segunda-feira, dezembro 19, 2016

Triste de chuva:

(Imagem by Ronim)

Em minha solidão, triste de chuva, penso em Carlos Antonio López,  Francisco Solano, el Coronel Aureliano Buendía, el Comandante Fidel Castro, penso em Che Guevara. Penso em todas as Úrsulas, mães de nosso continente. Penso na solidão e na cumplicidade fraternal. Penso na cumplicidade e na solidão  da sororidade. Penso nos feminicídios. Penso na mãe África. Penso nos analfabetos de nossa América Latina. Penso no abismo incolor do nada e na espiral luminosa do possível. Penso na matéria da memória, em seu tempo  e em sua consciência. Penso na legitimação da violência e na legitimação da barbárie promovida pelo Estado. Penso no conservadorismo da indústria cultural e penso na reificação do ser humano provocada por essa mesma indústria. Penso nos filmes de ação norte-americanos e em débeis heróis inverossímeis, penso na épica distorcida e anacrônica de um mundo artificialmente maniqueísta. Penso nos vídeo games de hoje e no sadismo latente e patente desses jogos além do gozo também sádico de seus jogadores cultivado pelo comportamento de massas. Penso em Cem anos de solidão, penso nas Veias abertas da América Latina e também penso e rumino a Literatura, violência e melancolia. Penso em aprender a recontar essas histórias e outras tantas.   Penso na paixão dos suicidas e na paixão dos que lutam pela terra, na paixão dos que  lutam pela educação, dos que lutam por condições mais dignas de trabalho, penso nos que lutam por condições dignas e liberdade de se amarem. Penso no papel da mídia e de seus deformadores de opinião. Penso em ilusões e desejos. Penso em quem cozinha o banquete da vitória. Penso em Brecht. Penso: entre el deseo y la palabra, un puente insalvable. Penso no consumo no lugar da felicidade. Penso em Esperanza Araiza. Penso em Malinche. Penso em aproveitar melhor a caminhada, penso em mirar, beber e absorver a paisagem, suas cores, seus sabores e seus odores. Penso no Tempo. Penso na estética e na ética. Penso em escrever e ler todos os dias. Penso na competição que gera a falta de solidariedade. Penso nas ilhas de Cuba e do Haití. Penso em fantasias e ficções. Penso em Paula C. Penso em Beatriz,  Benjamin, penso nas crianças desamparadas nas ruas e penso nos órfãos. Penso nas chacinas de negros e pobres nas periferias. Penso em Buenos Aires e leio Alejandra Pizarnik. Penso no México, em meus bons amigos, carnalitos, régios, tapatíos, companheiros de aventuras e de leituras, penso no México todo tempo, em seus heróis e suas canções. Penso em meu pai e penso em minha irmã. Penso em escrever no ar e em recitar poemas. Penso em levantar defuntos e em salvar nossos mortos. Penso em Walter Benjamin. Penso em meus irmãos, penso nos vencidos, e nos que resistem às intempéries das ruas, sobretudo penso em nós, subalternos. Penso no acriançamento das palavras. Penso em  Remedios en la clepsidra secreta de las polillas. Penso em recordar Margarida suas histórias, sua dor e morte, penso em Antonio, Dona Francisca, Manoel e Dona Nazaré. Sinto e penso. Penso que há golpes tão fortes na vida. Penso: seria a solidão um artifício, uma invenção?