sábado, novembro 26, 2016

El Comandante se fue


"Quando perguntei a um influente jornalista cubano se lá existe liberdade de imprensa, ele deu uma gargalhada e respondeu: "Claro que não". E completou, com naturalidade: "Liberdade de imprensa é apenas um eufemismo burguês. Só um idiota não é capaz de ver que a imprensa está sempre a serviço de que detém o poder. E aqui em Cuba quem detém o poder é o proletariado. Estamos todos os jornalistas cubanos, portanto, a serviço do proletariado".

A ilha - Fernado Moraes

terça-feira, novembro 22, 2016

Do tempo real ao imaginário




"O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém me perguntar eu o sei; se eu quiser explicá-lo a quem me fizer essa pergunta, já não saberei dizê-lo."
Sto. Agostinho 



"Que coisa mais veloz, mais fugitiva, e mais instável que o tempo? Tão instável, que nenhum poder, nem ainda o divino o pode parar."
Pde. Antonio Vieira

Tempo é plural e polissêmico, é movimento e mudança:
Tempo, estrutura de possibilidades
Tempo, tecido da vida
Tempo intuído porém nunca medido
Tempo preenchido por conteúdo e contado por meio de músicas e histórias 




domingo, novembro 20, 2016

Coronel Aureliano Buendía



El coronel Aureliano Buendía peleaba por Remédios
peleaba por orgullo
peleaba por la soledad
peleaba contra la soledad
peleaba con presagios
peleaba y seguía escribiendo
peleba y escrebía poemas inspirados en Remédios


quinta-feira, novembro 17, 2016

Sonhando com Calvino



Por que ler os clássicos?

Porque ler os clássicos é melhor que não lê-los.

(Da revista Beleléu, R.J.)

terça-feira, novembro 08, 2016

Entre o desejo e a palavra, mil fragmentos.






Tempo... quanto tempo, pois é... quanto tempo... Tomar de volta nosso tempo! Se o tempo é o tecido de nossas vidas, o que fazemos com ele? Ou ele é tecido de nossas vidas e compositor de destinos ao mesmo tempo?
Tomar nosso tempo com os amores e com as dores.
Tomar nosso tempo com os silêncios e ruídos da cidade, de nosso caos meridional. Andar e se perder para conhecer a organização do caos, para perceber a cidade e suas ruas, seus prédios e sua periferia.
Tomar o tempo com os pés, com os olhos, com a pele e as papilas.
Tomar o tempo com as imagens e metáforas da cidade.
Tomar o tempo com as ilusões e alucinações da cidade.
Tomar nosso tempo inaugurando novos sujeitos.
Tomar nosso tempo ouvindo e imaginando transformações.
Tomar nosso tempo suportando o tempo vazio.
Tomar nosso tempo através dos pés.
Tomar nosso tempo pelo meio da ação e da intervenção. Redimir e revolucionar.
Vivências subjetivas e objetivas.
Tomar o tempo subjetivo e social.
Acima de tudo perceber o tempo e viver a experiência temporal. Sem idealização, talvez.

Redenção e revolução, coletiva e subjetiva? Ou perdemos a experiência mas ganhamos velocidade. Tudo mais limpo e prático. Sem tempo pra mim e sem tempo pra vocês? Sem tempo pra nós?

Tomar o tempo e ouvir uma música sonhada pelo vento, sonhada nas ruas e vielas, escrever uma poesia que diga o indizível.

segunda-feira, novembro 07, 2016

3 de enero [1959]



"He dejado el psicoanálisis. No sé por cuánto tiempo. Estoy muy mal. No sé si neurótica, no me importa. Me siento muy pequeña, muy niña. Y me van abandonando todos. Absolutamente todos. Mi soledad, ahora, está hecha de quimeras amorosas, de alucinaciones... Sueño con una infancia que no tuve, y me reveo feliz ―yo, que jamás lo fui―. Cuando salgo de estos ensueños estoy anulada para la realidad externa y actual. Jamás hubo tanta distancia entre mi sueño y mi acción. No salgo, no llamo a nadie. Cumplo una extraña penitencia. Y me duele funestamente el corazón. Tanta soledad. Tanto deseo. Y la familia rondándome, pesándome con su horrible carga de problemas cotidianos. Pero no los veo. Es como si no existieran. Siento, cuando se me acercan, una aproximación de sombras fastidiosas. En verdad, casi todos los seres me fastidian. Quiero llorar. Lo hago. Lloro porque no hay seres mágicos. Mi ser no tiembla ante ningún nombre ni ninguna mirada. Todo es pobre y sin sentido. No digamos que yo soy culpable de ello. No hablemos de culpables.

He pensado en la locura. He llorado rogando al cielo que me permitan enloquecer. No salir nunca de los ensueños. Ésta es mi imagen del paraíso. Por lo demás, no escribo casi nada.



Hay sin embargo, un anhelo de equilibrio. Un anhelo de hacer algo con mi soledad. Una soledad orgullosa, industriosa y fuerte. Es decir: estudiar, escribir y distraerme. Todo esto sola. Indiferente a todo y a todos."

(Alejandra Pizarnik)

Benjamin


Minhas asas estão prontas para o vôo,

Se pudesse, eu retrocederia.

Se ficasse no tempo vivo,

Eu teria menos sorte.

(Gerhard Scholem, Saudação do Anjo)


Mein Flügel ist zum bereit de Schwung,

ich kehrte gern zurück,

denn blieb ich auch lebendige Zeit,

wenig de hätte de ich Glück.

(Gerhard Scholem, ‘VOM DE GRUSS ANGELUS ')

domingo, novembro 06, 2016

Entre fragmentos, entre lamentos.



Entre el deseo y la palabra, um puente insalvable – penso em todos, inspirado principalmente por Pizarnik e Barthes.
O ser cuja essência é compreender é feito de carência e sede? É feito de falta? É ser faltante?
Entre um chorinho e outro, lamentos bem menores que do Valongo.


sexta-feira, novembro 04, 2016

La máquina de la memoria:



Talvez seja difícil escrever sobre o ocorrido na minha língua materna. Talvez esse seja o motivo do título. Fazendo meu caminho de volta pra casa estava pensando no que ocorreu hoje e quando sentei pra escrever sobre os fatos me sai o título em espanhol e juro que também pensei em escrever em inglês pois afinal já havia treinado pela tarde contar essa história sem inibições mas questões na língua ‘global’ que não é a minha materna. Enfim contar ou não contar eis a questão.
Questões não me faltam nesses dias e hoje não foi diferente. Havia saído de uma aula, caminhava até a escola onde normalmente dou aulas de Inglês e fui almoçar pelo caminho onde almoço de costume nesse dia. Fica perto de um grande terminal de ônibus da região. Logo, pelas redondezas há muitos botecos escuros e restaurantes de comida barata. Almoço num desses lugares simples de refeições fartas e preço razoável. Havia pedido algo e já começava a comer a pequena salada de entrada quando vi um senhor negro, maltrapilho e sujo entrar cambaleante pelo salão.
Ele pediu algo no balcão, eu achei que era pinga ou qualquer coisa alcoólica e forte pra beber, que foi negado e logo ele voltou em minha direção. Esse homem parou ao meu lado e me pediu algo que eu imaginava que fosse comida, mas não sei se eu não queria dar minha pequena salada, ou achava absurdo alguém passando fome pedir uma salada de alface com tomate, ou achei que aquele tipo não estivesse com fome, ou realmente não entendia o que pedia. O fato é que eu fiz com que ele repetisse três vezes de uma maneira esdrúxula seu pedido por comida. Em seguida chegou o rapaz das mesas e lhe perguntou mais uma vez o que ele queria e ele disse que lhe traria uma salada num pão.
Enquanto o empregado de mesa buscava seu humilde lanche ele passou pelas minhas costas em direção a mesa de duas mulheres que apenas terminavam seu almoço. Insistentemente e de maneira abrupta, com tom de voz alto, e locução alterada pelo tempo ou pelo álcool começou a pedir os pedaços de carnes que restavam nos pratos das comensais. Uma das clientes se irritou porque enquanto pedia ele quase tocava seu prato que ela ainda tentava comer. Enquanto a outra amiga lhe entregava o pedaço de carne. A mulher um pouco desconcertada mas ao mesmo tempo calma dizia que lhe entregaria um pedaço mas pedia que ele esperasse o garçom que também lhe entregaria algo. Por fim ela também cedeu um pedaço mínimo de seu almoço ao  agressivo senhor pedinte.
Eu confesso que fiquei mal, tive dó e ao mesmo tempo raiva daquele homem. No final o garçom lhe entregou seu parco lanche e  pediu que ele se retirasse. Eu como bom hipócrita fui conferir se o hostil mendigo havia pedido mesmo o que eu achava que houvera. Sim.

Talvez não se possa esperar de alguém que vive, ou sobrevive, ou resiste nas ruas, às intempéries, à sorte e ao léu um pouco de boas maneiras. Gentileza talvez seja somente pra quem tem o que comer ou um lugar razoavelmente seguro pra dormir. 

quinta-feira, novembro 03, 2016

Para Luis Villar



Sampa de gente
Sampa de imagens
Sampa de memórias e de histórias
São tantas cores e dores numa só cidade
No maior organizado caos meridional
Sampa dos pesadelos e sonhos do dia a dia

(Foto by Paula Kz)