quarta-feira, janeiro 26, 2011

Cuadro por cuadro (Historias mínimas)


Cuadro por cuadro

Quando se trata de pensar e escolher uma cena favorita, e por conseguinte, um filme favorito, aflui na memória uma massa amorfa de cenas que não sei realmente distingui-las. Minha mente, acostumada com as imagens, praticamente não as saboreia, mas as absorve. Quero dizer, na era do espetáculo e da imagem, é muito difícil você desfrutar as imagens. No máximo, absorvemos elas sem muito prazer.

Então quando nos propomos a uma tarefa tão árdua vem primeiro, acho eu, títulos memoráveis, histórias favoritas e diretores consagrados. Fellini, Truffault, Kieslowski, ou os planos sequências de Andrei Tarkóvski, Win Wenders, Carlos Reigadas, aí as cenas começam a aparecer, no entanto, ainda como num daqueles sonhos cujo relato se torna impossível e incomunicável dado a quantidade de informação e a rapidez que as imagens lhe apareceram no sonho. Aí vc se volta para casa e, como um bom brasileiro aficionado pela cidade de São Paulo, se lembra de Person e dos planos de São Paulo S/A. Ou se lembra da criatividade de Glauber Rocha e a sua sofisticação precária na maneira de filmar o Eldorado. Ou se lembra dos requintes de Walter Sales e Fernando Meireles que, embora tenham muita técnica e recursos, às vezes lhes falta a cor da paixão em suas cenas. No entanto, os planos da já famosa galinha na abertura e final de Cidade de Deus nos fazem suspirar e achar que ainda há uma luz no fim do túnel.

Mas não queria ser bairrista, tampouco nacionalista, e me lembrei que o cinema argentino sempre me impressiona por suas cores, sua paixão e musicalidade. Um filme que não me sai da cabeça é o Histórias mínimas de Sorín. Assim, para não cair nas velhas cenas inesquecíveis que já se tornaram mais que previsíveis neste tipo de escolha onde Mastroiani e Anita Ekberg são repetidamente citados, ou um plano sequência de Orson Wells, no caso de a escolha ser mais intelectualizada, eu fico com qualquer cena deste filme de Sorín que me enche de emoção cada vez que o assisto.

Mas para não ser injusto na minha resposta e refinar com precisão as cenas, poderia escolher os planos que envolvem o personagem Don Justo, um octogenário, em sua busca por seu cachorro Malacara. Talvez a cena do aparente reencontro, talvez a primeira cena em que aparece Don Justo na beira da estrada entretendo a criançada. As cores azul e branca do céu da Patagônia austral de Sorín tem mais outras tantas cores. O amêndoa ou o laranja da sua terra e de seu horizonte se transformam em mais outros milhões de cores.


Inspirado num texto de Adriana Aizenberg na sessão Radar do jornal argentino Pagina 12


http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/radar/17-6776-2011-01-26.html


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