segunda-feira, julho 13, 2009

TRÓPICO DAS CABRAS – OU A UM BOM ENTENDOR



Minha mãe queria que eu tivesse cachinhos e fosse ruiva, nasci com cabelos negros e liso, parecia uma indiazinha. Ando por esses dias de cabeça baixa pois tenho vergonha do que o tempo fez com meu rosto.
Desço do metrô na Vila Maria, depois, a avenida Assis Dardanelos, por umas quadras encontro meus clientes. Minha mãe também queria que eu fosse homem.
Trinta e três anos, era uma puta velha, pior que jogador de futebol, pelo menos eles comiam quem queriam.
Eu ainda tinha vergonha da minha cor e usava bloqueador só pra ficar mais branco. Nem cumprimentava ou falava com os vizinhos por medo. Mamãe dizia pra não conversar com estranhos.
Gostava do calendário chinês que dizia que 2009 era o ano do boi, mas eu era coelho. “Naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele tá doendo em mim”, cantarolou e atravessou o sinal vermelho pra pedestres.
To Biatchan and Doug and Meredith y Cristina que me hizo ver “Lugar Sin Límites”

Um comentário:

biathan disse...

DESENVOLVA !!!! ESCREVA MAIS ,
TEM CALDO BOM AQUI !!! GOSTEI MUITO.
INTROSPECTIVO E CRÍTICO, NÃO ACHEI PESSIMISTA. (descuple o caps )A protagonista pode continuar sem nome, acho. Ou pode ser apenas isso, un conto, mas em poucas linhas vc abriu questões sobre preconceito, futebol vendido, sinal vermelho para pedestres, interessante imagem metropólica.
bj