terça-feira, setembro 30, 2008

O Questionário

"Seminário:Preconceitos e estereótipos - Inverter a situação: questionário para heterossexuais

1. Que você pensa que causou a sua heterossexualidade?
2. Quando e como você decidiu que era heterossexual?
3. É possível que a heterossexualidade seja apenas uma fase que você possa superar?
4. É possível que a sua heterossexualidade derive de um medo neurótico em relação às pessoas do seu próprio sexo?
5. Se você nunca teve relações com uma pessoa do seu próprio sexo, não pode ser que o de que você precisa é um bom amante do seu próprio sexo?(...)
8.Por que você insiste em ostentar sua heterossexualidade? Por que você não pode ser simplesmente quem é e ficar numa boa?(...)
10. Parece haver muitos poucos heterossexuais felizes. Foram desenvolvidas técnicas que podem ajudá-lo a mudar. Você já considerou a possibilidade de fazer terapia de aversão?
11. Considerando a ameaça que constituem a fome e a superpopulação, a raça humana poderia sobreviver se todos fossem heterossexuais como você?"

Semanas depois de ter sido distribuída no jornal americano e na lista argentina, a nota não havia sido desmentida por ninguém. Mesmo que o questionário não seja verdadeiro, no entanto ele é bem sacado: afinal, vivemos fazendo perguntas semelhantes aos homossexuais, mas não nos sentimos bem quando são dirigidas a nós, heterossexuais.

por Renato Pompeu - renatopompeu@carosamigos.com.br

Mercy Tereza


Assisti o filme Nós que aqui estamos por vós esperamos. Obrigado pela dica moi belle.

"Numa guerra não se matam milhares de pessoas. Mata-se alguém que adora espaguete, outro que é gay, outro que tem uma namorada. Uma acumulação de pequenas memórias..." Christian Boltanski.

sexta-feira, setembro 26, 2008

Pq a morte é vida, de uma certa maneira. "Et la mort, c'est la vie".

Poema de Natal

"Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente".


(obrigado Tereza)

quinta-feira, setembro 25, 2008

The truth is out there (New scientist)

Hollywood cut secret deals to promote smoking

  • 14:58 25 September 2008
  • NewScientist.com news service
  • Ewen Callaway


Tobacco companies paid stars like Al Jolson, Bob Hope and Clark Gable to promote smoking as part of secret advertising deals with movie studios, according to a new analysis of cigarette endorsement contracts between 1927 and 1951.The stars made thousands of dollars peddling cigarettes to consumers. But the analysis shows that major studios and tobacco companies reaped far bigger benefits.

In exchange for star testimonials of brands such as Lucky Strike, tobacco companies promoted movies in adverts worth millions of dollars, the documents show.

"The link between Hollywood and tobacco go back to the beginning of talking pictures,” says Stanton Glantz, director of the Center for Tobacco Control Research and Education at the University of California, San Francisco. "It was a way to thoroughly embed tobacco use in the social fabric."

Glantz and colleague Kristin Lum mined 246 documents, including cigarette endorsement contracts (made public as part of the tobacco industry legal settlement with state governments), contemporary news reports, and a collection of cigarette advertisements collected by Robert Jackler, a neurosurgeon at Stanford University.

"I was surprised that the amount of scholarship around [the advertisements] was very little," says Glantz.

'Sweet and soothing'

According to the documents, Hollywood and tobacco companies began their relationship in 1927, when an advertising firm brokered deals between two of its clients: American Tobacco and RCA. Other studios, including Paramount, MGM and Columbia, soon followed.

Between 1927 and 1951, major studios and tobacco companies partnered on at least 215 cigarette advertising campaigns, Glantz's team found.

Stars contract-bound to a single studio touted the benefits of brands like Lucky Strike and Camel in advertising agency written testimonials. "Folks, let me tell you, the good old flavour of Luckies is as sweet and soothing as the best 'Mammy' song ever written,” said Jazz Singer star Al Jolson in one such endorsement.

In exchange for the praise, Hollywood studios received free advertising for their movies.

For example, cigarette ads would mention specific movies and endorsements would be tied to their release dates. In some cases, tobacco companies sponsored radio programs featuring their pocketed Hollywood stars. American Tobacco, maker of Lucky Strikes, spent $2.3 million producing The Jack Benny Program.

The US Federal Trade Commission attempted to clamp down on the relationship beginning in 1929 on the grounds that advertiser-written endorsements misled consumers, but studios easily circumvented these rules through lobbying and carefully worded disclaimers.

Restricted access

Television, not government regulation, ended the formal relationship between studios and tobacco companies. More recently, product placements in movies have replaced overt Hollywood tobacco advertising, Jackler says.

Glantz has called on studios and the Motion Picture Association of America, which rates films, to remove smoking from youth films and restrict access to films with smoking. He estimates that such restrictions would cut youth smoking by 60% and keep cigarettes out of the hands of 200,000 youths each year.

The commercial relationship between tobacco companies and Hollywood undercuts objections to such limitations, he says.

"One of the excuses that comes out of the studios and Motion Picture Association [of America] and a lot of individuals who make movies, is smoking in the movies is an integral part of the art form itself," he says. "What this shows is that that’s not true."

Journal reference: Tobacco Control (DOI: 10.1136/tc.2008.025445)

Los amantes (Julio Cortázar - Narraciones y poemas)


LOS AMANTES

"¿Quién los ve andar por la ciudad
si están todos ciegos?
Ellos se toman de la mano: algo habla
entre sus dedos,
lenguas dulces

lamen la húmeda palma, corren por las falanges,
y arriba está la noche llena de ojos.

Son los amantes, su isla flota a la deriva
hacia muertes de césped, hacia puertos
que se abren entre sábanas.
Todo se desordena a través de ellos,
toda encuentra su cifra escamoteada;
pero ellos ni siquiera saben
que mientras ruedan en su amarga arena
hay una pausa en la obra de la nada,
el tigre es un jardín que juega.

Amanece en los carros de basura,
empiezan a salir los ciegos,
el ministerio abre sus puertas.
Los amantes rendidos se miran y se tocan
una vez más antes de oler el día.

Ya están vestidos, ya se van por la calle.
Y es sólo entonces
cuando están muertos, cuando están vestidos,
que la ciudad los recupera hipócrita
y les impone los deberes cotidianos."
--------------------------------------------------

CORTÁZAR

quarta-feira, setembro 24, 2008

Torpe ( la vie est très jolie)


"-Por que você inventa essa história de de tolice, boba, boba?
-Porque depois pode ficar bonito, uê?"

La vie est belle

Uma corrente de prata abandonada no último degrau da escada. Será um objeto de furto ou descaso. Apanhá-la é ilícito.

O dedo mínimo, delgado e sinuoso do bibliotecário que aponta pro lado. ALgo congênito ou resultado de um esforço desmesurado em destacar-se.

Um bilhete deixado em seu armário. Sorte ou azar. Nele o nome e o telefone da pessoa que lhe espera o tempo que for necessário.

Professora mais cool da escola interpela: você é o Fernando. Será que você é o Fernando e não sabia ou ela só queria puxar papo.

A professora e aluna mais linda da escola lhe diz: tenho frio - e continuava a sentir frio. Porque você não a abraça. Também diz que é legal conversar com você e você diz o mesmo porque recíproco.

Et la mort c'est la mort

segunda-feira, setembro 22, 2008

Les Chansons d'amour


Esse filme fica cada vez mais bonito. Só não gosta quem é amargo. Ma belle me disse que o filme é lírico. (Lírico é passear com vc de mão dada)

sexta-feira, setembro 19, 2008

Vermelinha (para Dani com carinho)


A Daniela me disse umas coisas que mexem ou mexeram -para não ficar enfático demais - com meus miolos. Nos conhecemos há mais de 4 anos? Embora nunca nos conhecemos, como quase todo mundo. Ela sempre descobre algo sobre mim. Ela literalmente descobre coisas que nem eu mesmo sabia sobre a minha pessoa, meu intrínsico eu. heh. Embora, eu também descubra muito sobre ela que, contudo, talvez não tenha o mesmo efeito.

Ontem, conversávamos sobre a educação e a psicologia. Conversa vai, conversa vem, enfim asim, enfim assado. Relacionei tudo o que ela me falou com o texto do Horkerheimer e do Adorno, pois não tenho a mesma experiência que ela em ambos os campos. O texto trata de uma crítica a ciência e da defesa do materialismo histórico e da dialética, o nome do dito cujo é Dialética do esclarecimento ou Conceito de Iluminismo.

Bom, as pessoas dizem ( inclusive os especialistas) que Adorno é pessimista. Outros mais especialistas falam que a alcunha, o rótulo ou a ofensa é devido a dialética negativa que permeia a maioria dos seus textos. Pensei em escrever aqui pra deixar anotado que se tivesse de ser um especialista e criticar a Dani diria que ela é either pessimistic or she applies the negative dialetics.
É isso Dani e obrigado por me fazer pensar.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Para pensar sobre Cidade das letras


E para pensar sobre um romance
Esses dias acordei com a idéia de escrever uma ficção (romance) sobre Adorno que ainda não passou
Algo meio megalomaníaco do tipo O Dia em que Nietszche chorou
dei muita risada assim que acordei do sonho
É tão gostoso acordar com a própria gargalhada

"Desde que a linguagem entra na história, seus seus mestres são sacerdotes e feticeiros".
T.W. ADORNO e HORKHEIMER
"É a percepção imediata criativa, mais do que qualquer outra coisa, aquilo que faz o indivíduo sentir que a vida vale a pena ser vivida"
D.W. WINNICOTT in "Playing and reality"

Sobre o Rama (Cidade das letras) só dúvidas, a saber, a aculturação e a transculturação são duas das categorias sobre as quais ele mais constrói seus argumentos; como os estudos subalternos encaram esses conceitos?

sexta-feira, setembro 12, 2008

Maria Lúcia


Noite de show, andar pela Augusta sem compromisso. Hoje a noite ela era cliente. Desce a rua que ainda não está cheia, nas calçadas os caras das casas de show convidam aqueles que passam a entrar e tomar uma cervejinha. Ela acha engraçado embora ouça isso quase toda a noite.

Os seguranças do Estúdio são simpáticos. Entra, pede uma cerveja e um energético. A casa começa encher, são todos um pouco mais novos do que ela. Puxa conversa com os técnicos de som pra não se sentir observada. Numa conversa legitima, quer saber se Bill é cool ou um asshole, oferece a um dos rapazes aulas de inglês o outro lhe parece familiar, ela acha que o cara ja´passou pela mão dela. Conversam sobre bandas, música e livros.

A banda que abre o show é horrível tipo wanna be Bob Dylan. Mais cerveja pra suportar o som e a espera. Depois de mais ou menos quarenta minutos entra o Smog. Bill é alto, tem barriguinha e cabelos grisalhos, o batera é baixinho perto dele e faz o tipo latino. Ela acha o Bill meio parecido com Richard Gere e solta uma risada.

We are constantly on trial
It's a way to be free

Smog bem Smog, começa com a estranhíssima River guard e ela fica pensando na profundidade ou nonsense do refrão. Bill e seus melancólicos acordes é acompnhado por um baterista que chega entusiasmar a platéia, "very good drummer", e o rapaz acena em agradecimento. Mais Smog, mais cerveja, uma ida ao banheiro e bang: Blood flow, Bathysphere; entre as músicas ele não fala nada só agradece, bem burocrático ou tímido? Ela curtiu.

Na saída já é tarde, Maria Lúcia está satisfeita, mas é tarde. Sobe Augusta meio apressada. Os caras ainda oferecem cerveja. Entra numa travessa, na cabeça:

Happens on a side street maybe
Lion bites zebra neck

Uns playboys num accord mexem com ela. Ela mostra o dedo, eles tacam alguma coisa nela, descem do carro, chutando, xingando, batendo, mordendo, moendo. A ambulância chegou depois de uma hora que o lixeiro passou.

quinta-feira, setembro 11, 2008

Smog


Num bar na Augusta, Maria Lucia assistia o balcão, os presuntos, as fatias de queijo, os bifes e as lingüiças. Não estava com fome, só não tinha mesmo pra onde olhar. Pra matar o tempo lia os nomes das cachaças nas prateleiras, mas já sabia uma fileira inteira de cor, Santo Grau, Àgua da Bica, Ouro de Minas, Chico Mineiro, etc. Não trazia livros pro bar pra não chamar atenção dos estudantes que geralmente não tinham grana. Pra matar o tempo, às vezes, fazia origamis com guarda-napos, mexia no maço de cigarros, às vezes passava minutos contemplando o esmalte das unhas. Fazia o esquenta sempre no mesmo bar, se entupia de cafeína, coca, energético, café, não necessariamente na mesma ordem, entre as goladas havia uma pausa pra nicotina.

Não tinha interesse nenhum em fitar as pessoas nos olhos. Mais tarde, os mesmos que a olhavam seriam aqueles escrotos que pedem desconto depois de uma foda. Era assim sempre, não importava se ela fosse feia ou bonita, agradasse ou não, sempre choravam no preço.

A maior parte do tempo pensava no filho a outra parte gastava com literatura e música.
Happens on a side street, maybe
Happens on a main street, maybe

Lion bites zebra neck

Zebra stomps lion head

It's justice
Justice aversion
In a proper way, 'cause I don't today
And root for the underdog
No matter who they are

At the bank robber in the getaway car

It's justice Justice aversion
In a proper way, 'cause I don't today

I could stay up all night talking
About animal nature
And universe hesitant

And the grand ??

It happened on a side street, maybe

It happened on a main street, maybe

It's justice
Justice aversion
And root for the underdog

No matter who they are

At the bank robber in the getaway car


Ontem tirou a noite de folga pra ir assistir o show do Smog. Alí mesmo na Augusta, no Estúdio S.P. Deixou o filho na casa de uns amigos. Umas bichas, um casal, ela achava que elas eram bem intruídas, costumava deixar, na emergência, o filho com elas porque era uma boa influência. Gostava muito do Bill, não podia perder o concerto, era uma causa justa; tinha até aprendido inglês por causa das músicas do cara, lia por causa do cara.

De todas as canções gostava mais de Devotion, parecia que ele cantava e tinha escrito pra ela.

There are some terrible gossips in this town
There are some terrible gossips in this town
With jaws like vices
And eyes like drains

There are some little weasels in this town
Scampering around loose
With yellow teeth
And the beady eyes

We should set a standard amount of words
That I am to say to these
We should set a standard type of look
That you are to give to me
When you wanna leave

There are some terrible gossips in this town
With jaws like vices
And eyes like drains

I won't tell what they say about you
I won't flourish the shit
You are my dearest friend
And I will protect you
Until the end

With a will like vices
Complete as a drain




quarta-feira, setembro 10, 2008

Um romance que começa



Merina começou a ler aquela história num blog de um de seus conhecidos. A princípio o tal do Romance era curioso, depois, bacana, e ao mesmo tempo estranho, preocupante. Pensou em entregar o narrador e Ullysses às autoridades. Achou que seria melhor falar com o seu psicanilista primeiro, às vezes ela confiava em especialistas, era uma personagem complexa, digna de ficção, não era plana (cf. Candido, "A personagem de ficção"). Depois, resolveu ler o Romance de novo e achou o máximo. Tinha um narrador que a admirava e uma personagem que estava deslumbrada ou em completo estado de alumbramento por ela.

Nossa que coisa horrível vou começar de novo.

Tinha um narrador e uma personagem que a admiravam. Parecia um gostar sincero, autêntico, não podia ser literatura. Era uma declaração de amor, de carinho, pós moderna? Era apenas um pastiche literário, seria um fetiche também literário ou o narrador havia realmente fracassado?

Merina pensou em ligar pro fulano que ela acreditava ter escrito aquele relato e passar tudo a limpo. Foi então que ela mudou de idéia e resloveu convidá-lo junto com seus amigos pra ir à Liberdade, tomar um udon. Começava a fazer frio em São Paulo e Merina ao contrário de Ullysses adorava São Paulo.

Roance? V


Merina e Ullysses também queriam resistir, existir, prosseguir.

E entre um sarau, um metrô, um cinema, a amizade crescia. Ulysses começou a escrever poemas e até musicou um com ajuda de Davi.

Ullysses achava que o problema estava na Universidae. Era a universidade que dosmeticava a literatura. A faculdade de Letras, matadouro da literatura, desde muito tempo. A universidade traduzia, diluia, traía e mitigava paulatinamente até sua morte, qualquer literatura. Lá fora, ela vivia.

Ullysses tinha medo de Merina entrasse na faculdade e se desencantasse com a literatura. Acho que ele queria que ela desistisse (ou pensasse melhor) e fosse estudar antropologia, arquitetura, artes cênicas, sei lá. Gostava da idéia dos dois em campos diferentes do conhecimento, ou no mínimo, praticando diferentes formulações discursivas. Ele acreditava que por ela ser mais inteligente que ele não devia desperdiçar seu tempo matando a literatura, matando a poesia.

(Depois, Ullysses achou que daquela forma parecia uma espécie de pai autoritário para Merina - espelhava seus desejos nela? Pensou que seu pai era bom e decidiu que o melhor era ser sua mãe e respeitar sua escolha.)


Depois o narrador decidiu que o parágrafo acima era muito ruim, não era literatura mas era sincero, então resolveu deixar ele todo entre parênteses ecolocar um ponto final naquela história.

Romance? IV


Merina havia lido as seguintes notas num livro no qual seu autor favorito escrevera antes de presenteá-lo. ( literatura era subversão da linguagem, feita de elipses, outra gramática?)

"Os velhos são perigosos: completamente indiferentes ao futuro. Entardeceres da vida, esses entardeceres da vida! A maior parte na pobreza, com tosse, encurvados, toxicômanos, bêbados, alguns até criminosos, quase todos não casados, quase todos sem filhos, quase todos no hospício, quase todos cegos, quase todos imitadores ou farsantes."

Taí, literatura servia pra alertar, recomendar, sugerir, ou melhor ainda, nota de rodapé ou crítica feita por autores escritores servia para isso, mas que fique bem claro, somente aquilo que fosse produzido por autores metido a críticos. A literatura, essa convenção histórica ou historicizada, talvez não servisse para nada, tampouco pudesse fazer alguma coisa.

Para o narrador, a literaturatal, tal qual a filosofia, seria apenas um instrumento discursivo, uma formulação discursiva que opera de maneira espectral pois está subssumida numa era neo-liberal. Com algumas dúvidas, algumas questões e meus problemas, tento resistir ao hedonismo e a essa filosofia do egoísmo utilitarista, pelos quais todos, inclusive eu e minhas personagens, estamos contaminados.

Talvez meu papel fosse defender a literatura, como sugeri uma vez em sala de aula; talvez não houvesse papel nenhum pra mim nessa história, porque afinal alguns dizem que a literatura verdaeira é sinônimo de resistência.

(em memória de Gabriel que deixa um grande vazio em nós e em sua mãe que sente sua falta)

Intervalo (O que pode a literatura?)

Numa noite na qual dormi mais cedo, acordei literalmente no meio dela com a seguinte pergunta: é possível entender ou tentar compreender uma sociedade por meio de sua literatura (ou o que se reconhece como tal), se esta a princípio fosse ilusão de falsidade? - ou seria ilusão de realidade tal como antigamente.

*"Essa ilusão de falsidade é a própria literatura" RENZI

"Na transcendência estética reflete-se o desencantamento do mundo" ADORNO

E se a literatura fosse apenas uma memória falsa de experiências artificiais pois está inserida na sociedade de controle.

*citado em "Formas breves" (pag. 25 cap. "Notas sobre Macedônio")

segunda-feira, setembro 08, 2008

Romance III



Tinham um vazio em comum, mas todos tinham uma espécie de vazio naquela cidade imensa. Isso não os fazia especiais, as personagens não eram especiais, nem melhores nem piores do que ninguém. Então o que os faria personagens de ficção? A história secreta? Assim não tinha condições de continuar. Não havia cena, nem eventos e a narrativa se tornava uma meta-narrativa, ninguém se interessaria por aquela história.


Foi aí que eu decidi começar:


A cidade de São Paulo não tinha nada de especial, nem o charme de Buenos Aires, Nova Iorque ou San Tiago, tampouco a melancolia de Pirajuí numa tarde vazia, pensou Ullysses, mas não quis falar. Podia ser a capital do cassino financeiro, não dava a miníma pra cidade. Sentia-se estúpido bem no meio da enunciação, pois não sabia o que fazer ao lado de Merina, continuou calado. O filme ia começar, era a primeira vez que estavam juntos e estavam a sós. Merina achava que a amiga voltaria logo e ela não assistiria o filme com aquele cara, um estranho até então.

Estranho não porque era esquisito ou enfiava o dedo no nariz, não, talvez enfiasse mas não era o caso. Estranho porque era muito mais velho que ela, Merina tinha 17 e Ullysses 58, além disso tinham sido apresentados a minutos atrás, mal sabiam se se conheceriam. Resolveu quebrar o gelo e conversou com Ullysses sobre cinema, aspirinas e urubus.

Merina sempre linda, aquela noite de jeans e camiseta branca e tênis surrado, seus olhos refletiam os créditos, os caracteres, as personagens. A sorte de ambos é que o filme era ruim. Conversaram, sussurraram e beberam histórias de existir nesse mundo, eventos tristes, uns nem tanto, outros um tanto alegres. Ah, Ulysses até que era bonitinho pra idade, não é, tinha 58 mas parecia 49..
Merina achava que éramos todos criaturas da poeira cósmica, formados de vazios também, todos iguais em essência, criaturas do vento. Ullysses admirava seus cachinhos e não entendia o que ela contava. No fim, Lola apareceu, já era manhã e os dias não eram mais os mesmos.

Depois daquela noite queria revê-la, conversar mais, sentir seus olhos nos dele. Queria se aproximar mais de Merina, tornar-se algo do qual Merina sentisse falta, um amigo, mas não sabia como; se sentia ridículo e abandonado ao silêncio, não tinha idade pra se aproximar de uma garota tão nova, se sentia uma espécie de pedófilo, um molestador ou algo que o valha. Merina não tinha as mesmas nóias, gostava da presença de Ullysses e só. Sentia-se admirada por aquele velho, mas não chegava a cogitar nada além disso. Até ela começar a ler esta história.

Não havia nada a decifrar até aqui, nem alusões, nem subentendidos, e Ullysses começou a gostar de Merina, sem saber o porquê, sem nem mesmo saber que gostava.

Certo dia, Babí convida Ullysses para um sarau. Babí tal como Ulysses e Merina estava dividida entre a metafísica e o materialismo, no seu caso, tentava entender o mundo por meio ora da astrologia, ora psicanálise - gostava apaixonadamente de ambas. Inventou o Sarau pra gente se reunir em sua casa, comer, beber e discutir vida e literatura. Droga - - o que pode a literatura? trocaram e mails, blogs e Merina propôs que escrevessem um conto com o mesmo mote, acho que era algo sobre o alcool no Afeganistão ou cigarro na China. Tinha mais gente no sarau mas as trocas simbólicas ocorreram no metrô, enquanto Lola agarrava Cacá que também estava no sarau. Merina maravilhosa usava uma saia muito verde e uma blusinha floridinha, Ullysses não lembro o que ele usava, mas relia Rayeulla e pensava em la Maga. A literatura pode alguma coisa?

quarta-feira, setembro 03, 2008

Romance II ?


Ando perturbado e durmo mal, às vezes sem dormir e pensei em trocar o título para Diário de um romance (ou diário de um conto - como Cortázar). Parte da questão são os episódios que fervilham em minha mente, na hora do almoço, na biblioteca, durante as aulas, o tempo todo. Ulysses também não conseguia dormir, lia muito Arguedas em suas noites insones e dormia nas aulas. Merina estava muito anciosa em relação a seu futuro.
Achava que os dois tinham muita coisa em comum, assim como careciam de muita, também. Mas não era assim que eu queria continuar a história. Não dormia porque não sabia como terminá-la ou como continuá-la. Engraçada palavra história, polissêmica, quero dizer, tanto pode ser fato quanto ficção, isto é, pode se referir aos fatos ou ao relato deles - enfim uma discussão para ficções teóricas.
Por falar em fatos, eles tinham tudo em comum, por exemplos, preocupavam-se com a fome e o desperdício de alimentos, gostavam de contar e encantar histórias, inquietavam-se com o problema da não demarcação contínua das terras da reserva Raposa do Sol, gostavam de Chico e Bandeira, perturbavam-se com o enxofre no disel, a qualidade da gasolina, o número de carro nas ruas, o transporte público e o crescimento da indústria automobilística no país, também queriam uma educação de qualidade e para todos.
Tinham dúvidas iguais à respeito de muita coisa, por exemplo a equação: mais igualdade equivale a menos liberdade e mais liberdade a mais propriedade, por tanto, mais propriedade equivaleira a menos igualdade? Isso para eles não era muito claro, parecia um falso axioma, não era dialético, era lógica e os dois não gostavam de lógica.

Do que faltava em comum era um outro capítulo, a saber, eles não tinham mãe. Ela sofria uma ausência desde sempre, Margarete era um relato, um não ser sendo. Merina sofria e às vezes escrevia sobre. Ulysses teve Margarida mas não soube amá-la, doía. Ele queria cuidar de Merina como mãe, ela tinha um carinho maternal por Ulysses. Era carinho de mãe, sem restricões, não se sabia, eu não sabia mas era forte, autêntico. Achava que se eu soubesse recontar a história dos dois sozinhos eles ficariam juntos, como que de certa forma eu tivesse poder sobre minhas personagens, sobre a realidade, como o louco que tinha uma maquete de Buenos Aires e jurava controlar os acontecimentos da cidade.
O esdrúxulo do cidadão me fez lembrar que literatura também era esdrúxula, ou como preferem os latinos, estrambótica (parece muito mais latino, o adjetivo). Por que, fique claro, ninguém nessa história iria se suicidar como Arguedas, nem morrer, a não ser de morte natural. No entanto, a própria literatura não questionava o egoísmo do gesto do peruano. Para mim, tanto quanto para Merina e Ulysses isso também era estranho e os fazia desconfiar também da literatura e dos especialistas.

segunda-feira, setembro 01, 2008

Romance?


Fracasso ou fetiche, estava entre estas duas palavras quando comecei o texto que deveria se chamar obssessão, mas aí iria parecer livro espírita, além de não ter nada a ver com o sentimento da personagem. Aliás por falar nela, as personagens na minha cabeça eram: Merina e Ullysses o par romântico (se é que possam ser considerados como par), Margarida e Margarete, e locais, a saber, cinema, sarau na casa de Babi e metrô.
A história era muito simples, mais um romance, duas pessoas se encontram e se gostam? (talvez o problema era que nenhuma delas sabia que se gostavam- aí estava a história secreta). Nesta história poderia me confessar de vez para ela (de maneira oblíqua é claro)
Fracasso ou fetiche, pensava entre essas duas palavras. Se escrevesse sobre uma experiência e fizesse sentido, faria dinheiro com isso, iria ter tempo pra pensar mais e escrever mais e assim por diante.. Pensei em Merina e Ulysses, mas o problema de começar a história, trocar os nomes dos protagonistas e inventar situações daria muito trabalho. Joguei o projeto fora (se é que se pode chamar todo aquele torvelhinho de idéias de projeto), joguei por realmente não gos tar de trabalho.
No entanto, se eu tivesse tempo a coisa sairia assim, um dia à noite, numa sessão de cinema bem bacana esse dois fulanos se encontraram. A garota se chamava Merina e o cara Ulysses. Desde então, Ulysses sentiu vontade de escrever, talvez queria impressioná-la. Aliás quase tudo que ele fazia a partir daquele dia tinha de uma forma ou de outra que ver com ela, desde então, digo, desde o dia que eles se conheceram. Mas acho que as pessoas já ouviram algo parecido com isso antes, então pra que continuar? Talvez Ullysses devesse procurar uma ajuda priofissional, talvez devesse escrever para se curar, uma espécie de terapia. Bom, acho que Ullysses sabia que essas coisas não funcionavam e se lembrava de Arguedas.
Pior que as dificuldades do protagonista só mesmo as do narrador, a saber (adoro essa frase),baixo estima em alta e baixo estima em relação minha maneira de se comunicar, não tinha geito, ou não levava jeito e meu português também sofria de baixo estima (sempre alta). Mas e se Merina gostasse de sinceridade? Bom só sei que na literatura, segundo meus professores, não havia sinceridade, ou pelo menos isso não era pressuposto.