terça-feira, dezembro 30, 2008

http://www.youtube.com/watch?v=UHABYo14fdM

sexta-feira, dezembro 26, 2008

Goela de dragão


Piquenique à beira de estrada

Morte sépia cinza negra ruínas fracasso atraso. Escreve palavras sem nenhuma ligação. É tudo mentira. Vinte anos nenhum problema resolvido sequer posto. Deus é uma mentira como os ovinis, outra vida além dessa, triângulo das bermudas, conspiração dos astros, um gracioso engodo. Stella adora ler os russos e os alemães, melhor que Sarney ou Lacerda. Obsessão lixo entulho ferro velho solar e lunar Ashley Alice Diana Samanta Sara Suzette Mariana e Babi, mais nomes e nenhuma relação. Vida. Não existe sequer a Zona de Tarkovsky, nada que virá nos redimir. Na tevê, vende-se mantra pra ficar mais rico o ano que vem. Cheio de minha mesmice mas pensando em que escreveria Stella neste caderno.

Ia caindo a tarde, parei diante de um cartaz que anuciava a apresentação que daria Berma no primeiro dia do ano. Corria um vento suave e úmido. Aquele tempo me era bastante conhecido; tive a sensação e o pressentimento de que aquele dia do ano novo não era diferente dos demais, não era o primeiro dia de um mundo novo em que eu poderia, tentado a minha sorte ainda não explorada refazer minha amizaade com Gilberte, como no tempo da Criação, como se ainda não existisse o passado”... Stella sentia-se mais nova lendo esse tipo de literatura, não que ela fosse velha. Sentia que sua geração havia perdido alguns interessses, então sentia-se meio deslocada, por exemplo, tinha simpatia por Jango e Allende e não sabia como mas começou a estudar por conta própria, começou pela greve dos metalúrgicos, vidreiros e gráficos em São Paulo, em 1953.

Tinha perversões como o narrador que gostava de ajudar e guiar deficietes visuais, não só por altruísmo pois como Stella não acreditava em tal coisa, mas pelo prazer de se sentir útil, guiar alguém ao seu deestino, além do mais, gostava de ser tocado, como Stella, pois achava que as mãos deles eram mais macias além disso eram mais sensíveis, disso não tinham dúvida. Preferiam as mulheres mas o contato com os homens era mais frequente, parecia haver mais deficientes do sexo masculino na cidade.

O único medo de Stella era que as pequenas convulsões voltassem. Perto do aniversário de morte de sua mãe sua imaginação era mais útil, enxergava as coisas como elas realmente eram, sua mente era muito mais esperta e quase não dormia nesses dias, bebia para domesticar a imaginação. Não tinha medo de morrer nesses dias mas tinha medo das convulsões. Pensou em ligar pra Babi, conversar, tomar um café.


domingo, dezembro 21, 2008

terça-feira, dezembro 16, 2008

El Violin - quando a música (não) acaba

Lavorare Stanca

Sobre goela de dragão - queria beber as cinzas dos pinguins


Queria beber as cinzas dos pinguins

Tenho duas palavras que não saem da minha cabeça, marajoara e di Capri, são nomes que ouvi e li recentemente e ficaram no meu subconsciente, ou melhor, meu consciente.Quero contar uma história mas os nomes e as coisas já me narram outra história. As palavras me encantam e me confundem. Os nomes das coisas às vezes me fascinam, digo, nem sempre, mas às vezes, e parecem conter neles mesmos outros tempos, histórias fantásticas.

Tento narrar mas os detalhes me atrapalham, ao mesmo tempo sem eles não consigo contar nem apreender a experiência. Decidi contar a história desse caderno, mas me esqueci de descrever a foto contida em sua página de rosto, pois meu achado se parece mais com um livro a ser escrito do que um caderno.

A foto é estranha, em vez de descrevê-la penso em qual seria sua história. Será que a mulher na foto é a dona do caderno? Ou ela seria o motivo pelo qual o caderninho existia? Tinha um nome ao lado da foto, Stella, era o nome da fulana, ou da fotógrafa? Nome do fã que escreveria sobre inspiração da atriz? Era uma atriz sem dúvida naquela foto, pois posava sobre um palco de fundo negro.

Meu atual escritor favorito sempre começa suas histórias com um cadáver, eu começo com um caderno.

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Os pingos nos is - Goela de dragão


O diabo está nos detalhes. Fui sempre muito ruim para contar histórias. Nunca conseguia prender a atenção dos ouvintes ou me esquecia dos detalhes. Talvez seja por causa da minha eterna falta de organização ou minha indisposição para se programar. Ela fica saliente na escrita.

Essa história não me redime. Odeio colocar os pingos nos is, tenho dificuldades em concatenar as idéias. Devo começar pelos lapsos, pois eles também contam uma história. Assim, começo pelo omitido, na manhã da descoberta Dona Mariana não estava lá. D. Mariana é geralmente a mulher que toma conta dos recicláveis, ela os organiza, já que os politicamente corretos como eu, são muito preguiçosos pra separar os diferentes tipos de materiais.

Todas as manhãs, especialmente as de Sábado, temos algum tempo pra conversar, digo, eu e D. Mariana. Nesse dia ela não estava e os tambores da coleta já encontravam-se abarroados, fora o monte de sacolas espalhadas pelo chão. Tinha uma casca de laranja embolorada na minha sacola, misturada com recicláveis e eu não tive coragem de pegá-la e jogá-la em outro lugar, ficou lá junto com os recicláveis.

Caminhei até uma lanchonete que fica em frente a um ponto de onibus, tomei um café e li “In Society”. Ginsberg reflete sobre a dependência da voz do autor, ou seja, a não-autonomia do autor, quero dizer, o autor como produtor, que necessita do outro e faz parte de uma classe. Estava meio sonolento, meio timido ou atordoado com o achado artesanal, as folhas do caderno pareciam costuradas com muita atenção. Pedi um café e em vez de receber um café puro ele veio com leite. Reclamei mas aceitei e tomei num copo americano devagar enquanto lia o poema de Ginsberg. Li e o reli, paguei, e saí. Fui a uma loja de 1,99 e comprei uma caneta pra começar a escrever no caderno. Paguei 1,70 pela caneta preta que custava 1,75. escrevi um bocado numa galeria. Dava uma postagem longa o suficiente, então me dirigi para uma lan-house. Não tenho internet em casa, nem computador pra arquivar o texto sobre o achado. No caminho tomei outro café, agora, um expresso, numa outra galeria. Tinha muito tempo pois era cedo e acreditava que a lan-house não estaria aberta. Tomei o café e li “The brick layer's lunch hour”, Ginsberg vê poesia no pedreiro sem camisa, eu admiro o graffit em frente ao café, do outro lado da rua, na mesma avenida da outra galeria em que há pouco eu sentara. Há muita poesia nos graffits, ou essa maneira de se expressar supera a poesia? E eu sem referente a altura tento domesticá-los, reduzí-los ao já conhecido que está morto nas estantes das livrarias, no comécio, nos museus.

sábado, dezembro 13, 2008

Goela de dragão - non attainment - o caminho do poço


“O caminho do poço”

Era mais um Sábado. Acordei, levei o lixo pra fora, fui tomar um café mas passei antes num posto de coleta seletiva. Tento ser politicamente correto em tempos de aquecimento global e crise econômica. Deixei alguns recicláveis lá e encontrei um caderno, “Goela de dragão”, primeiro li João da bíblia em caneta vermelha e alguns signos musicais desenhados a lápis sobre uma folha branca, havia algo de insólito no meu achado. Mais tarde descobri que antes dessas paginas haviam outras e uma foto ded Stella, uma atriz performática? E um excerpto de um tal Jean Chavalier.

Meu referente, por enquanto, é a data, tanto na capa preta de papelão onde se diz em letras gordas “Goela de dragão”, quanto ao lado da foto de Stella marca-se 1999. O ano em que morava em outro país.

O Sábado não era distinto só por causa do achado. Quando saí também levava Ginsberg’s “Selected poems” mas não ia jogá-lo fora como já fiz com tantos outros livros. Queria, com preguiça, ler o meu velho amigo, tomar um café. Achei no meio dos recicláveis aquele caderno e no mesmo momento me lembrei do “Zero não é vazio”. A pequena dedscoberta parecia um objeto feito por alguém consideerado louco, um tipo que cria muito mais do que os normais.

Vou chamar este texto de “non-attainment” ou fica como subtítulo, pois “Goela de dragão” também é interessante. Talvez, fique como o nome de todos os futuros textos deste caderninho. Pra não se perder posto na net.

É muito cedo e o comércio ainda não abriu, faz frio, eu escrevo no conforto de uma galeria, sentado em frente um sebo, coincidência? Um dos livros ou revistas dispostos na vitrine se chama “Spitfire”, sobre aviões ou algun tipo de arma da “Segunda guerra mundial”

sábado, novembro 29, 2008

sexta-feira, novembro 28, 2008

Carlos


"Zé-com-fome deitou olho na patroa do ``seu'' Lima Que não faz xodó na moça mas também não sai de cima Juca largou a sanfona e, abandonando o salão Foi prevaricar com a dona que vendia quentão E foi doente com doutora, indigente e protetora Foi aluna com professor E o perigoso bandoleiro, Zé Durango ``El Justicero'' Fez beicinho pro promotor Mas, faça o favor! Mas, faça o favor!"

Carlos queria aprender a amar Tânia, amiga de Diana – que também era amiga de Carlos - e namorava Túlio. Tânia ficou com Diego, esse caso era antigo, e contou pra Carlos que tinha mania de inventar que Diana gostava dele, esse caso também era antigo. Tânia continuou triste, assim como Túlio, Diana e Carlos que nunca se conheceram.

terça-feira, novembro 25, 2008

nenhuma informação é confiável


Rudolf Hermann Lotze (21 May 1817 – 1 July 1881), was a German philosopher and logician. He also had a medical degree and was unusually well versed in biology. He argued that if the physical world is governed by mechanical laws, relations and developments in the universe could be explained as the functioning of a world mind. His medical studies were pioneering works in scientific psychology.
INFORMAÇÃO TIRADA DO WIKIPEDIA

terça-feira, novembro 11, 2008

Sobre o conceito de História (XVIII)


"Comparados com a história da vida orgânica na Terra", diz um biólogo contemporâneo, "os míseros 50 000 anos do Homo sapiens representam algo como dois segundos ao fim de um dia de 24 horas, por essa escala, toda a história da humanidade civilizada preencheria um quinto do último segundo da última hora. O "agora", que como modelo do messiânico abrevia num resumo incomensurável a história de toda a humanidade, coincide rigorosamente com o lugar ocupado no universo pela história humana.

Benjamin

quarta-feira, novembro 05, 2008

terça-feira, novembro 04, 2008

Miss ya all a bunch


Because it's been evening all day long
Seth Meredith Clau Doug Rob Beth Joe Bill Bob Mark Shean Mike David Berman and Isaac

Troubles, no troubles, on the line,

& I can't standto see you,

I can't stand to see you

when you'recrying at home.

Scotch & penicillin, please try
Carlton,

a cold black maple hanger

& husbandson the run

I just got back from a dream
attack

that took me by surprise & in there
I met a lady,

her name was Shady Sides

& shesaid, "It's been evening all day long, evening
all day long & how can something so old be so
wrong".

Sin and gravity drag me down to sleep
to dream of trains across the sea,

trains acrossthe sea.

Half hours on earth, what arethey worth, I don't know.

In 27 years
I've drunk fifty thousand beers & they just
wash against me like the sea into a pier.

Silver Jews

INCESTO


"I can see little twinkly stars,
like Christmas tree lights in faraway windows.
Rings of brightly coloured rocks
floating around orange and mustard planets.
I can see huge tiger striped fishes
chasing tiny blue and yellow dashes,
all tails and fins and bubbles".

mas também olhava pra ela, parecia menor, muito mais baixa do que Claudia, mas o esperava ali onde haviam combinado de se encontrar, como poderia ser, não era, foi então que ela se aproximou e disse, sou eu sim disfarçada de outra pessoa que você ainda não conhece, como se o ainda fosse uma barreira transponível, ainda não servia de consolo, era um despropósito, resmungou, ela encostou seu rosto no dele sentindo os poucos pelos de uma barba escassa, vamos ao cinema saiu ao pé do ouvido



River man

Why not Obama?


Eventhough Republicans and Democrats are all the same (e.g "Operation Enduring Freedom" in Afghanistan)


segunda-feira, novembro 03, 2008

sábado, novembro 01, 2008

Cidade Limpa



As invasões bárbaras

Não é preciso dizer que uma civilização que deixa insatisfeito um número tão grande de seus participantes e os impulsiona à revolta, não tem nem merece a perspectiva de uma existência duradoura”.

A bienal de São Paulo tinha um espaço vazio, até que uns vândalos, invadiram o local e colocaram stickers, depois outros vieram e picharam paredes e parapeitois. Poderiam ser considerados vândalos ou barbáros esses grupos que expressaram suas idéias num espaço aberto à exposição e celebração das artes plásticas?

Difícil discutir estética, arte ou política hoje, sem pensar nas relações de propriedade. Assim a manifestação de um grupo de jovens diante do vazio da bienal seria autenticamente o que a tradição e o academicismo já chamou de arte? Esse mesmo tipo de manifestação ocorre todos os dias de maneira subreptícia por toda cidade de São Paulo.

A arte é só aquilo que está domesticado pelos museus?

Interessante é notar que essas pichações polulam os pontos mais movimentados, estão em avenidas e ruas das ilhas financeiras, geralmente aparecem em imóveis abandonados, ou seja, prédios cercados de especulação financeira por todos os lados.

Segundo uma velha perspectiva a propriedade privada é roubo, o que seria então uma propriedade privada e improdutiva?

Porém, a perspectiva hegemônica a trata como algo sagrado,ou melhor, principio do estado de direito. Logo, sua invasão constitui crime. Assim os garotos teriam cometido um grave crime, considerado como invasão e destruição de propriedade. Embora o prédio em questão promova a arte. Embora esse mesmo lugar que celebra a arte reserve um espaço vazio com uma proposta de nos fazer refletir sobre a arte.

Acho que a arte se tornou protocolar, ou light como disse Frederick Jameson, em todos os âmbitos, inclusive no campo das artes plásticas. Sobre a citação acima, não foi Marx, tampouco Engels, não foi Bakunin, nem Lenin ou Trotsky, muito menos Che , mas Freud

O cinismo da nossa sociedade pós moderana, pós capital, pós humana, não diz que o problema é de tolerância, por que não toleram a arte desses grupos, seria porque certos pricípios seraim invioláveis mesmo perante a arte?



sexta-feira, outubro 31, 2008

mais História


A tradição dos oprimidos nos ensina. que o "estado de exceção" em que vivemos é na verdade a regra geral. BENJAMIN

quinta-feira, outubro 30, 2008

quarta-feira, outubro 29, 2008

tindersticks

Tindersticks My Sister lyrics

"Do you remember my sister?

How many mistakes did she make with those never
blinking eyes?

I couldn't work it out.

I swear she could read your mind, your
life, the depths of your soul at one glance.

Maybe she was stripping herself
away, saying
Here I am, this is me
I am yours and everything about me, everything you see...
If only you look hard enough
I never could.

Our life was a pillow-fight.We'd stand there on the quilt, our hands clenched
ready.

Her with her milky teeth, so late for her age, and a Stanley knife in
her hand. She sliced the tyres on my bike and I couldn't forgive her.

She went blind at the age of five. We'd stand at the bedroom window and she'd
get me to tell her what I saw.

I'd describe the houses opposite, the little
patch of grass next to the path, the gate with its rotten hinges forever wedged
open that Dad was always going to fix. She'd stand there quiet for a moment.

Ithought she was trying to develop the images in her own head. Then she'd say:


I can see little twinkly stars,
like Christmas tree lights in faraway windows.
Rings of brightly coloured rocks
floating around orange and mustard planets.
I can see huge tiger striped fishes
chasing tiny blue and yellow dashes,
all tails and fins and bubbles.

I'd look at the grey house opposite, and close the curtains.
She burned down the house when she was ten.

I was away camping with the scouts.
The fireman said she'd been smoking in bed - the old story, I thought.

The cat
and our mum died in the flames, so Dad took us to stay with our Aunt in the
country. He went back to London to find us a new house. We never saw him again.

On her thirteenth birthday she fell down the well in our Aunt's garden and
broke her head. She'd been drinking heavily.

On her recovery her sight
returned, a fluke of nature everyone said. That's when she said she'd never
blink again. I would tell her when she started at me, with her eyes wide and
watery, that they reminded me of the well she fell into. She liked this, it
made her laugh.

She moved in with a gym teacher when she was fifteen, all muscles he was. He
lost his job when it all came out, and couldn't get another one.

Not in that
kind of small town.

Everybody knew everyone else's business.

My sister would
hold her head high, though. She said she was in love. They were together for
five years until one day he lost his temper. He hit over the back of the neck
with his bullworker. She lost the use of the right side of her body. He got
three years and was out in fifteen months. We saw him a while later, he was
coaching a non-league football team in a Cornwall seaside town. I don't think
he recognized her.

My sister had put on a lot of weight from being in a chair
all the time. She'd get me to stick pins and stub out cigarettes in her right
hand. She'd laugh like mad because it didn't hurt. Her left hand was pretty
good though. We'd have arm wrestling matches, I'd have to use both arms and
she'd still beat me.

We buried her when she was 32. Me and my Aunt, the vicar, and the man who dug
the hole. She said she didn't want to be cremated and wanted a cheap coffin so
the worms could get to her quickly. She said she liked the idea of it, though

I
thought it was because of what happened to the cat, and our mum".

Tindersticks My Sister lyrics

quinta-feira, outubro 23, 2008

Prazer em conhecer


" Não consigo entender muito bem porque alguém deva escrever o que quer que seja. O vasto mundo se basta, não tem nenhuma necessidade de nossas palavras" SIMONE DE BEAUVOIR

"NÓS É QUE RECONTRUÍMOS AS NOSSAS LEMBRAÇAS. LEMBRAR É FUNDAMENTALMENTE RECONSTRUIR" Cleusa Rios

Em español a irregularidade do verbo sentir é a mesma do mentir, assim como a irregularidade do verbo dormir é a mesma do morir. Coincidências?

quarta-feira, outubro 22, 2008

terça-feira, outubro 21, 2008

Benjamin (ADRIANA)


"O passado traz consigo um índice misterioso, que nos impele à redenção. Pois não somos tocados por um sopro do ar que foi respirado antes? Não existem nas vozes que escutamos, ecos de vozes que emudeceram? Não têm as mulheres que cortejamos irmãs que elas não chegaram a conhecer? Se assim é, existe um encontro secreto, marcado entre as gerações precedentes e a nossa. Alguém na terra está a nossa espera. Nesse caso, como a cada geração foi nos concedida uma frágil força messiânica para qual o passado dirige um apelo. Esse apelo não pode ser rejeitado impunimente. O materialista histórico sabe disso." BENJAMIN

"leite, leitura,

letras, literatura,


tudo o que passa,


tudo o que dura


tudo o que duramente passa


tudo o que passageiramente dura

tudo, tudo, tudo,


não passa de caricatura


de você, minha amargura


de ver que viver não tem cura"

LEMINSKY

http://cariricult.blogspot.com/2007/08/blowup-leminsky.html

quinta-feira, outubro 16, 2008

Do que temos em comum


"Quem sabe a que escuridão de amor pode chegar o carinho" LISPECTOR

Somos sujeitos com capacidades de construir narrativas racionais ou de delírio e algumas vezes uma, outra, em que ambas se relacionam. Muitas vezes, por se tornarem tão orgânicas elas se tornam, outros, seres suplementares a nós mesmos como diz o narrador em À sombra das raparigas em flor

Cemetry gates

"A dreaded sunny day
So I meet you at the cemetry gates
Keats and Yeats are on your side
A dreaded sunny day

So I meet you at the cemetry gates
Keats and Yeats are on your side
While Wilde is on mine

So we go inside and we gravely read the stones

All those people, all those lives

Where are they now ?

With loves, and hates

And passions just like mine

They were born

And then they lived
And then they died
It seems so unfair
I want to cry
You say : "'Ere thrice the sun done salutation to the dawn"
And you claim these words as your own
But I've read well, and I've heard them said
A hundred times (maybe less, maybe more)

If you must write prose/poems

The words you use should be your own
Don't plagiarise or take "on loan"
'Cause there's always someone, somewhere

With a big nose, who knows

And who trips you up and laughs
When you fall Who'll trip you up and laugh
When you fall You say : "'Ere long done do does did"
Words which could only be your own
And then produce the text
From whence was ripped (Some dizzy whore, 1804)
A dreaded sunny day
So let's go where we're happy
And I meet you at the cemetry gates
Oh, Keats and Yeats are on your side

A dreaded sunny day

So let's go where we're wanted
And I meet you at the cemetry gates
Keats and Yeats are on your side

But you lose
'Cause weird lover Wilde is on mine
Sure !"

SMITHS

quarta-feira, outubro 15, 2008

SOBRE AS ESCOLHAS


"Indubitávelmente, raríssimas pessoas compreendem o caráter puramente subjetivo desse fenômeno em que consiste o amor e como é o amor uma espécie de criação de um indivíduo suplementar, distinto daquele que usa no mundo o mesmo nome, e que formamos com elementos na maioria tirados de nós mesmos. Por isso, poucos são os que podem achar naturais as proporções enormes que acaba assumindo para nós uma criatura que não é a mesma que eles vêem".

mais além

(...) "Os elos que nos unem a uma criatura se santificam quando ela se coloca no mesmo ponto de vista que nós para julgar algum de nossos defeitos".

terça-feira, outubro 14, 2008

Trecho de "O autor como produtor"


"Para maior clareza, coloco em primeiro plano a forma fotográfica dessa técnica. O que for válido para ela pode ser transposto para a forma literária. Ambas devem seu ímpeto excepcional à técnica da publicação: o rádio e a imprensa ilustrada. Pense-se no dadaísmo. A força revolucionária do dadaísmo estava em sua capacidade de submeter a arte à prova da autenticidade. Os autores compunham naturezas mortas com auxilio de bilhetes, carretéis e pontas de cigarro aos quais se associavam elementos pictórios. O conjunto era posto numa moldura. O objeto era então mostrado ao público: vejam, a moldura faz explodir o tempo; o menor fragmento da vida diária diz mais que a pintura. Do mesmo modo a impressão digital ensangüentada de um assassino, na pagina de um livro diz mais que o texto. A fotomontagem preservou muitos desses conteúdos revolucionários. Basta pensar nos trabalhos de John Heartfield, cuja técnicatransformou as capasa dos livros em instrumentos políticos. Mas acompanhemos um pouco mais longe a trajetória da fotografia. Que vemos? Ela se torna cada vez mais matizada, cada vez mais moderna, e o resultado é que ela não pode maisfotografar cortiços ou montes de lixo sem transfigurá-los. Ela não pode dizer, de uma barragem ou de uma fábrica de cabos, outra coisa senão: o mundo é belo.este é o título do conhecido livro de imagens de Renger-Patsch, que representa a fotografia da 'Nova Objetividade' em seu apogeu. Em outras palavras ela conseguiu transformar a própria miséria em objeto de fruição, ao captá-la segundo os modismos amis aperfeiçoados. Por que se uma das funções econômicas da fotografia é alimentar as massas com certos conteúdos que antes ela estava proibida de consumir – a primavera, personalidades eminentes, países estrangeiros – através de uma elaboração baseada na moda, uma das suas funções políticas é a de renovar, de dentro, o mundo como ele é – em outras palavras, segundo os critérios da moda".

BENJAMIN

segunda-feira, outubro 13, 2008

Amanhã tem marxista com formação em psicanálise


Slavoj Zizek no Sesc Vila Mariana, é amanhã, imperdível, tem um trecho do wikepedia esse é sobre um de seus "conceitos", idéias que vão contra o discurso hegemônico?

A travessia do Fantasma – Comummente julga-se que a psicanálise tem como pressuposto libertar-nos dos nossos fantasmas, permitindo-nos confrontar com a realidade tal qual ela é. Nada mais errado: Lacan pretendia, pelo contrário, dar a ver como, na nossa existência quotidiana, nos encontramos imersos na realidade, estruturada e sustentada pelo fantasma, sendo esta imersão perturbada pelos sintomas que testemunham o facto de um outro nível da nossa psique, reprimido, resistir a essa imersão. Atravessar o fantasma significa, então, paradoxalmente, identificar-se completamente com ele, isto é, com esse fantasma que estrutura o excesso que resiste à nossa plena imersão na realidade quotidiana, distinguir claramente o que é realidade do que é a nossa ficção, o nosso fantasma. Temos de conseguir distinguir, naquilo que apreendemos como ficção, o núcleo sólido do Real, que só podemos enfrentar se o ficcionarmos. Em suma, temos de distinguir como uma parte da realidade é transfuncionalizada pelo fantasma, de modo que, apesar de constituir parte da realidade, é apreendida no modo da ficção. A exposição do próprio Fantasma é um acto demasiado traumático para ser dito numa conversa. Daí que na psicanálise a figura do terapeuta tende à invisibilidade, ou então como, n’A Pianista, a professora dá a conhecer o seu Fantasma ao aluno apenas por escrito. O Fantasma exposto constitui o núcleo do seu ser, que está mais nela do que ela própria.

bom tem mais um montão de coisa interessante, inclusive sobre o que ele chama de Real, bom dar uma olhada
http://pt.wikipedia.org/wiki/Slavoj_%C5%BDi%C5%BEek

Souvenir


"a usually small and relatively inexpensive article given, kept, or purchased as a reminder of a place visited, an occasion, etc.; memento".

Todos estavam mortos. Um passarinho ou uma flor, não importa, assim como todos indo mais um dia pro trabalho, mortos. Lembrou-se de que ela também estaria morta. Aquela dorzinha na têmpora, do lado esquerdo, uma dor tão banal, havia se tornado epitáfio, sentença de morte, condenação, etc. Encarava seu reflexo no espelho do ônibus, morta sem ao menos ter vivido, amou Douglas, conheceu a Índia e o México, mas isso não contava mais.

Lembrava-se também de Ulysses, da pergunta, você acredita em Deus, agora é que ela não acreditava mesmo. Sempre quis ter um filho, se chamaria Felipe ou Frederico, e se fosse menina o parceiro escolheria. E deus não fazia nenhum sentido numa vida sem sentido algum. Um passarinho ou uma flor, mortos, sem valor algum, sem valor nenhum, etc.

Não tinha mais nenhuma vontade em continuar, nenhum desejo, gostava de conversar com Silvia, talvez seu único desejo fosse ver Silvia, sua única vontade era encontar Silvia e lhe falar da sensação do diagnóstico, quando o médico lhe disse que morria, num tom protocolar, um hálito quente e agradável, pensou em Frederico ou Felipe, não iria mais conhecê-los e chorou.

"pero ellos ni siquiera saben
que mientras ruedan en su amarga arena
hay una pausa en la obra de la nada,
el tigre es un jardín que juega".


CORTÁZAR






sexta-feira, outubro 10, 2008

Brazil


Song by Xavier Cugat

Brazil, where hearts were entertaining June,
We stood beneath an amber moon
And softly murmured "someday soon."
We kissed and clung together,
Then, tomorrow was another day
The morning found me miles away
With still a million things to say;
Now, when twilight dims the sky above
Recalling thrills of our love,
There's one thing I'm certain of
Return I will to old Brazil.

quinta-feira, outubro 09, 2008

Bleu


"Como a chuva de caju, que cai de repente no calor mais duro de novembro."

O menino olhou pra menina, você é a garota mais encantadora que já vi, a menina ficou encabulada, o menino, eu queria escrever um poema pra você, a menina achou que era um exagero, eles não se conhecem mas se divertem muito juntos, as risadas dela são engraçadíssimas, seu sorriso encanta, a menina, eu morro, o menino, eu napo

crise de superprodução (logocracia)


O grande problema dos escritores, de acordo com Benjamin, tal como dos intelectuais, é não se sentirem como membros de uma profissão, não possuem nenhum sentimento de classe, quando muito se sentem entre classes ou à margem delas. Assim como o esccritor de literatura light (cf. Jameson ou Adorno) acredita em sua autonomia e não percebe que sua escrita compactua com certos interesses, o escritor mais progressista é cerceado nos jornais, por exemplo, porque essas empresas pertencem ao capital.

O maior problema é que ao se imaginarem distintos e autonomos criam a fantasia da logocracia.

Quando Benjamin escreveu esse texto ele era dirigido aos escritores da esquerda burguesa, ou seja, os progressistas ou algo que o valha.

segunda-feira, outubro 06, 2008

as tardes cinzas


As tardes cinzas
às tardes cinzas

sexta-feira, outubro 03, 2008

Iluminuras?



Disse aos dois moleques que ali não era o lugar deles. Não deviam brincar num supermercado. Domingo, definitivamente, era dia de parque, bola, pega-pega. No entanto, sabia que os dois pediam, queriam comer, não estavam ali para brincadeiras.

Injustiça, paradoxo, chamem como queiram, o fato é que os dois homenzinhos diante de tantos produtos, tantas opções, não tinham como matar a fome. Não havia o essencial pra tirar dali qualquer coisa que os satisfizessem.

Todo mercado pressupõe troca, e os meninos não tinham o que trocar. O segurança ficou feliz em ter aprendido isso na aula de sociologia do supletivo que fazia à noite. Expulsou os meninos e os ameaçou por uma possível volta.

quarta-feira, outubro 01, 2008

LEndo (joie énivrant)


Museu e mausoléu
uma simples conhecidência fonética? Pergunta Adorno em espanhol ( verdadeira torre de babel). estou lendo um texto do Adorno chamado Museu Valéry- Proust. O autor reflete sobre visões diferentes dos autores sobre a arte no museu. o que para Valéry significa causa de luto para Proust, motivo de comtemplação.

também estou lendo Benjamin, em inglês, (heh) sobre Proust, memória involuntária e crítica ao snobbery

terça-feira, setembro 30, 2008

O Questionário

"Seminário:Preconceitos e estereótipos - Inverter a situação: questionário para heterossexuais

1. Que você pensa que causou a sua heterossexualidade?
2. Quando e como você decidiu que era heterossexual?
3. É possível que a heterossexualidade seja apenas uma fase que você possa superar?
4. É possível que a sua heterossexualidade derive de um medo neurótico em relação às pessoas do seu próprio sexo?
5. Se você nunca teve relações com uma pessoa do seu próprio sexo, não pode ser que o de que você precisa é um bom amante do seu próprio sexo?(...)
8.Por que você insiste em ostentar sua heterossexualidade? Por que você não pode ser simplesmente quem é e ficar numa boa?(...)
10. Parece haver muitos poucos heterossexuais felizes. Foram desenvolvidas técnicas que podem ajudá-lo a mudar. Você já considerou a possibilidade de fazer terapia de aversão?
11. Considerando a ameaça que constituem a fome e a superpopulação, a raça humana poderia sobreviver se todos fossem heterossexuais como você?"

Semanas depois de ter sido distribuída no jornal americano e na lista argentina, a nota não havia sido desmentida por ninguém. Mesmo que o questionário não seja verdadeiro, no entanto ele é bem sacado: afinal, vivemos fazendo perguntas semelhantes aos homossexuais, mas não nos sentimos bem quando são dirigidas a nós, heterossexuais.

por Renato Pompeu - renatopompeu@carosamigos.com.br

Mercy Tereza


Assisti o filme Nós que aqui estamos por vós esperamos. Obrigado pela dica moi belle.

"Numa guerra não se matam milhares de pessoas. Mata-se alguém que adora espaguete, outro que é gay, outro que tem uma namorada. Uma acumulação de pequenas memórias..." Christian Boltanski.

sexta-feira, setembro 26, 2008

Pq a morte é vida, de uma certa maneira. "Et la mort, c'est la vie".

Poema de Natal

"Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente".


(obrigado Tereza)

quinta-feira, setembro 25, 2008

The truth is out there (New scientist)

Hollywood cut secret deals to promote smoking

  • 14:58 25 September 2008
  • NewScientist.com news service
  • Ewen Callaway


Tobacco companies paid stars like Al Jolson, Bob Hope and Clark Gable to promote smoking as part of secret advertising deals with movie studios, according to a new analysis of cigarette endorsement contracts between 1927 and 1951.The stars made thousands of dollars peddling cigarettes to consumers. But the analysis shows that major studios and tobacco companies reaped far bigger benefits.

In exchange for star testimonials of brands such as Lucky Strike, tobacco companies promoted movies in adverts worth millions of dollars, the documents show.

"The link between Hollywood and tobacco go back to the beginning of talking pictures,” says Stanton Glantz, director of the Center for Tobacco Control Research and Education at the University of California, San Francisco. "It was a way to thoroughly embed tobacco use in the social fabric."

Glantz and colleague Kristin Lum mined 246 documents, including cigarette endorsement contracts (made public as part of the tobacco industry legal settlement with state governments), contemporary news reports, and a collection of cigarette advertisements collected by Robert Jackler, a neurosurgeon at Stanford University.

"I was surprised that the amount of scholarship around [the advertisements] was very little," says Glantz.

'Sweet and soothing'

According to the documents, Hollywood and tobacco companies began their relationship in 1927, when an advertising firm brokered deals between two of its clients: American Tobacco and RCA. Other studios, including Paramount, MGM and Columbia, soon followed.

Between 1927 and 1951, major studios and tobacco companies partnered on at least 215 cigarette advertising campaigns, Glantz's team found.

Stars contract-bound to a single studio touted the benefits of brands like Lucky Strike and Camel in advertising agency written testimonials. "Folks, let me tell you, the good old flavour of Luckies is as sweet and soothing as the best 'Mammy' song ever written,” said Jazz Singer star Al Jolson in one such endorsement.

In exchange for the praise, Hollywood studios received free advertising for their movies.

For example, cigarette ads would mention specific movies and endorsements would be tied to their release dates. In some cases, tobacco companies sponsored radio programs featuring their pocketed Hollywood stars. American Tobacco, maker of Lucky Strikes, spent $2.3 million producing The Jack Benny Program.

The US Federal Trade Commission attempted to clamp down on the relationship beginning in 1929 on the grounds that advertiser-written endorsements misled consumers, but studios easily circumvented these rules through lobbying and carefully worded disclaimers.

Restricted access

Television, not government regulation, ended the formal relationship between studios and tobacco companies. More recently, product placements in movies have replaced overt Hollywood tobacco advertising, Jackler says.

Glantz has called on studios and the Motion Picture Association of America, which rates films, to remove smoking from youth films and restrict access to films with smoking. He estimates that such restrictions would cut youth smoking by 60% and keep cigarettes out of the hands of 200,000 youths each year.

The commercial relationship between tobacco companies and Hollywood undercuts objections to such limitations, he says.

"One of the excuses that comes out of the studios and Motion Picture Association [of America] and a lot of individuals who make movies, is smoking in the movies is an integral part of the art form itself," he says. "What this shows is that that’s not true."

Journal reference: Tobacco Control (DOI: 10.1136/tc.2008.025445)

Los amantes (Julio Cortázar - Narraciones y poemas)


LOS AMANTES

"¿Quién los ve andar por la ciudad
si están todos ciegos?
Ellos se toman de la mano: algo habla
entre sus dedos,
lenguas dulces

lamen la húmeda palma, corren por las falanges,
y arriba está la noche llena de ojos.

Son los amantes, su isla flota a la deriva
hacia muertes de césped, hacia puertos
que se abren entre sábanas.
Todo se desordena a través de ellos,
toda encuentra su cifra escamoteada;
pero ellos ni siquiera saben
que mientras ruedan en su amarga arena
hay una pausa en la obra de la nada,
el tigre es un jardín que juega.

Amanece en los carros de basura,
empiezan a salir los ciegos,
el ministerio abre sus puertas.
Los amantes rendidos se miran y se tocan
una vez más antes de oler el día.

Ya están vestidos, ya se van por la calle.
Y es sólo entonces
cuando están muertos, cuando están vestidos,
que la ciudad los recupera hipócrita
y les impone los deberes cotidianos."
--------------------------------------------------

CORTÁZAR

quarta-feira, setembro 24, 2008

Torpe ( la vie est très jolie)


"-Por que você inventa essa história de de tolice, boba, boba?
-Porque depois pode ficar bonito, uê?"

La vie est belle

Uma corrente de prata abandonada no último degrau da escada. Será um objeto de furto ou descaso. Apanhá-la é ilícito.

O dedo mínimo, delgado e sinuoso do bibliotecário que aponta pro lado. ALgo congênito ou resultado de um esforço desmesurado em destacar-se.

Um bilhete deixado em seu armário. Sorte ou azar. Nele o nome e o telefone da pessoa que lhe espera o tempo que for necessário.

Professora mais cool da escola interpela: você é o Fernando. Será que você é o Fernando e não sabia ou ela só queria puxar papo.

A professora e aluna mais linda da escola lhe diz: tenho frio - e continuava a sentir frio. Porque você não a abraça. Também diz que é legal conversar com você e você diz o mesmo porque recíproco.

Et la mort c'est la mort

segunda-feira, setembro 22, 2008

Les Chansons d'amour


Esse filme fica cada vez mais bonito. Só não gosta quem é amargo. Ma belle me disse que o filme é lírico. (Lírico é passear com vc de mão dada)

sexta-feira, setembro 19, 2008

Vermelinha (para Dani com carinho)


A Daniela me disse umas coisas que mexem ou mexeram -para não ficar enfático demais - com meus miolos. Nos conhecemos há mais de 4 anos? Embora nunca nos conhecemos, como quase todo mundo. Ela sempre descobre algo sobre mim. Ela literalmente descobre coisas que nem eu mesmo sabia sobre a minha pessoa, meu intrínsico eu. heh. Embora, eu também descubra muito sobre ela que, contudo, talvez não tenha o mesmo efeito.

Ontem, conversávamos sobre a educação e a psicologia. Conversa vai, conversa vem, enfim asim, enfim assado. Relacionei tudo o que ela me falou com o texto do Horkerheimer e do Adorno, pois não tenho a mesma experiência que ela em ambos os campos. O texto trata de uma crítica a ciência e da defesa do materialismo histórico e da dialética, o nome do dito cujo é Dialética do esclarecimento ou Conceito de Iluminismo.

Bom, as pessoas dizem ( inclusive os especialistas) que Adorno é pessimista. Outros mais especialistas falam que a alcunha, o rótulo ou a ofensa é devido a dialética negativa que permeia a maioria dos seus textos. Pensei em escrever aqui pra deixar anotado que se tivesse de ser um especialista e criticar a Dani diria que ela é either pessimistic or she applies the negative dialetics.
É isso Dani e obrigado por me fazer pensar.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Para pensar sobre Cidade das letras


E para pensar sobre um romance
Esses dias acordei com a idéia de escrever uma ficção (romance) sobre Adorno que ainda não passou
Algo meio megalomaníaco do tipo O Dia em que Nietszche chorou
dei muita risada assim que acordei do sonho
É tão gostoso acordar com a própria gargalhada

"Desde que a linguagem entra na história, seus seus mestres são sacerdotes e feticeiros".
T.W. ADORNO e HORKHEIMER
"É a percepção imediata criativa, mais do que qualquer outra coisa, aquilo que faz o indivíduo sentir que a vida vale a pena ser vivida"
D.W. WINNICOTT in "Playing and reality"

Sobre o Rama (Cidade das letras) só dúvidas, a saber, a aculturação e a transculturação são duas das categorias sobre as quais ele mais constrói seus argumentos; como os estudos subalternos encaram esses conceitos?

sexta-feira, setembro 12, 2008

Maria Lúcia


Noite de show, andar pela Augusta sem compromisso. Hoje a noite ela era cliente. Desce a rua que ainda não está cheia, nas calçadas os caras das casas de show convidam aqueles que passam a entrar e tomar uma cervejinha. Ela acha engraçado embora ouça isso quase toda a noite.

Os seguranças do Estúdio são simpáticos. Entra, pede uma cerveja e um energético. A casa começa encher, são todos um pouco mais novos do que ela. Puxa conversa com os técnicos de som pra não se sentir observada. Numa conversa legitima, quer saber se Bill é cool ou um asshole, oferece a um dos rapazes aulas de inglês o outro lhe parece familiar, ela acha que o cara ja´passou pela mão dela. Conversam sobre bandas, música e livros.

A banda que abre o show é horrível tipo wanna be Bob Dylan. Mais cerveja pra suportar o som e a espera. Depois de mais ou menos quarenta minutos entra o Smog. Bill é alto, tem barriguinha e cabelos grisalhos, o batera é baixinho perto dele e faz o tipo latino. Ela acha o Bill meio parecido com Richard Gere e solta uma risada.

We are constantly on trial
It's a way to be free

Smog bem Smog, começa com a estranhíssima River guard e ela fica pensando na profundidade ou nonsense do refrão. Bill e seus melancólicos acordes é acompnhado por um baterista que chega entusiasmar a platéia, "very good drummer", e o rapaz acena em agradecimento. Mais Smog, mais cerveja, uma ida ao banheiro e bang: Blood flow, Bathysphere; entre as músicas ele não fala nada só agradece, bem burocrático ou tímido? Ela curtiu.

Na saída já é tarde, Maria Lúcia está satisfeita, mas é tarde. Sobe Augusta meio apressada. Os caras ainda oferecem cerveja. Entra numa travessa, na cabeça:

Happens on a side street maybe
Lion bites zebra neck

Uns playboys num accord mexem com ela. Ela mostra o dedo, eles tacam alguma coisa nela, descem do carro, chutando, xingando, batendo, mordendo, moendo. A ambulância chegou depois de uma hora que o lixeiro passou.

quinta-feira, setembro 11, 2008

Smog


Num bar na Augusta, Maria Lucia assistia o balcão, os presuntos, as fatias de queijo, os bifes e as lingüiças. Não estava com fome, só não tinha mesmo pra onde olhar. Pra matar o tempo lia os nomes das cachaças nas prateleiras, mas já sabia uma fileira inteira de cor, Santo Grau, Àgua da Bica, Ouro de Minas, Chico Mineiro, etc. Não trazia livros pro bar pra não chamar atenção dos estudantes que geralmente não tinham grana. Pra matar o tempo, às vezes, fazia origamis com guarda-napos, mexia no maço de cigarros, às vezes passava minutos contemplando o esmalte das unhas. Fazia o esquenta sempre no mesmo bar, se entupia de cafeína, coca, energético, café, não necessariamente na mesma ordem, entre as goladas havia uma pausa pra nicotina.

Não tinha interesse nenhum em fitar as pessoas nos olhos. Mais tarde, os mesmos que a olhavam seriam aqueles escrotos que pedem desconto depois de uma foda. Era assim sempre, não importava se ela fosse feia ou bonita, agradasse ou não, sempre choravam no preço.

A maior parte do tempo pensava no filho a outra parte gastava com literatura e música.
Happens on a side street, maybe
Happens on a main street, maybe

Lion bites zebra neck

Zebra stomps lion head

It's justice
Justice aversion
In a proper way, 'cause I don't today
And root for the underdog
No matter who they are

At the bank robber in the getaway car

It's justice Justice aversion
In a proper way, 'cause I don't today

I could stay up all night talking
About animal nature
And universe hesitant

And the grand ??

It happened on a side street, maybe

It happened on a main street, maybe

It's justice
Justice aversion
And root for the underdog

No matter who they are

At the bank robber in the getaway car


Ontem tirou a noite de folga pra ir assistir o show do Smog. Alí mesmo na Augusta, no Estúdio S.P. Deixou o filho na casa de uns amigos. Umas bichas, um casal, ela achava que elas eram bem intruídas, costumava deixar, na emergência, o filho com elas porque era uma boa influência. Gostava muito do Bill, não podia perder o concerto, era uma causa justa; tinha até aprendido inglês por causa das músicas do cara, lia por causa do cara.

De todas as canções gostava mais de Devotion, parecia que ele cantava e tinha escrito pra ela.

There are some terrible gossips in this town
There are some terrible gossips in this town
With jaws like vices
And eyes like drains

There are some little weasels in this town
Scampering around loose
With yellow teeth
And the beady eyes

We should set a standard amount of words
That I am to say to these
We should set a standard type of look
That you are to give to me
When you wanna leave

There are some terrible gossips in this town
With jaws like vices
And eyes like drains

I won't tell what they say about you
I won't flourish the shit
You are my dearest friend
And I will protect you
Until the end

With a will like vices
Complete as a drain




quarta-feira, setembro 10, 2008

Um romance que começa



Merina começou a ler aquela história num blog de um de seus conhecidos. A princípio o tal do Romance era curioso, depois, bacana, e ao mesmo tempo estranho, preocupante. Pensou em entregar o narrador e Ullysses às autoridades. Achou que seria melhor falar com o seu psicanilista primeiro, às vezes ela confiava em especialistas, era uma personagem complexa, digna de ficção, não era plana (cf. Candido, "A personagem de ficção"). Depois, resolveu ler o Romance de novo e achou o máximo. Tinha um narrador que a admirava e uma personagem que estava deslumbrada ou em completo estado de alumbramento por ela.

Nossa que coisa horrível vou começar de novo.

Tinha um narrador e uma personagem que a admiravam. Parecia um gostar sincero, autêntico, não podia ser literatura. Era uma declaração de amor, de carinho, pós moderna? Era apenas um pastiche literário, seria um fetiche também literário ou o narrador havia realmente fracassado?

Merina pensou em ligar pro fulano que ela acreditava ter escrito aquele relato e passar tudo a limpo. Foi então que ela mudou de idéia e resloveu convidá-lo junto com seus amigos pra ir à Liberdade, tomar um udon. Começava a fazer frio em São Paulo e Merina ao contrário de Ullysses adorava São Paulo.

Roance? V


Merina e Ullysses também queriam resistir, existir, prosseguir.

E entre um sarau, um metrô, um cinema, a amizade crescia. Ulysses começou a escrever poemas e até musicou um com ajuda de Davi.

Ullysses achava que o problema estava na Universidae. Era a universidade que dosmeticava a literatura. A faculdade de Letras, matadouro da literatura, desde muito tempo. A universidade traduzia, diluia, traía e mitigava paulatinamente até sua morte, qualquer literatura. Lá fora, ela vivia.

Ullysses tinha medo de Merina entrasse na faculdade e se desencantasse com a literatura. Acho que ele queria que ela desistisse (ou pensasse melhor) e fosse estudar antropologia, arquitetura, artes cênicas, sei lá. Gostava da idéia dos dois em campos diferentes do conhecimento, ou no mínimo, praticando diferentes formulações discursivas. Ele acreditava que por ela ser mais inteligente que ele não devia desperdiçar seu tempo matando a literatura, matando a poesia.

(Depois, Ullysses achou que daquela forma parecia uma espécie de pai autoritário para Merina - espelhava seus desejos nela? Pensou que seu pai era bom e decidiu que o melhor era ser sua mãe e respeitar sua escolha.)


Depois o narrador decidiu que o parágrafo acima era muito ruim, não era literatura mas era sincero, então resolveu deixar ele todo entre parênteses ecolocar um ponto final naquela história.

Romance? IV


Merina havia lido as seguintes notas num livro no qual seu autor favorito escrevera antes de presenteá-lo. ( literatura era subversão da linguagem, feita de elipses, outra gramática?)

"Os velhos são perigosos: completamente indiferentes ao futuro. Entardeceres da vida, esses entardeceres da vida! A maior parte na pobreza, com tosse, encurvados, toxicômanos, bêbados, alguns até criminosos, quase todos não casados, quase todos sem filhos, quase todos no hospício, quase todos cegos, quase todos imitadores ou farsantes."

Taí, literatura servia pra alertar, recomendar, sugerir, ou melhor ainda, nota de rodapé ou crítica feita por autores escritores servia para isso, mas que fique bem claro, somente aquilo que fosse produzido por autores metido a críticos. A literatura, essa convenção histórica ou historicizada, talvez não servisse para nada, tampouco pudesse fazer alguma coisa.

Para o narrador, a literaturatal, tal qual a filosofia, seria apenas um instrumento discursivo, uma formulação discursiva que opera de maneira espectral pois está subssumida numa era neo-liberal. Com algumas dúvidas, algumas questões e meus problemas, tento resistir ao hedonismo e a essa filosofia do egoísmo utilitarista, pelos quais todos, inclusive eu e minhas personagens, estamos contaminados.

Talvez meu papel fosse defender a literatura, como sugeri uma vez em sala de aula; talvez não houvesse papel nenhum pra mim nessa história, porque afinal alguns dizem que a literatura verdaeira é sinônimo de resistência.

(em memória de Gabriel que deixa um grande vazio em nós e em sua mãe que sente sua falta)

Intervalo (O que pode a literatura?)

Numa noite na qual dormi mais cedo, acordei literalmente no meio dela com a seguinte pergunta: é possível entender ou tentar compreender uma sociedade por meio de sua literatura (ou o que se reconhece como tal), se esta a princípio fosse ilusão de falsidade? - ou seria ilusão de realidade tal como antigamente.

*"Essa ilusão de falsidade é a própria literatura" RENZI

"Na transcendência estética reflete-se o desencantamento do mundo" ADORNO

E se a literatura fosse apenas uma memória falsa de experiências artificiais pois está inserida na sociedade de controle.

*citado em "Formas breves" (pag. 25 cap. "Notas sobre Macedônio")

segunda-feira, setembro 08, 2008

Romance III



Tinham um vazio em comum, mas todos tinham uma espécie de vazio naquela cidade imensa. Isso não os fazia especiais, as personagens não eram especiais, nem melhores nem piores do que ninguém. Então o que os faria personagens de ficção? A história secreta? Assim não tinha condições de continuar. Não havia cena, nem eventos e a narrativa se tornava uma meta-narrativa, ninguém se interessaria por aquela história.


Foi aí que eu decidi começar:


A cidade de São Paulo não tinha nada de especial, nem o charme de Buenos Aires, Nova Iorque ou San Tiago, tampouco a melancolia de Pirajuí numa tarde vazia, pensou Ullysses, mas não quis falar. Podia ser a capital do cassino financeiro, não dava a miníma pra cidade. Sentia-se estúpido bem no meio da enunciação, pois não sabia o que fazer ao lado de Merina, continuou calado. O filme ia começar, era a primeira vez que estavam juntos e estavam a sós. Merina achava que a amiga voltaria logo e ela não assistiria o filme com aquele cara, um estranho até então.

Estranho não porque era esquisito ou enfiava o dedo no nariz, não, talvez enfiasse mas não era o caso. Estranho porque era muito mais velho que ela, Merina tinha 17 e Ullysses 58, além disso tinham sido apresentados a minutos atrás, mal sabiam se se conheceriam. Resolveu quebrar o gelo e conversou com Ullysses sobre cinema, aspirinas e urubus.

Merina sempre linda, aquela noite de jeans e camiseta branca e tênis surrado, seus olhos refletiam os créditos, os caracteres, as personagens. A sorte de ambos é que o filme era ruim. Conversaram, sussurraram e beberam histórias de existir nesse mundo, eventos tristes, uns nem tanto, outros um tanto alegres. Ah, Ulysses até que era bonitinho pra idade, não é, tinha 58 mas parecia 49..
Merina achava que éramos todos criaturas da poeira cósmica, formados de vazios também, todos iguais em essência, criaturas do vento. Ullysses admirava seus cachinhos e não entendia o que ela contava. No fim, Lola apareceu, já era manhã e os dias não eram mais os mesmos.

Depois daquela noite queria revê-la, conversar mais, sentir seus olhos nos dele. Queria se aproximar mais de Merina, tornar-se algo do qual Merina sentisse falta, um amigo, mas não sabia como; se sentia ridículo e abandonado ao silêncio, não tinha idade pra se aproximar de uma garota tão nova, se sentia uma espécie de pedófilo, um molestador ou algo que o valha. Merina não tinha as mesmas nóias, gostava da presença de Ullysses e só. Sentia-se admirada por aquele velho, mas não chegava a cogitar nada além disso. Até ela começar a ler esta história.

Não havia nada a decifrar até aqui, nem alusões, nem subentendidos, e Ullysses começou a gostar de Merina, sem saber o porquê, sem nem mesmo saber que gostava.

Certo dia, Babí convida Ullysses para um sarau. Babí tal como Ulysses e Merina estava dividida entre a metafísica e o materialismo, no seu caso, tentava entender o mundo por meio ora da astrologia, ora psicanálise - gostava apaixonadamente de ambas. Inventou o Sarau pra gente se reunir em sua casa, comer, beber e discutir vida e literatura. Droga - - o que pode a literatura? trocaram e mails, blogs e Merina propôs que escrevessem um conto com o mesmo mote, acho que era algo sobre o alcool no Afeganistão ou cigarro na China. Tinha mais gente no sarau mas as trocas simbólicas ocorreram no metrô, enquanto Lola agarrava Cacá que também estava no sarau. Merina maravilhosa usava uma saia muito verde e uma blusinha floridinha, Ullysses não lembro o que ele usava, mas relia Rayeulla e pensava em la Maga. A literatura pode alguma coisa?

quarta-feira, setembro 03, 2008

Romance II ?


Ando perturbado e durmo mal, às vezes sem dormir e pensei em trocar o título para Diário de um romance (ou diário de um conto - como Cortázar). Parte da questão são os episódios que fervilham em minha mente, na hora do almoço, na biblioteca, durante as aulas, o tempo todo. Ulysses também não conseguia dormir, lia muito Arguedas em suas noites insones e dormia nas aulas. Merina estava muito anciosa em relação a seu futuro.
Achava que os dois tinham muita coisa em comum, assim como careciam de muita, também. Mas não era assim que eu queria continuar a história. Não dormia porque não sabia como terminá-la ou como continuá-la. Engraçada palavra história, polissêmica, quero dizer, tanto pode ser fato quanto ficção, isto é, pode se referir aos fatos ou ao relato deles - enfim uma discussão para ficções teóricas.
Por falar em fatos, eles tinham tudo em comum, por exemplos, preocupavam-se com a fome e o desperdício de alimentos, gostavam de contar e encantar histórias, inquietavam-se com o problema da não demarcação contínua das terras da reserva Raposa do Sol, gostavam de Chico e Bandeira, perturbavam-se com o enxofre no disel, a qualidade da gasolina, o número de carro nas ruas, o transporte público e o crescimento da indústria automobilística no país, também queriam uma educação de qualidade e para todos.
Tinham dúvidas iguais à respeito de muita coisa, por exemplo a equação: mais igualdade equivale a menos liberdade e mais liberdade a mais propriedade, por tanto, mais propriedade equivaleira a menos igualdade? Isso para eles não era muito claro, parecia um falso axioma, não era dialético, era lógica e os dois não gostavam de lógica.

Do que faltava em comum era um outro capítulo, a saber, eles não tinham mãe. Ela sofria uma ausência desde sempre, Margarete era um relato, um não ser sendo. Merina sofria e às vezes escrevia sobre. Ulysses teve Margarida mas não soube amá-la, doía. Ele queria cuidar de Merina como mãe, ela tinha um carinho maternal por Ulysses. Era carinho de mãe, sem restricões, não se sabia, eu não sabia mas era forte, autêntico. Achava que se eu soubesse recontar a história dos dois sozinhos eles ficariam juntos, como que de certa forma eu tivesse poder sobre minhas personagens, sobre a realidade, como o louco que tinha uma maquete de Buenos Aires e jurava controlar os acontecimentos da cidade.
O esdrúxulo do cidadão me fez lembrar que literatura também era esdrúxula, ou como preferem os latinos, estrambótica (parece muito mais latino, o adjetivo). Por que, fique claro, ninguém nessa história iria se suicidar como Arguedas, nem morrer, a não ser de morte natural. No entanto, a própria literatura não questionava o egoísmo do gesto do peruano. Para mim, tanto quanto para Merina e Ulysses isso também era estranho e os fazia desconfiar também da literatura e dos especialistas.