terça-feira, outubro 14, 2008

Trecho de "O autor como produtor"


"Para maior clareza, coloco em primeiro plano a forma fotográfica dessa técnica. O que for válido para ela pode ser transposto para a forma literária. Ambas devem seu ímpeto excepcional à técnica da publicação: o rádio e a imprensa ilustrada. Pense-se no dadaísmo. A força revolucionária do dadaísmo estava em sua capacidade de submeter a arte à prova da autenticidade. Os autores compunham naturezas mortas com auxilio de bilhetes, carretéis e pontas de cigarro aos quais se associavam elementos pictórios. O conjunto era posto numa moldura. O objeto era então mostrado ao público: vejam, a moldura faz explodir o tempo; o menor fragmento da vida diária diz mais que a pintura. Do mesmo modo a impressão digital ensangüentada de um assassino, na pagina de um livro diz mais que o texto. A fotomontagem preservou muitos desses conteúdos revolucionários. Basta pensar nos trabalhos de John Heartfield, cuja técnicatransformou as capasa dos livros em instrumentos políticos. Mas acompanhemos um pouco mais longe a trajetória da fotografia. Que vemos? Ela se torna cada vez mais matizada, cada vez mais moderna, e o resultado é que ela não pode maisfotografar cortiços ou montes de lixo sem transfigurá-los. Ela não pode dizer, de uma barragem ou de uma fábrica de cabos, outra coisa senão: o mundo é belo.este é o título do conhecido livro de imagens de Renger-Patsch, que representa a fotografia da 'Nova Objetividade' em seu apogeu. Em outras palavras ela conseguiu transformar a própria miséria em objeto de fruição, ao captá-la segundo os modismos amis aperfeiçoados. Por que se uma das funções econômicas da fotografia é alimentar as massas com certos conteúdos que antes ela estava proibida de consumir – a primavera, personalidades eminentes, países estrangeiros – através de uma elaboração baseada na moda, uma das suas funções políticas é a de renovar, de dentro, o mundo como ele é – em outras palavras, segundo os critérios da moda".

BENJAMIN

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