quarta-feira, junho 02, 2010
manuscrito sem título by Ana Cristina Cesar
"uma pessoa disse para outra:
- considere também como nós
nos relacionamos com crueldade. Não é apenas represen-
tação, é também a crueldade que nos aproxima - a digna
crueldade que acompanha os limites - inclusive os limites da
representação. Agora você entende o
desapontamento que trancou a minha voz: eu vinha da
expectativa do intenso calor
das avenidas. Eu vinha de uma febre por um calor
ainda mais intenso.
Dessa vez não ousei me dizer nada, eu não podia me
movimentar com a mesma crueldade, eu perdi as distancias.
Era o momento de pronunciar a
crueldade: "o máximo que pode acontecer". Mas tinha
começado um outro tipo de fraqueza, uma febre pouco
dirigível, entende? (acho que era a paixão pelo terror).
Eu tenho náusea, porque a representação não
me comove mais".
(Antigos e soltos, p. 377)
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