quinta-feira, fevereiro 11, 2016

Carta para Paula E. ( Delíro: liberté égalité fraternité ou la mort?)

“There is no document of civilization that is not at the same time a document of barbarism.”
 Walter Benjamin

Vivo divagando. Será que isso é viver? Me fazendo perguntas que realmente me interessam e tentando refletir sobre elas e suas respostas. Tentando achar novos pontos de perspectivas sobre assuntos e fatos que as pessoas de uma maneira geral já estão acostumados a não mais indagar, questões e diferenças que já estão dadas, conformadas, solidificadas, e que são tomadas como natural. Há uma expressão em inglês que traduz tudo isso e que no momento não encontro equivalente em português: "Questions and issues that most people take them for granted". Problemas que as pessoas não se importam ou que esqueceram que são cruciais e já os acomodaram em algum lugar de suas consciências. Outro dia tentava responder me o que é a beleza? Onde ela está e quando podemos absorve-la ou apenas contempla-la? Ultimamente tenho pensado muito sobre a desigualdade e a exclusão social. Coisas que nunca deixei de pensar acho, lembro me que desde o começo de nossas conversas falo sobre isso, e as relaciono do macro pro micro. Ou seja desde comentar das nossas mazelas sociais até o que eu meus pais e minha irmã sofremos na pele. Tenho contemplado esses assuntos, ou seja, a desigualdade e exclusão social, e absorvido algo. Tenho lido e ruminado bastante sobre esses dois aspectos claros de nossa sociedade nas minhas horas livres. Também tenho lido outras coisas que as pessoas estudadas chamam de 'existencialismo', ou melhor dito, tenho lido um livro mais ou menos longo, pros nossos tempos, pra correria do dia a dia, e tenho anotado coisas que me fazem pensar muito sobre vários aspectos de nossas vidas. São trechos ou relampejos que me fazem acordar, despertar, ou talvez evadir, sumir, deixar a 'realidade'. Curiosamente o nome do capitulo que me faz escrever estas linhas se chama Macbeth. Curiosamante o nome do romance se chama "La vida breve" de Onetti.
Lendo um desses trechos, fiquei com vontade de recita-lo pra você. Ao mesmo tempo tinha vontade de lhe fazer perguntas que não eram necessariamente para serem respondidas mas fazer você pensar. Ou fazer com que de alguma maneira você as me perguntasse de volta, não sei me explicar. Além disso acho que no fundo eu gostaria de lhe provocar com tais questões. Enquanto lia estes trechos essas perguntas surgiram:
Você é realmente aquilo que você pensa que é? Ou eu sou aquilo que imagino ser?
Ou você é apenas o posto que ocupa? seu trabalho? Eu sou apenas o professor de Inglês?
Estamos determinados por aquilo que fizeram crer que somos?
Se você tivesse em cada célula em cada parte de seu consciente a verdadeira inexorabilidade da morte você mudaria? Eu mudaria? Mudaríamos muitas pessoas? Também pensei em Clara e Alice. Vc largaria tudo isso para conviver mais com elas, aprender mais com elas, dar mais carinho, participar mais na vida delas? Você teria mais tempo pra amar Sergio seu companheiro de jornada, escuta-lo e dialogar com ele? Eu largaria o emprego de inglês para amar mais meus próximos, conversar mais com meu pai, entender seus pontos de vista e aprender sobre meus antepassados? Eu ocuparia mais tempo pra ajudar minha irmã? Amá-la? Ouvir suas histórias? Sobraria tempo pra tentar mudar o mundo, nossa estrutura, a desigualdade e  exclusão? Ou conviver com meus próximos e amá-los como a mim mesmo? Como diziam os judeus rebeldes?
Acho que por isso não levo bem o elogio e não me apego a ele. Acho que elogio só faz criar outra pessoa, não aquilo que realmente somos. O elogio cria mais ilusão  sobre nossa condição precária numa sociedade imensamente insana e precária. Injusta sobretudo. O elogio nos faz crer numa vida que não é a mais importante pra nós, ou pra mim pelo menos. Numa vida e numa sociedade que naturaliza a injustiça e a desigualdade entre seres humanos. Numa vida que ensinamos como normal pras próximas gerações.


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