terça-feira, novembro 30, 2010

Sobre o amor próprio (ou sobre o Pandemoniun)


"Nada é tão impetuoso quanto seus desejos, nada tão oculto quanto seus desígnios, nada tão prudente quanto a suas condutas; sua flexibilidade não se pode representar; suas transformações ultrapassam as das metamorfoses, e seus refinamentos, os da química. Não se pode sondar a sua profundidade, nem perfurar as trevas dos seus abismos(...) Muitas vezes ele é invisível a si mesmo, então concebe, alimenta e cria, sem o saber, um grande número de afeto e ódios, e os forma tão monstruosos que, ao trazê-los à luz, não os reconhece ou não pode resolver-se a confessá-los(...) Ele é todos os contrários: imperioso e obediente, sincero e dissimulado, misericordioso e cruel, tímido e audacioso(...) É inconstante, e além das mudanças que dependem de causas exteriores, há uma infinidade que nasce dele e de seu próprio fundo; ele é inconstante na inconstância, na leviandade, no amor, na novidade, na lassidão e na repugnância; é caprichoso(...) vive de tudo, vive de nada. Eis a pintura do amor prórpio, cuja vida inteira não é senão uma grande e longa agitação; o mar é a sua imagem sensível, e o amor próprio encontra no fluxo e refluxo de suas vagas contínuas uma fiel expressão da sucessão turbulenta de seus pensamentos e de seus eternos moviementos."
La Rochefoucauld
Photo by Alev Adil

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