré. Sinto e penso. Penso que há golpes tão fortes na vida.
Penso: seria a solidão um artifício, uma invenção?
Nenhum comentário:
Postar um comentário