terça-feira, novembro 30, 2010

Sobre o amor próprio (ou sobre o Pandemoniun)


"Nada é tão impetuoso quanto seus desejos, nada tão oculto quanto seus desígnios, nada tão prudente quanto a suas condutas; sua flexibilidade não se pode representar; suas transformações ultrapassam as das metamorfoses, e seus refinamentos, os da química. Não se pode sondar a sua profundidade, nem perfurar as trevas dos seus abismos(...) Muitas vezes ele é invisível a si mesmo, então concebe, alimenta e cria, sem o saber, um grande número de afeto e ódios, e os forma tão monstruosos que, ao trazê-los à luz, não os reconhece ou não pode resolver-se a confessá-los(...) Ele é todos os contrários: imperioso e obediente, sincero e dissimulado, misericordioso e cruel, tímido e audacioso(...) É inconstante, e além das mudanças que dependem de causas exteriores, há uma infinidade que nasce dele e de seu próprio fundo; ele é inconstante na inconstância, na leviandade, no amor, na novidade, na lassidão e na repugnância; é caprichoso(...) vive de tudo, vive de nada. Eis a pintura do amor prórpio, cuja vida inteira não é senão uma grande e longa agitação; o mar é a sua imagem sensível, e o amor próprio encontra no fluxo e refluxo de suas vagas contínuas uma fiel expressão da sucessão turbulenta de seus pensamentos e de seus eternos moviementos."
La Rochefoucauld
Photo by Alev Adil

segunda-feira, novembro 29, 2010

sobre o homem subterrâneo ( o narrador Brás Cubas)


"Satura tota nostra est"
Quintiliano

"Esquecemos facilmente nossas faltas quando só nós as conhecemos"
La Rochefoucauld

"Je suis moy-mesme la matière de mon livre"
Montaigne

" O mal começa com a consciência demasidamente aguda, pois o excesso de lucidez mata as ilusões indispensáveis a subsistência da vida, que só pode desenvolver-se num clima de inconsciência, a inconsciência da ação"
Augusto Meyer

Último trabalho do ano de 2010: Alguns aspectos das leituras de Bosi e Schwarz sobre Machado de Assis

sexta-feira, novembro 26, 2010

porque Murilo ( "pensar é escrever sem acessórios" Mallarmé)


O Professor Aguiar



"O professor diz que a função da filosofia é ortopédica, ajudando a restaurar o mundo deformado;"(...)


Deixo a horta-jardim, couves e bogaris caem de sono, a academia de gatos mia; canta no fundo um galo garnisé. O ar sobe ou desce? Dona Eufrásia acena-me um adeus repetido, ferroviário, diz que vai cair uma tempestade, ri muito; e cai mesmo; o céu e a terra trazem guarda-chuvas diferentes.


Murilo Mendes ( A Idade do Serrote)

quinta-feira, novembro 25, 2010

porque por trás de um "gênio" sempre há uma tradição


COMIGO ME DESAVIM




Comigo me desavim,
Sou posto em todo perigo;
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.


Com dor, da gente fugia,
Antes que esta assim crescesse:
Agora já fugiria
De mim, se de mim pudesse.
Que meio espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo
Tamanho imigo de mim?


F. Sá de Miranda

quarta-feira, novembro 24, 2010

Daguerreótipo - ou a imortalidade pode estar num par de sapatos


"No instante supremo, o homem, cada homem, fica entregue para sempre a seu gesto mais ínfimo e cotidiano".

Agamben

"Sim, a felicidade é um par de botas”

Matias Deodato de Castro e Melo

Foto: Boulevard du Temple em 1838 ( Daguerre da janela de seu estúdio, em horário de pico.)

http://machado.mec.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=166&Itemid=173

Sobre raisins e nuts, batismo de fogo, insônia, Machado e Rosa


El diablo sólo pide aquiescencia... nada de luchas ni conflictos.

Alchismes dice para Almenso que Alchido estaba Alnuts. (Almenso contestó que no, que Alchido era Alchevere)

Alchido dice que Alchismes era Alchingo de Alchistes y demasiado Almetiche.

Lejano del centro, aún intentando mantnerse de pie Alchelas decía que para explicar la teoria del espejo ni Freud , tampoco Lacan, sino, Machado, o sí uno quería despertarse de la pesadilla que aguantara Guimarães. Después firmó Alchomskies y se fue estudiar linguística.

Alborotado dijo que ya era tarde para estudiar pero Aldesespero dijo que no, a lo mejor, dijo que Alchelas tenía que parar de ser Alhuevas.





Foto de Antonin Artaud, a quem ainda não fui apresentado

terça-feira, novembro 23, 2010

Eu posso ir na janela?


Ando desassossegado por esses dias. Tudo me faz associar idéais. Uma cor, um par de tênis, um par de pernas, um perfume, tudo me faz lembrar você. Doze andares, meus demônios e pesadelos vão e voltam. Você fica. Você fica com outro e eu me arrependo de nunca ter ficado com ela (ele). Hoje, assisti um colóquio com seu professor favorito mas você ausentou-se, preferiu ficar com ela. No colóquio, falaram sobre tanta coisa, além de falarem sobre Winnicott, seu autor favorito, e eu pensava na primeira vez que você me falou sobre ele. Também no colóquio, um professor falou sobre o Onetti. Eu queria ser Onetti, no entanto, não consigo juntar quatro palavras pra lhe mandar um correio. Não consigo falar que quando eu presto atenção no cabelo de outras mulheres estou a fantasear os seus. Não consigo parar de pensar na sua pele, nesse gosto de fruta estrangeira e familiar que você tem. Não consigo elogiar o corte de cabelo de uma amiga com medo de parecer outra coisa porque tudo me excita. Não consigo ser eu mas sou outro que nunca gostou de ser estrangeiro. Mas afinal, toda mulher me é estrangeira? faz três meses que queria lhe perguntar isso, quando você não estivesse acompanhada, mas não tive coragem. Nunca tenho coragem (Lhe neguei três vezes e agora é tarde pra dizer sim, entra e fecha a porta. )Não consigo parar, não consigo parar de pensar. As pessoas me enfastiam. Os pessoas me aborrecem. El diablo sólo pide aquiescencia... nada de luchas ni conflictos. O diabo anda a me perseguir por esses dias. Me lembro da primeira noite em que você me disse me da pena. Não consigo viver eu mesmo. Todos os caminhos me levam a você mas é sempre tarde. E tudo me faz pensar... as conexões que eu faço nunca terminam bem, sempre caio na minha prórpia rede. Você só me fez mudar mas depois mudou de mim. Talvez uma viagem, talvez Sinaloa, talvez Buenos Aires, talvez Lisboa, talvez Santa Maria.

O retrato do artista quando moço é de Juan Carlos Onetti

Paixão por epígrafes




"El diablo sólo pide aquiescencia...
nada de luchas ni conflictos".
Aquiescencia.




Na foto David Toscana ( By Gailarde)

Armando me mandou isso sobre os Prunedas ( Duelo por Miguel Pruneda):

http://de10.com.mx/9978.html?awesm=fbshare.me_AXbn7

Me lembrei de que em Estación Tula também há este tipo de morte sugerida.

Gracias Armando Y Cassandra

segunda-feira, novembro 22, 2010

Entre uma coisa e outra venha o diabo e escolha

O ano da morte de Ricardo Reis

"Todos nós sofremos duma doença, duma doença básica, digamos assim, esta que é inseparável do que somos, se não seria mais exato dizermos que cada um de nós é a sua doença, por causa dela somos tão pouco, também por causa dela conseguimos ser tanto, entre uma coisa e outra venha o diabo e escolha, também se costuma dizer"...

Ricardo Reis (Segundo Saramago)

O Ano da morte de Saramago


Sobre a morte: "diferença entre ter estado e já não estar"

Assisti José e Pilar. Um filme que os leitores mais traumados com a literatura assim como os jornalistas mais despreparados deveriam ser obrigados a assistir, jajaja. Poético, cômico, trágico e mágico ao mesmo tempo.

Saramago só poderia ser companheiro de Pilar, tal qual Baltasar só poderia ter por companeira Blimunda.

domingo, novembro 21, 2010

Assim é


Ser sincero comigo mesmo, encontrar meu tom. Faz três dias que eu não como, semana que eu não escarro, Adão foi feito de barro, sobrinho me dá um cigarro. Faz três dias que eu lhe neguei três vezes. Como posso ser tão incoerente num tão curto espaço de tempo? Como negar uma das criaturas mais lindas que eu já conheci? Ignorância, fraqueza, covardia, ou seja, porque sou eu. Remoer a vergonha, indigna pois não se trata de um outro adversário,mas sobretudo, meu próprio medo que sempre me vence.Todos passarinhos choraram de pena gemida nos ninhos e o herói gelou de susto.


Foto: Iara Rennó (contra capade Macunaíma Ópera Tupi) By Bruno Nucci

quinta-feira, novembro 18, 2010

ya los extraño carnalitos


"A realidade quando incrível ou muito nova corta o desejo do fictício. (Tese a ser discutida.)"
ANA CRISTINA CESAR

quinta-feira, novembro 11, 2010

Para Auxilio Lacouture, Bolaño, Arguedas e todos os latinoamericanos



"Saber pensar o espaço para saber nele se organizar, para saber ali combater... Afinal nem toda região montanhosa arborizada é Sierra Maestra".

(Yves Lacoste, in A Geografia serve, antes de mais nada, para fazer a guerra)
Para quem ainda faz letras:
Podemos pensar e organizá-lo desde a sala de aula, no banheiro - como Auxilio - na Padaria, na biblioteca ou na Tapioca. Pois a literatura, quer queiram ou não, ainda é o lugar da utopia, da resistência, faz sentido?

quarta-feira, novembro 10, 2010

wanna be


"Queríamos, pobres de nosotros, pedir auxilio; pero no habia nadie para venir en nuestra ayuda"
PETRONIO




queria ser Jeanne

sábado, novembro 06, 2010

Dispersão


(...)
E sinto que a minha morte –
Minha dispersão total –
Existe lá longe, ao norte,
Numa grande capital.
(...)
Mário de Sá Carneiro

sexta-feira, novembro 05, 2010

Sobre ou sob? eis a questão Pessoa



A queda

(Mário de Sá-Carneiro)


Eu que sou o rei de toda esta incoerência,
Eu próprio turbilhão, anseio por fixá-la
E giro até partir... Mas tudo me resvala
Em bruma e sonolência,

Se acaso em minhas mãos fica um pedaço de ouro,
Volve-se logo falso... ao longe o arremesso...
Eu morro de desdém em frente dum tesouro,
Morro à míngua, de excesso.

Alteio-me na côr à força de quebranto,
Estendo os braços de alma — e nem um espasmo venço!...
Peneiro-me na sombra — em nada me condenso...
Agonias de luz eu vibro ainda entanto.

Não me pude vencer, mas posso-me esmagar,
— Vencer às vezes é o mesmo que tombar —
E como inda sou luz, num grande retrocesso,
Em raivas ideais ascendo até ao fim:
Olho do alto o gêlo, ao gêlo me arremesso...

* * *

Tombei...

E fico só esmagado sobre mim!...



Paris, 8 de maio de 1913

SÁ-CARNEIRO, Mário de. "A queda". In: Dispersão

Obra: Klee?

Ouro Preto


'Casamiento de negros'

Se ha formado un casamiento
todo cubierto de negros,
negros novios y padrinos
negros cuñados y suegros,
y el cura que los casó
era de los mismos negros.

Cuando empezaron la fiesta
pusieron un mantel negro
luego llegaron al postre
se sirvieron higos secos
y se fueron a acostar
debajo de un cielo negro.

Y allí están las dos cabezas
de la negra con el negro,
amanecieron con frío
tuvieron que prender fuego,
carbón trajo la negrita
carbón que también es negro.

Algo le duele a la negra
vino el médico del pueblo
recetó emplasto de barro
pero del barro más negro
que le dieron a la negra
zumo de maqui de cerro.

Ya se murió la negrita
que pena p´al pobre negro,
la echó dentro de un cajón
cajón pintado de negro,
no prendieron ni una vela
ay, qué velorio más negro.

Y ya partió la negrita
levitando para el cielo
Era un dia muy nublado
todo se veía negro
Y abrió la puerta San Pedro
que era de los mismos negros

(música recolhida e adaptada do folclore chileno por Violeta Parra, última estrofe de Polo Cabrera)

violão e voz Milton Nascimento

Grupo Tacuabé

y etc

Ouvir Clube Da Esquina 2

quarta-feira, novembro 03, 2010

Belo Horizonte, quanta história em tão pouco tempo



"De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro".

O Encontro Marcado FERNANDO SABINO

Ruas da cidade


(Lô Borges e Márcio Borges)

Guaicurus, Caetés, Goitacazes
Tubinambás, Aimorés
Todos no chão
Guajajaras, Tamoios, Tapuias
Todos Timbiras, Tupis
Todos no chão
A parede das ruas
Não devolveu
Os abismos que se rolou
Horizonte perdido no meio da selva
Cresceu o arraial
Arraial

Passa bonde, passa boiada
Passa trator, avião
Ruas e reis
Guajajaras, Tamoios, Tapuias
Tubinambás, Aimorés
Todos no chão
A cidade plantou no coração
Tantos nomes de quem morreu
Horizonte perdido no meio da selva
Cresceu o arraial
Arraial


"Então ouvia a chuva. Ouvir era uma absoluta atenção às coisas. Tudo ficava suspenso no vazio".

TEOLINDA GERSÃO